Bruxas - você ainda tem medo delas?
Olá deusa poderosa. Começo esta coluna te afirmando que o assunto das próximas quatro semanas, para a sociedade, não para mim, é polêmico. Principalmente para as instituições religiosas, que possuem até hoje, como único trunfo de manipulação e poder sobre a mulher, a desqualificação da sua imagem perante a sociedade, quando uma mulher escolhe ser dona do seu nariz. E esse parâmetro vem sendo utilizado, sobretudo, desde a consolidação do cristianismo. Sendo assim, a minha pergunta é: você costuma questionar as coisas que te falam, ou você simplesmente aceita e sai repetindo por aí. Você tem coragem de mandar na sua própria vida, ou, por obediência e medo, prefere se enquadrar no que te dizem que é certo e errado e segue sua vida, suprindo as expectativas alheias e ferindo a si mesma? Anulando a si mesma? Outra pergunta que eu quero te fazer é: você tem medo das bruxas? Essa última pergunta pode até parecer risível e patética, uma vez que está no inconsciente coletivo que quem tem medo das bruxas são as crianças.
E se eu te disser que você, talvez, ainda que inconscientemente, tem, sim, medo de bruxa? Tudo bem, pode rir. Como bruxa que sou, compreendo perfeitamente, dada a conjuntura histórica de proliferação de uma imagem pejorativa e degradante da figura das mulheres que não aceitam qualquer tipo de imposição. Eu te perdôo minha amiga. Pois bem, vamos do princípio. Em sânscrito, a língua sagrada da Índia, bruxa quer dizer mulher sábia. Em latim, a palavra bruxa significa larva de borboleta. Se juntarmos as duas denominações, podemos dizer que ser bruxa é ter a sabedoria e o poder de se autotransformar, internamente. Ou seja, são as mulheres atrevidas e teimosas que, antes de qualquer “ordem ou autoridade” consultam a si mesmas antes de tomarem qualquer decisão, e suas escolhas são soberanas. E ponto final! Então, bruxas são as mulheres que seguem sua intuição, consideram seu sexto sentido e conseguem transformar situações ruins em entendimento e serenidade, dada a sua sabedoria interior e confiança no poder divino. Chamam de bruxas as mulheres que assumem seu poder pessoal e não tem medo de serem livres, já que o destemor de afrontar a cartilha social em prol da sua própria liberdade pessoal sempre fala mais alto.
Apesar disso, amigas deusas, tenho certeza que, ainda que não admitam, vocês sabem que até agora, nós mulheres somos julgadas, expostas, desqualificadas, apontadas, tachadas e manipuladas por uma sociedade onde a supremacia é masculina, e em inúmeras situações do cotidiano, uma mulher se depara abertamente com a soberania patriarcal e machista. Dessa forma, a imagem que se construiu das famigeradas bruxas, são construções históricas cujo único intuito é subjugar o feminino e manter uma estrutura onde prevalece a supremacia masculina. E te digo mais amiga, e sem receio acerca do massacre que pode recair sobre mim, que essa imagem pejorativa em relação à figura das bruxas são resquícios de uma criminalização institucionalizada da mulher livre, sábia e dona do próprio caminho. Isso é um fato e absolutamente legítimo, ainda atualmente.
Mas, como toda essa construção imagética aviltante da figura da mulher livre começou? Vou explicar. Antes do surgimento e consolidação do cristianismo, a figura das mulheres e sua sabedoria milenar e ancestral percorria todos os cantos. As civilizações acreditavam em diversas deusas e, muitas sociedades eram matriarcais, ou seja, o regime social preponderante era exercido por mulheres. E segundo muitos estudos históricos, essas foram as sociedades mais prósperas e pacíficas que já existiram. As mulheres que eram detentoras de conhecimentos extra físicos, ou seja, energéticos e intuitivos, possuíam funções muito importantes para a sociedade, uma vez que eram elas que conseguiam prever catástrofes e alertar a população, impedindo grandes tragédias, bem como, eram as bruxas que curavam enfermidades graves com seus remédios naturais, devido ao conhecimento que possuíam das ervas medicinais.
Contudo, com a consolidação do cristianismo e principalmente do catolicismo, o que proliferou foi um regime social e religioso, onde imposições e autoritarismos tomaram conta da sociedade da época. Houve, para tanto, a censura a tudo que fosse diferente do certo e errado ditados pela Igreja católica, que inclusive desestabilizou o culto a vários deuses e instituiu que o que seria aceito a partir dali, era somente a existência de um Deus, e esse Deus era homem.
Querida leitora, por hoje eu preciso me despedir, mas você que me lê semanalmente sabe que meus textos têm continuidade nas semanas seguintes né? Então, é isso.
Te espero na próxima semana.
Alíne Valencio
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