Por Alíne Valencio.
Bruxa - você tem coragem de admitir que é?
Minha amiga leitora, é uma lástima, mas esta é a última semana do tema "bruxas" nesta coluna. Eu adoro escrever para você porque sempre tenho em mente a ideia de que, com minhas palavras, eu seja para você um estímulo para sua libertação, em qualquer nível que seja. Desejo profundamente que as reflexões que eu abordei tenham cravado fundo em sua mente, instigando-a a ser mais um instrumento da verdade sobre a nossa história ao longo do tempo.
Para iniciar a conversa de hoje, decidi propor uma reflexão baseada numa pequena expressão: mulher livre. Pode até parecer um pouco perdulário da minha parte. Talvez. Mas estive pensando intensamente a respeito dessa expressão durante toda a semana e decidi escrever aqui o que concluí. Minha amiga, a humanidade sempre teve medo das mulheres que voam. Sim, mulheres que voam, ou correm com os lobos, como já diz Clarissa Pinkola Éstes. São mulheres perigosas. Em que sentido? Elas representam um risco à manutenção da estrutura patriarcal e religiosa, machista e misógina que há tantos séculos vem controlando nossos corpos, mentes, sentimentos e espírito.
Neste contexto, imaginem se todas, absolutamente todas as mulheres deste mundo, forem livres a ponto de serem donas de seus narizes e não permitirem que ninguém as controle, sob nenhum aspecto. Qual seria a função dos homens neste mundo?
O medo deles é se sentirem inúteis para a sociedade. Raciocine comigo, amiga. A, nós mulheres, foi dado o dom de gerar uma vida. E mais, de nutrir aquela vida dentro de nós por nove meses. Está claro para você o poder pessoal e social que este pequeno mas grandioso detalhe causa à humanidade? Nós somos as detentoras da vida. As guardiãs da vida. Portanto, nós é que decidimos os rumos da humanidade. Por exemplo, se cada uma de nós, uma a uma, nos quatro cantos do mundo, resolvermos fazer greve de sexo, e vamos exagerar aqui, para sempre, levaríamos a humanidade ao fim, pois uma vez que não temos relações, não existe a mínima possibilidade de darmos continuidade à espécie humana. Vai chegar uma hora que não haverá um mísero vivente no planeta. E aí você pode até me dizer: “Ah, mas isso levaria muito tempo”. É verdade, levaria. Mas, demorando ou não, isso iria acontecer. Por acaso, os homens têm esse poder? Não, né? Pra você ver como é um assunto que incomoda muito o patriarcado. Quem eles iriam controlar, manipular? Para quem iriam vender seus produtos? Quem iriam dizimar com as guerras? A sede de poder estaria arruinada, nós os levaríamos à bancarrota.
Destarte, concluí que a expressão mulher livre está arraigada no inconsciente coletivo como algo bastante ultrajante e depreciativo. A primeira coisa que passa na cabeça das pessoas, ainda que de maneira inconsciente e, lamentavelmente, até mesmo das mulheres, é que uma mulher livre não tem freios, está solta. Parei para pensar sobre o que isso representa e, com pesar, virou uma chave para mim aqui.
Quando proferimos essa expressão - mulher livre - inconscientemente, sentimos um incômodo porque a sensação, arquitetada de propósito pelo patriarcado ao longo dos séculos, é de incompetência e incapacidade. Exatamente isso, minha amiga. Acompanhe meu raciocínio, por favor. Uma mulher livre não possui condições de raciocinar e tomar decisões assertivas e eficazes nos negócios, por exemplo. Além disso, pode fazer alguma besteira, pois não tem discernimento. Essa é a visão limitada do patriarcado, pois ninguém considera o poder da intuição, no qual as mulheres são hábeis e exemplares. Elas usam seu sexto sentido ao fecharem negócios, e as sociedades matriarcais são as mais prósperas do mundo. Quando o utilizam, superam qualquer empresário machista por aí. Não é verdade?
Entretanto, no patriarcado, a supremacia do ego e da virilidade masculina precisa imperar a qualquer preço. Por isso, um homem com conceitos limitados como esses jamais admitirá perder para uma mulher. Justamente para uma mulher.
Enfim, para encerrar mais esta jornada de quatro semanas, trago aqui uma reflexão para você, leitora amada, principalmente se tiver uma filha menina. O que proponho é que, quando sua filha participar de uma peça de teatro na escola onde haja bruxas, que você se lembre de tudo de maravilhoso que uma bruxa representa, e, se possível, tenha uma conversa com sua filha, explicando a ela o verdadeiro significado de ser a bruxinha na peça de teatro. Se possível, incentive sua filha a sugerir para a professora uma nova versão da história. É claro que essa parte provavelmente será mais complicada, considerando o conservadorismo e tradicionalismo de algumas instituições. Contudo, o importante mesmo é ir desmistificando para nossas meninas, desde muito cedo, esse falso legado dissimulado e fajuto no qual enredaram a nós, as bruxas.
Nosso bate papo sobre bruxas vai ficando por aqui.
Um beijo e até semana que vem.
Alíne.
Comments