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  • Laura Gabriela

A Música pode ser perigosa




Saudações aos que acreditam que a música é perigosa!

Vou falar sobre o fenômeno recente envolvendo a música Evangelho de Fariseus, composta e interpretada por Aymeê, uma cantora e compositora gospel que vive na Ilha de Marajó, no Pará. A música faz um alerta sobre casos de exploração sexual de crianças na região, e critica a hipocrisia e ostentação de alguns religiosos. A música viralizou após a apresentação dela no programa Dom Reality, no YouTube, e foi compartilhada por famosos e políticos.

No entanto, a música também gerou polêmica e controvérsia, pois foi usada para propagar fake news sobre a situação das crianças em Marajó. Algumas informações divulgadas são falsas ou distorcidas, como as da ex-ministra Damares Alves durante um culto evangélico em outubro de 2022. O governo federal, o Ministério Público e o Ministério dos Direitos Humanos já desmentiram as fake news e afirmaram que o problema de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes existe, mas que ações efetivas já vêm sendo realizadas na região para combater e minimizar seus impactos.

Eu sei que a pauta parece estar fria, mas acredito que devemos ter muita cautela e cabeça fria para tratar de um assunto tão sério.

Sério e urgente, que precisa ser debatido e combatido por todos nós. Mas também é um assunto que pode ser usado de forma manipuladora e oportunista por alguns grupos políticos, que querem se aproveitar da comoção e da indignação das pessoas para impor suas agendas e interesses. Por isso, eu vejo como algo muito importante ter senso crítico, principalmente quando se é artista e criador de conteúdo para o público. A arte tem um papel fundamental na sociedade, mas também tem uma responsabilidade social. A arte pode ser uma forma de denúncia, de conscientização, de educação, de transformação. Mas também pode ser uma forma de alienação, de desinformação, de reprodução e de conservação de valores que perpetuam a opressão. Como podemos saber qual é o papel da arte que consumimos e produzimos? Como podemos evitar que a arte seja usada como instrumento de dominação e opressão? De que maneira podemos fazer da arte uma ferramenta de libertação e emancipação? Acredito que seja necessária muita reflexão.

A exploração sexual de meninas em Tapajós é uma prática histórica e estrutural, que tem origem na colonização e na escravidão, e que se mantém até hoje por meio da violência, da pobreza, da desigualdade, da impunidade e da invisibilidade. É uma forma de opressão de gênero, de classe e de raça, que afeta principalmente as meninas negras e indígenas, que vivem em situação de vulnerabilidade social. É uma violação dos direitos humanos, que causa danos físicos, psicológicos e emocionais às vítimas,, que compromete o seu desenvolvimento e o seu futuro. A denúncia da exploração sexual de meninas em Tapajós é uma forma de resistência e de luta, que tem origem na mobilização e na organização das próprias vítimas, das suas famílias, das suas comunidades, e de diversos movimentos sociais, que atuam em defesa dos direitos das mulheres, das crianças e dos adolescentes, e dos povos tradicionais. É uma forma de expressão e de comunicação, que usa a arte, a música, pela internet e outros meios, para chamar a atenção da sociedade e das autoridades para essa realidade, e para exigir medidas efetivas de prevenção, de proteção, de atendimento, de responsabilização e de reparação. É uma forma de conscientização e de educação, que busca sensibilizar e informar as pessoas sobre as causas, as consequências e as soluções para esse problema, que busca promover uma cultura de respeito, de solidariedade e de justiça.

A superação da exploração sexual de meninas em Tapajós depende da articulação e da ação conjunta de todos os setores da sociedade, que reconhecem a gravidade e a urgência dessa questão, e que se comprometem com a defesa e a garantia dos direitos das crianças, e com a construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária, mais democrática e mais humana. É uma necessidade histórica e social, que implica em uma mudança radical nas estruturas econômicas, políticas, culturais e ideológicas, que sustentam e reproduzem a exploração sexual de meninas em Tapajós, e em outras partes do Brasil e do mundo. É também uma esperança coletiva e individual, que se baseia na força, na coragem, na criatividade e na dignidade das meninas, as quais são as protagonistas e as agentes dessa transformação.

Eu acredito que a arte é uma forma de intervenção social, que pode gerar reflexão, debate, mobilização e ação. Mas eu também acredito que a arte não é neutra, e que ela pode ser usada para fins diversos, nem sempre positivos. Por isso, eu penso que é muito importante ter uma postura crítica, tanto como artista, quanto como consumidor de arte. A arte pode ser uma aliada ou uma inimiga da transformação social. Cabe a nós escolher em qual lado queremos estar.

 

Por Laura Gabriela

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