Capítulo 1 - A Segunda Guerra Mundial
Bem-vindo de volta, camarada leitor ou leitora. Obrigado por ler meus textos e desculpa por minhas demoras. O assunto de hoje é denso e controverso, pois irei pegar o que você já sabe sobre a Segunda Guerra e entregar mais dados.
Deixei vocês no começo da Primeira Guerra Mundial, mas não a abordarei de forma exclusiva hoje por duas razões: primeiro porque eu já expliquei o que levou a ela, segundo porque a Segunda Guerra ainda possui impactos bem maiores em nossas vidas.
A Primeira Guerra Mundial foi a culminação de países agindo como empresas tentando se engolir, motorizados e motorizando sua população com pensamentos antigos de nacionalismo. Mas o que esse embate acabou por gerar foi uma evolução desse pensamento.
A verdadeira importância da Primeira Guerra não foram as mortes nem as tragédias que dela foram geradas, por mais que me doa o coração dizer isso exatamente porque essas são consequências morais, são pautas morais, sujeitas ao sequestro do lado mais oportunista e torcíveis até o ponto do desconhecimento, gerando não apenas desinformação, mas negacionismo.
A verdadeira importância da Primeira guerra foram os seus resultados materiais, o que de fato foi modificado por causa dela. Pra começo de conversa, o surgimento da União Soviética, o primeiro país forte o bastante para quebrar seus grilhões e a ter coragem de enfrentar seus chefes. Hoje em dia, ela é demonizada, mas por quem, exatamente? Já na época em que ela surgiu, os patrões do mundo entraram em desespero da mesma forma que o monarcas o fizeram na Revolução Francesa. A Revolução Russa foi um grito ao mundo ecoando na história junto dos camaradas franceses que lutaram pelo fim da monarquia antes deles.
Mas houve algo escondido, subjugado, nascido das cinzas perdedoras da guerra. Paulo Freire veio a nos avisar sobre esse grande perigo, sobre como ele nasce, como ele cresce: “Sem uma educação libertadora, o sonho do oprimido é o de se tornar o opressor”.
Nos anos de hiato, que eu gosto de chamar de “Entreguerras”, temos um palco de comparação. Da mesma forma como os bonobos e os chimpanzés foram separados por uma montanha há poucos milênios, a Entente e a União Soviética compartilham do mesmo cerne: a opressão.
De um lado, temos um povo farto de sua opressão, que se juntou para lutar literalmente por suas vidas, para conquistar o pão à mesa, que lutou não por um ideal nem por um moralismo falso, mas pelo direito à vida. Do outro, temos um povo humilhado, um povo que ousou voar mais do que as asas permitiram, que tentou subjugar a todos, mas que agora é o subjugado. Um povo com rancor e sede de retaliação.
O que divide ambos é o motivo de suas ações.
De um lado, temos um povo que não apenas se libertou da opressão, mas que precisou batalhar para manter a liberdade e passou a ajudar a todos que necessitaram e se inspiraram em suas ações. Do outro, temos um povo que maquinou no escuro à sua volta para se tornar o amo-mestre do mundo. Um queria paz e liberdade; o outro queria ser o escolhido.
Eu preciso dar muita ênfase nessa comparação, pois meus camaradas leitores, aqui começa meu primeiro twist: nós ainda estamos na Segunda Guerra Mundial; ela nunca terminou.
Quando a Itália e a Alemanha elegeram seus líderes, um novo pensamento surgiu com ele, e este pensamento foi estudado com grande curiosidade pelo resto mundo: o nacionalismo chauvinista.
Acharam mesmo que eu fosse falar sobre o nacional-socialismo? Não há como, pois o nacionalismo chauvinista foi o verdadeiro achado, o diamante infernal do qual surgiram a opressão, a humilhação e miséria que pressionaram a Itália e a Alemanha. Ainda assim, no entanto, falar dessa forma é romantizar o passado, e a última coisa que devemos fazer é romantizar tiranos.
