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[CRÍTICA] Aqui: uma ousada exploração cinematográfica do espaço e do tempo

Atualizado: 16 de mar.

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho


Nota: ★★★½


Filme Aqui
(Foto: reprodução/Imagem Filmes)

Uma perspectiva única sobre a passagem do tempo

O cinema tem o poder de nos transportar para diferentes mundos, mas raramente uma obra se propõe a nos manter fixos em um único espaço e, ainda assim, fazer com que sintamos o peso do tempo de maneira tão intensa. Aqui, dirigido por Robert Zemeckis, adapta a icônica novela gráfica de Richard McGuire, levando o espectador a uma experiência cinematográfica singular e provocativa. O filme se passa dentro de uma única sala ao longo de milhares de anos, observando como o espaço se transforma e é ocupado por diferentes gerações, desde tempos imemoriais até um futuro distante.


A proposta de Zemeckis é tão ousada quanto desafiadora: como contar uma história repleta de emoção e significado sem sair de um único ponto de vista? A resposta vem na forma de um trabalho técnico sofisticado, uma abordagem narrativa inovadora e performances que ressoam profundamente com o espectador. Mas será que essa ousadia se traduz em uma experiência satisfatória? A resposta pode depender da disposição do público para abraçar a proposta do filme e embarcar em uma jornada que questiona nossa relação com o tempo, o espaço e a memória.


O desafio de contar uma história a partir de um único espaço

Aqui não se contenta em seguir as convenções tradicionais do cinema narrativo. Ao contrário, ele nos obriga a repensar a forma como consumimos histórias audiovisuais. Em um primeiro momento, a decisão de manter um único plano fixo pode parecer limitadora, mas conforme o filme se desenrola, percebemos que há um propósito maior por trás dessa escolha.


A sala que serve de cenário para a trama não é apenas um espaço físico, mas um testemunho vivo das mudanças ao longo dos séculos. Em determinado momento, vemos uma família jantando, rindo e compartilhando momentos de alegria. Em outro, uma tempestade violenta devasta o local, transformando-o em um campo de ruínas. Em um piscar de olhos, estamos observando a construção da casa, e logo depois, somos transportados para um futuro onde tecnologia e natureza se fundem de maneiras inesperadas.


Essa abordagem reforça a ideia de que os espaços carregam histórias, emoções e lembranças. Quantas vidas passaram pelo mesmo chão onde estamos? Quantos sonhos foram sonhados dentro de quatro paredes? Aqui nos convida a refletir sobre essas questões e, ao fazer isso, nos confronta com a efemeridade da existência humana.


Filme Aqui
(Foto: reprodução/Imagem Filmes)

A inovação técnica e seus desafios

Robert Zemeckis é conhecido por seu domínio da tecnologia no cinema, e em Aqui ele leva esse talento a um novo patamar. O filme faz uso de inteligência artificial para criar rejuvenescimentos digitais dos atores, manipulações temporais e transições que desafiam a linearidade tradicional do cinema. A ideia é criar uma sensação de fluidez no tempo, permitindo que o espectador veja décadas se passarem diante de seus olhos sem cortes bruscos ou montagens convencionais.


Entretanto, essa inovação técnica também traz desafios. Algumas das transições parecem artificiais e podem causar certo estranhamento. O rejuvenescimento digital, apesar de impressionante, ainda não é perfeito e, em alguns momentos, pode tirar o espectador da imersão. Para um filme que aposta tanto na conexão emocional com o público, esses elementos visuais podem ser um obstáculo para alguns.


Por outro lado, a cinematografia de Don Burgess faz um trabalho espetacular ao criar variações na iluminação e na composição para refletir as mudanças temporais. Mesmo sem mudar de ângulo, a sensação de passagem do tempo é palpável, seja pela mudança na arquitetura, pelos figurinos dos personagens ou pela sutileza das expressões faciais.


A força das performances

Para um filme que depende tanto da relação entre tempo e memória, era essencial contar com um elenco capaz de transmitir emoções genuínas. Tom Hanks, que interpreta um dos moradores da casa ao longo de diferentes períodos, entrega uma performance carregada de nostalgia e sensibilidade. Sua presença serve como um ponto de ancoragem para o espectador, ajudando a estabelecer uma conexão emocional com a história.


Robin Wright, que vive outra residente da casa em momentos diferentes da linha do tempo, complementa Hanks com uma atuação igualmente comovente. Juntos, eles representam as muitas faces do tempo: a juventude cheia de sonhos, a meia-idade repleta de questionamentos e a velhice confrontada com a perda e a saudade.


O filme também conta com um elenco de apoio que se reveza ao longo dos séculos, cada um trazendo sua própria perspectiva sobre a vida naquele espaço. É fascinante ver como pequenas ações e gestos podem ecoar através do tempo, criando conexões entre personagens que nunca se conheceram, mas que compartilham um mesmo lar.


Filme Aqui
(Foto: reprodução/Imagem Filmes)

Uma reflexão sobre tempo, espaço e identidade

Aqui não é um filme que entrega respostas prontas. Ele desafia o espectador a interpretar suas próprias experiências através da história que está sendo contada. Ao longo de sua duração, a obra nos faz questionar o que significa pertencer a um lugar, como os espaços guardam nossas memórias e como nossa existência é apenas um pequeno fragmento em um fluxo contínuo de tempo.


Um dos momentos mais impactantes do filme ocorre quando a câmera nos mostra uma família celebrando um aniversário em um século distante, apenas para, segundos depois, revelar que aquela mesma sala já foi palco de despedidas dolorosas e recomeços inesperados. É um lembrete poderoso de que o tempo não espera por ninguém e que, mesmo nas mudanças, há algo que permanece.


Essa abordagem pode não agradar a todos. Quem busca uma narrativa mais linear e tradicional pode se sentir frustrado com a estrutura experimental do filme. No entanto, para aqueles dispostos a mergulhar nessa experiência sensorial e filosófica, Aqui oferece uma oportunidade única de reflexão.


Recepção crítica e impacto cultural

Aqui tem gerado debates acalorados desde sua estreia. Alguns críticos aplaudem a ousadia da proposta e a forma como o filme desafia as convenções narrativas do cinema tradicional. Outros, no entanto, apontam que a execução técnica nem sempre corresponde à ambição da ideia, resultando em momentos de desconexão emocional.


Independentemente das opiniões divergentes, o filme já se estabeleceu como um marco na carreira de Zemeckis e uma das obras mais inovadoras do ano. É um lembrete de que o cinema ainda pode surpreender, desafiar e expandir as fronteiras da linguagem audiovisual.


No Brasil, a recepção tem sido mista. Enquanto alguns espectadores se encantam com a experiência imersiva, outros consideram a abordagem um tanto fria e experimental demais. O que é inegável, no entanto, é que Aqui provoca discussões e faz com que pensemos sobre nossa própria relação com os espaços que habitamos.


Uma experiência cinematográfica singular

Aqui não é um filme convencional, e talvez essa seja sua maior virtude. Ele exige paciência, atenção e uma disposição para abraçar o inesperado. Com uma abordagem visual inovadora, performances sensíveis e uma temática profundamente reflexiva, o filme se destaca como uma experiência cinematográfica única.


Para aqueles que buscam algo diferente do cinema tradicional, Aqui oferece uma jornada emocionante pelo tempo e pela memória. Não é uma obra fácil, mas é exatamente essa complexidade que a torna tão fascinante.

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