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[CRÍTICA] A Substância: o horror de ser mulher em um mundo obcecado pela juventude

  • Foto do escritor: Manu Cárvalho
    Manu Cárvalho
  • 19 de set. de 2024
  • 4 min de leitura

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho


Nota: ★★★★½

Um filme cheio de reflexão e realidade
Um filme cheio de reflexão e realidade (Foto: Reprodução / Estado de Minas)
O que você estaria disposto a fazer para se manter jovem?

A pergunta pode soar banal, mas, em um mundo que vende a juventude como mercadoria, a resposta pode ser assustadora. A Substância é um filme que não tem medo de escancarar essa obsessão. Dirigido por Coralie Fargeat, a mesma mente por trás de Revenge, a obra mistura terror corporal, ficção científica e um humor sarcástico para contar a história de uma mulher que, para manter sua carreira e sua relevância, se submete a um experimento bizarro. O resultado? Uma jornada grotesca e visceral que nos faz refletir sobre os limites da vaidade.


Demi Moore volta com tudo em um papel visceral

Se havia alguma dúvida sobre o talento de Demi Moore, A Substância a dissipa em segundos. No papel de Elisabeth Sparkle, uma apresentadora de TV que vê sua carreira ameaçada pela idade, Moore entrega uma atuação corajosa e sem vaidades. Esqueça qualquer resquício da glamourizada estrela dos anos 90; aqui, ela se entrega ao grotesco sem medo de sujar as mãos — e o corpo inteiro.


Margaret Qualley (Maid e Era uma vez em... Hollywood) também brilha no papel da versão "rejuvenescida" de Elisabeth. A transição entre as duas é fluida e inquietante, tornando a narrativa ainda mais perturbadora. A forma como as duas performances se complementam cria um impacto emocional fortíssimo e faz com que o público se conecte com a personagem, sentindo sua angústia de maneira profunda.

Demi Moore e sua visceral atuação
Demi Moore e sua visceral atuação (Foto: Reprodução / Café História)

O horror corporal como espelho da pressão estética

Se você é fã de Cronenberg ou de Titane, de Julia Ducournau, prepare-se: A Substância não poupa em cenas grotescas. Pele derretendo, membros se contorcendo de formas impossíveis e uma violência que parece quase orgânica compõem o visual do filme. Mas nada disso é gratuito. Cada cena perturbadora é um reflexo brutal da indústria da beleza e da forma como as mulheres são consumidas por ela.


A mensagem é clara: na busca pela juventude eterna, até onde estamos dispostos a ir? E mais do que isso: quem dita essas regras cruéis?


O filme explora como essa imposição estética se manifesta na vida real. Procedimentos estéticos extremos, dietas absurdas e uma pressão psicológica devastadora são apenas algumas das formas pelas quais a sociedade empurra as mulheres para um ideal inalcançável. A indústria da moda, as redes sociais e os padrões impostos pelo entretenimento transformam a obsessão com a juventude em um ciclo sem fim, onde cada ruga ou linha de expressão se torna uma sentença de morte para carreiras e confiança pessoal.


A obra também toca na forma como a sociedade enxerga o envelhecimento de homens e mulheres de maneiras completamente diferentes. Enquanto atores masculinos continuam sendo considerados charmosos e desejáveis com o passar do tempo, as mulheres são rapidamente descartadas, substituídas por rostos mais jovens, como se sua relevância dependesse exclusivamente da aparência.

Todo mundo é substituível?
Todo mundo é substituível? (Foto: Reprodução / Cinebuzz)

Uma sátira que te faz rir e se contorcer ao mesmo tempo

Sim, A Substância é um filme de terror. Mas também é uma comédia ácida, daquelas que fazem você rir e sentir um frio na espinha ao mesmo tempo. O roteiro brinca com a superficialidade do mundo das celebridades, com a loucura dos padrões estéticos e com o desespero de quem luta para se manter "relevante".


O resultado é um filme que, em alguns momentos, pode parecer exagerado e até absurdo. Mas não é exatamente assim que a realidade nos parece, quando paramos para pensar?


A trama mostra também o papel da indústria de cosméticos e dos padrões de beleza impostos pela mídia. Desde campanhas publicitárias que vendem promessas vazias até cirurgias plásticas que custam fortunas, o filme traz um olhar satírico sobre como a pressão estética transforma a vida de muitas mulheres em um pesadelo.


O roteiro também satiriza como a sociedade reage a mulheres que recusam seguir esse padrão: quem envelhece naturalmente é vista como "desleixada", e quem se submete a procedimentos para parecer mais jovem é criticada por "não aceitar a idade".

Envelhecer é interessante para a industria? O que ela quer de você?
Envelhecer é interessante para a industria? O que ela quer de você? (Foto: Reprodução / Metropole)

Vale a pena assistir A Substância?

Se você gosta de filmes que desafiam sua zona de conforto, a resposta é um sonoro sim. Mas esteja avisado: A Substância não é um terror convencional. Ele incomoda, provoca e deixa uma sensação de desconforto que pode durar dias.


E talvez essa seja a maior qualidade do filme: ele não te deixa esquecer sua mensagem. Em um mundo onde a juventude é tratada como um bem de consumo, A Substância mostra o horror de quem se torna um produto. E o pior: de quem compra essa ideia.


Ao sair do cinema, fica a reflexão: quantas Elisabeths existem no mundo real? Quantas mulheres estão dispostas a abrir mão de sua identidade para se encaixar em um padrão cruel e inalcançável? E, principalmente, até quando essa cultura do descartável irá continuar?

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