Comecemos com uma explicação: nacional-chauvinismo é a crença de que o país a que pertences é o melhor país do mundo. Mas não apenas isso, é a crença de que só o teu país presta, tudo que vier de fora é uma abominação e que, portanto, não é teu dever se espalhar, mas uma dádiva dada pelos céus de que o resto do mundo é teu para fazer o que dele quiseres. Se essas palavras soam familiares, fico feliz que as tenha reconhecido, elas estão na Bíblia quando Deus deu o paraíso a Adão, mas também foram usadas para colonizar a América, a África e a Ásia.
Algo estranho acontece, todavia, quando o nacional-chauvinismo se mistura com fascismo. Você ganha ajuda financeira.
O fascismo foi, é e sempre será o botão de escape do capitalismo. Hoje há uma valiosa razão pela qual toda a culpa pelo que houve na Segunda Guerra Mundial é depositada nas costas de três pessoas. A razão é que quem os ajudou a subir ao poder quer livrar seu rabo da reta e parecer bonito nos anais da história, pois ela é escrita pelos vencedores.
Vocês irão encontrar que Hitler e Mussolini tiveram amplo e pleno apoio dos respectivos governos para atuarem e se elegerem. Vocês notarão que, misteriosamente, subiram ao poder em livros de história atuais, mas quando lerem artigos científicos, perceberão que eles não apenas criaram os problemas que prometiam resolver, como tiveram ajuda aristocrática.
Mussolini sequer estava em Roma quando os fascistas a invadiram, e Hitler acusou os comunistas de queimar o prédio deles, sendo que os próprios nazistas o fizeram.
Mais escuso que isso, porém, está o apoio internacional que eles receberam, juntamente com cartas elogiosas, demonstrando como esses dois grandes líderes estavam trazendo suas nações novamente à glória. Cartas elogiosas de Getúlio Vargas, de presidentes estadunidenses, da coroa Inglesa, da França e da ditadura espanhola.
Ainda mais escondidas que isso estão as empresas, as indústrias que gostavam do discurso libertário que esses dois povos possuíam. Verdade seja dita, o neoliberalismo surgiu nos anos 1970 de forma oficial. Mas sejamos francos, esse discurso é velho, e o fascismo apenas deu uma cor de glória para ele.
Esse discurso foi identificado por Karl Marx, dando-lhe o nome de ideologia burguesa. Ele serve para fazer com que quem nele acredita está trabalhando pelo próprio progresso, de que está livre e tudo depende dele, de um discurso individualista que promove o egoísmo como uma virtude.
Quando a verdade é que não passa de uma lorota banal que serve para que o trabalhador se mate de trabalhar. Mas o que o fascismo e o nazismo fizeram foi o primórdio disso. Tudo pertence ao estado, o trabalhador pertence ao estado. Se isso parece familiar, é porque é. Essa é uma versão distorcida do discurso comunista: tudo pertence ao estado, sim, quando o estado é formado por trabalhadores, quer dizer que tudo pertence aos trabalhadores e os trabalhadores são donos de suas próprias vidas e decisões.
Quando o nazi-fascismo surge, distorce exatamente essa parte fundamental. Ele esconde as classes sociais mentindo dizendo que acabou com elas. Na verdade, ele acaba com direitos trabalhistas e criminaliza sindicatos, que lutam por tais direitos. Com isso, cria um terreno fértil para investidores.
Sim, agora finalmente chegamos ao cerne e motivo deste texto: o nazi-fascismo só foi verdadeiramente poderoso porque foi construído para agradar aos capitalistas. O nazi-fascismo foi meramente uma nova Revolução Industrial, um novo cercar de terras, uma nova tentativa da classe dominante de nos escravizar.
Conclusão: a Segunda Guerra Mundial nada mais foi do que a luta entre a União Soviética tendo de lidar com o experimento científico mais malévolo já criado, enquanto seus criadores tentavam controlar essa besta raivosa.
Mais uma vez, a classe dominante criou algo que foi um dever do povo acabar.
Engana-se aquele que acredita que a guerra acabou. Ela só trocou de protagonistas, mas este é o tema para o próximo texto.
Muito obrigado por lerem e me acompanharem até aqui.
Até a próxima!
Alan Falciani
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