A história de Cristo é a obra literária humana mais épica. Muito se discute se a Bíblia é ou não um bom livro de regras (não é) e como deveríamos seguir seus direcionamentos (não devemos). Pouco se fala, no entanto, do seu poder narrativo.
Se humanizada, a trajetória de Cristo é uma linda e poderosa história sobre um pai e seus filhos. Permitam-me explicar. Por razões de lógica literária, usarei o antigo nome de Deus – Yhwh. Trata-se de uma palavra impronunciável, mas há uma técnica para pronunciá-la. Basta inspirar e expirar, simbolizando que Deus é um respiro; o nosso respiro. Ou seja, ele está entre nós. Muito poético e simbólico, mas talvez só por hoje seja melhor usar uma versão levemente mais atualizada dessa palavra para que possamos lê-la: Javé.
É dito em Gênesis que Javé criou o universo em sete dias. Olhando para o universo, é fácil chegar à conclusão de que mesmo tendo esse poder ilimitado, esses sete dias são simbólicos. Não por falta de poderes, mas por gostar do que está fazendo. Nesse momento, somos apresentados ao protagonista da história e o vemos como um artesão apaixonado. Ele criou a luz. Em seguida, os átomos. Daí, juntou-os e fez partículas, matéria, antimatéria e, então, estrelas, gases, nebulosas e galáxias. Só uma alma apaixonada por sua profissão e extremamente curiosa conseguiria criar tamanhos conjuntos de regras para que tais obras de arte vagamente etéreas pudessem se sustentar.
Se você não consegue entender o que estou falando, pode pausar a leitura; não irei me aborrecer. Aproveite para ver as lindas imagens de constelações que nossos telescópios capturaram e me diga se Javé não é um artista. Ainda assim, Javé não criou tudo isso para permanecer vazio. Ignoremos a Teoria de Fermi (1) e a matemática apenas para esta leitura e digamos que Javé criou só a nós, só por hoje, só para esta história. Todo bom artista cria sua arte para mostrá-la e compartilhá-la. Javé criou a vida – peixes, tubarões, camarões, polvos, dinossauros, leões, vegetações, biomas... – e poderia continuar para sempre.
Criou, então, a nós e nos deu sua maior dádiva: fez-nos à sua imagem e semelhança, isto é, nos deu paixão, curiosidade e a capacidade para amar e pensar. Javé ficou feliz e mostrou o mundo e suas maravilhas para duas crianças. Ele as proveu com tudo que havia de melhor e ensinou tudo que suas cabecinhas conseguiam absorver. Chega, todavia, o momento que todo genitor mais agoniza, que é quando a criança ganha consciência, vergonha e, por conseguinte, cresce. Adão não deu a maçã para Eva; ela se entregou a ele em amor.
Por hoje, preciso deixar vocês, mas não temam, logo mais retornarei com a continuação do nosso épico. Até lá, meus queridos leitores.
(1) “O paradoxo de Fermi, assim nomeado em homenagem ao físico italiano Enrico Fermi, é uma contradição relacionada à nossa total falta de informações sobre a existência de civilizações extraterrestres face a um número infinitamente grande de estrelas e planetas possivelmente capazes de abrigar vidas inteligentes.” (Fonte: www.brasilescola.uol.com.br)
Por Alan Freitas
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