Não sei como é nos demais estados brasileiros, mas aqui no RJ é comum as pessoas distribuírem doces para a garotada em homenagem a Cosme e Damião, santos para a Igreja Católica e entidades protetoras das crianças para a umbanda. É uma festa bem típica dos bairros populares da capital fluminense e também das cidades do interior. É muito legal ver a gurizada pelas ruas, geralmente acompanhada por mães, tias e similares, à cata de quem está distribuindo doces. Hoje de manhã, quando saí, havia várias famílias dedicadas à doce função.
Hoje talvez não seja tão comum, mas quando eu era garoto, era uma festa. A maioria dos vizinhos e conhecidos distribuía, e ficávamos com a casa lotada de doces por vários dias, para desespero das mães, que estabeleciam limites para que não devorássemos tudo de uma só vez.
Era uma festa a profusão de balas, pirulitos, mariolas, pés-de-moleque, doces de leite, torrones, marias-moles, jujubas... Ficávamos na rua para lá e para cá, e corríamos em desabalada carreira quando sabíamos que na casa da dona Lourdes ou do Sr. Antero estavam distribuindo os saquinhos, que ficávamos ansiosos para abrir.
E havia todo o folclore à volta da festa também. Disputávamos quem conseguia pegar mais; ficávamos intrigados e também com pena das crianças evangélicas, que eram proibidas de apanhar os doces considerados do diabo (uma ignorância que ainda prevalece) e criticávamos os saquinhos que vinham com pouca coisa ou com doces de baixa qualidade.
Houve uma época – lá pelos 14 anos – em que me empolguei em distribuir doces, mas isso durou poucos anos. Vendo, no entanto, a movimentação das crianças de hoje nas ruas e também pelo fato de muita gente passar necessidades, tenho vontade de voltar a dar doces. Não que eu seja devoto dos santos gêmeos, mas pelo prazer de levar alegria às crianças. Afinal, adoro lidar com doces – costumo preparar bolos e sobremesas e já consegui muitas doações de tortas para eventos beneficentes.
Se eu voltasse a distribuir, iria caprichar. Além dos doces tradicionais da ocasião, o saquinho viria com barrinhas de chocolate como Prestígio, Lollo, Diamante Negro e similares. E também colocaria, junto às guloseimas, um tubo de creme dental e uma escova de dentes, pois sei que boa parte da população carente tem dificuldades para comprar itens de higiene básica. Creio até que repetiria a dose na Páscoa, doando ovos de chocolate e caixas de bombons, além, é claro, da escova e do dentifrício. Quem sabe um dia, quando a situação financeira for bem folgada.
Preparar ou distribuir doces é algo que me faz feliz, e nada melhor do que ver meninos e meninas felizes também.
E salve Cosme e Damião!
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