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  • Marcelo Teixeira

As muitas camadas do caso Marielle Franco


Por Marcelo Teixeira


Quem mandou matar Marielle Franco e por quê? Essa pergunta ecoa pelo país desde o fatídico 14 de março de 2018, quando Marielle, vereadora pelo Rio de Janeiro (RJ), foi morta com uma saraivada de tiros junto com seu motorista, Anderson Gomes. Marielle havia acabado de participar de um evento no bairro da Lapa, na Zona Central da cidade. Perdeu a vida na Rua Joaquim Palhares, no Estácio, bairro situado na mesma região. O carro dos assassinos emparelhou com o dela, e os tiros foram desferidos, ferindo mortalmente Anderson nas costas e Marielle na cabeça. Uma assessora da vereadora também estava no veículo, mas foi apenas atingida por estilhaços.

 

Desde esse fatídico dia, a imprensa e as autoridades competentes cobram o pleno esclarecimento do caso, que até hoje repercute negativamente em todo o mundo. Entre avanços e tentativas de obstrução perpetradas por pseudo-autoridades não tão competentes, chegou-se à prisão do ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos. Além dele, está preso também o ex-PM Élcio de Queiróz, que estaria dirigindo o veículo de onde os tiros partiram.

 

Em 23 de janeiro de 2024, segundo apurado e divulgado pelo "The Intercept Brasil", veículo da imprensa digital, Ronnie Lessa, que fez um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, apontou Domingos Brazão como mandante da morte da vereadora.

 

Deputado estadual pelo então PMDB (atual MDB), Brazão, hoje conselheiro vitalício do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), teria, segundo Lessa, mandado matar Marielle para se vingar de Marcelo Freixo, à época deputado estadual pelo PSOL (o mesmo partido de Marielle) e amigo da vereadora há mais de dez anos. Atualmente, Freixo, agora filiado ao PT, é presidente da Embratur. O motivo da vingança viria das sérias desavenças que Domingos Brazão e Marcelo Freixo tiveram na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando exerciam seus mandatos.

 

Por sérias desavenças, leia-se o fato de que Brazão foi citado, em 2008, no relatório final da CPI das Milícias, presidida por Marcelo Freixo. Segundo ele, Brazão, empresário do ramo de postos de gasolina, era um dos políticos com livre acesso para fazer campanha em Rio das Pedras, comunidade situada na Zona Oeste e tida como forte território miliciano. Anos depois, em 2017, lá estava Freixo como um dos principais articuladores da Operação Cadeia Velha, que levou à prisão de três nomes fortes do PMDB. Desdobramento da Operação Lava Jato no RJ, a Cadeia Velha foi deflagrada pela Polícia Federal com o intuito de investigar o pagamento de propinas a deputados estaduais em troca de votos favoráveis a temas ligados ao transporte público. Embora os três deputados do PMDB tenham sido soltos por decisão da Comissão de Constituição e Justiça da Alerj, o acontecimento foi bastante desgastante e teria ficado engasgado na garganta dele. O engasgo se intensificou ainda mais quando aconteceu outra operação deflagrada pela PF: a Quinto do Ouro, que investigava o pagamento de propinas a políticos por parte de empresários. Acusado de participar do esquema, Brazão foi afastado do cargo de conselheiro vitalício em 2017; voltaria somente quatro anos depois. Acredita-se que a morte de Marielle Franco teria sido encomendada não só com o intuito de Domingos Brazão se vingar de Marcelo Freixo, mas também por ele acreditar que a vereadora estaria fortemente envolvida no movimento contra ele e demais integrantes do PMDB.

 

O nome de Domingos Brazão continuou repercutindo pelos salões da justiça brasileira. Em 2020, conforme detalha o "The Intercept", primeiro veículo a ter acesso à notícia da delação de Lessa, foi debatida a federalização do caso Marielle. Na ocasião, a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), informou que a Polícia Civil do RJ e o Ministério Público chegaram a trabalhar com a possibilidade de Domingos Brazão ter de fato mandado matar Marielle Franco. Não é uma suposição nova, portanto.

 

O assassinato de Marielle completará seis anos em março próximo. Um caso com muitas camadas, que ainda prometem ser revolvidas e trazer à tona outros tantos personagens. Talvez estejamos apenas pincelando a superfície.

 

Independentemente de quem surja como personagem deste enredo trágico e vergonhoso, tenhamos em mente que já passou da hora de o povo brasileiro saber todos os detalhes que culminaram na noite do fatídico 14 de março de 2018. Nesta data, uma mulher negra, homossexual, criada em comunidade carente, altamente empenhada em enfrentar o crime organizado e potencial candidata ao Senado foi calada junto com seu motorista. Os fatos e a verdade, contudo, jamais se calarão e dirão tudo no tempo certo.

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