Audiência das novelas: fracasso ou análise fora de contexto
- João Guedes
- 24 de jan.
- 2 min de leitura
Volta e meia, lá está a manchete: “Novela X é o maior fracasso do horário de emissora Y”. A frase é batida, vira e mexe aparece por aí, e quem lê até acredita que as novelas da TV aberta estão afundando sem volta. Mas será que é justo avaliar a audiência de hoje com a mesma régua de dez anos atrás? Spoiler: não é.

Para começo de conversa, o valor de 1 ponto no Kantar Ibope (instituto responsável por medir a audiência da TV no Brasil) muda todo ano. Em 2015, na Grande São Paulo, um ponto equivalia a cerca de 67 mil domicílios. Em 2024, esse número já tinha subido para 72 mil, e em 2025 estamos falando de 77 mil televisores. Ou seja, quando uma novela registra 20 pontos atualmente, isso significa muito mais pessoas assistindo do que no passado. O que mudou foi o cenário.
E não dá para ignorar outro fator importante: a concorrência. Com o streaming e a internet oferecendo conteúdo 24 horas por dia, a briga pela atenção do público ficou feroz. Plataformas como Netflix, Globoplay e YouTube revolucionaram o consumo de entretenimento, permitindo que cada um assista o que quiser, quando quiser. Apesar disso, a televisão aberta segue firme e relevante. Afinal, novelas ainda mobilizam discussões, criam tendências e alcançam milhões de brasileiros diariamente.
Outro detalhe que muitos esquecem: comparar números absolutos não faz sentido sem olhar o contexto. Há menos pessoas assistindo TV? Sim. Mas a participação (o famoso share, que mostra a porcentagem de TVs ligadas sintonizadas no programa) continua sendo significativa, muitas vezes garantindo a liderança isolada.
Por isso, antes de rotular uma novela como fracasso, vale lembrar que 20 pontos hoje têm outro peso. A televisão brasileira ainda está de pé, competindo de igual para igual com gigantes globais. E quem acha que novela não dá mais audiência, provavelmente não viu os memes e as discussões que surgem no Twitter logo após cada capítulo.
A audiência pode até ter encolhido no número bruto, mas a relevância cultural das novelas permanece tão forte quanto antes. E isso é algo que nenhuma métrica consegue medir completamente.
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