[CRÍTICA] Jurassic World: Recomeço tenta evoluir a fórmula jurássica, mas tropeça no excesso de nostalgia
- Manu Cárvalho
- 1 de jul.
- 8 min de leitura
LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho Atenção: esta crítica não contém spoilers essenciais, mas tem spoiler.
Scarlett Johansson, Jonathan Bailey e Mahershala Ali estrelam uma superprodução visualmente impecável, mas narrativamente rasa, que tenta reviver a magia jurássica — sem muito sucesso.

*Trinta e dois anos após o lançamento de Jurassic Park (1993), a franquia tenta, mais uma vez, recapturar o impacto cultural que o filme de Spielberg causou nas plateias do mundo inteiro. Com Jurassic World: Recomeço — será lançado em 3 de julho de 2025 e dirigido por Gareth Edwards — a promessa é clara: não apenas entreter, mas redefinir o que o universo jurássico pode ser para as novas gerações. Mas será que o filme cumpre esse papel? A resposta, infelizmente, é mais complicada do que se gostaria.
Com um orçamento estrondoso, elenco estelar e efeitos visuais no estado da arte, o longa surge como mais um capítulo espetacular, mas hesitante, em uma franquia que se vê repetindo ideias em busca de relevância. Ainda que o visual seja de tirar o fôlego — e que o carisma de seus dinossauros nunca perca o brilho — Recomeço é, ironicamente, um exercício de reciclagem narrativa, emocionalmente raso e com uma sensação persistente de déjà-vu.

Visual de tirar o fôlego, mas para onde tudo isso vai?
Não há como negar: Jurassic World: Recomeço é deslumbrante em sua concepção técnica. A câmera de Gareth Edwards — conhecido por seu trabalho em Rogue One e Godzilla (2014) — domina a imensidão dos cenários e captura os dinossauros com um senso de escala que realmente impressiona. Uma das cenas mais empolgantes é a perseguição submarina com o Mosasaurus, que remete ao suspense clássico e à grandiosidade dos primeiros filmes.
Outra sequência impactante envolve o retorno do Spinosaurus, numa batalha em campo aberto que causa destruição em massa. São momentos assim que fazem o espectador lembrar por que essa franquia é tão querida. Ainda assim, fica a impressão de que o espetáculo visual serve para mascarar uma história frágil, quase esquecível, que mal se sustenta sem seus efeitos especiais.
O design de produção merece aplausos, sobretudo pelas paisagens artificiais que misturam florestas tropicais, pântanos gelados e laboratórios futuristas. A trilha sonora de Lorne Balfe, por sua vez, tenta homenagear John Williams, mas raramente consegue emocionar de verdade. As notas épicas estão lá, mas falta-lhes peso dramático.
Analisando os personagens
Em meio à vastidão de selvas digitais e laboratórios brilhantes, Jurassic World: Recomeço nos apresenta um novo núcleo de personagens, cada qual carregando o fardo de suas motivações e o desafio de se destacar em uma franquia que há muito deixou de ser sobre seres humanos. Scarlett Johansson é a força motriz do elenco como Zora Bennett, uma mercenária aparentemente implacável, contratada para caçar dinossauros raros em nome de uma corporação farmacêutica. Johansson entrega uma performance sólida, e até carismática em certos momentos, mas seu maior obstáculo é o próprio roteiro: sua Zora não tem espaço para nuances além do estereótipo da mulher durona em crise de consciência. Ainda assim, há lampejos de humanidade na personagem, especialmente quando interage com a jovem Isabella, interpretada com doçura e sinceridade por Millie Simmonds. Não só representa o elo emocional da trama, como também protagoniza uma das sequências mais sensíveis do longa ao desenvolver uma relação de afeto com Dolores, uma apatosaurus fêmea que parece responder à vulnerabilidade com instinto maternal.

Jonathan Bailey vive o Dr. Henry Loomis, um paleontólogo idealista que carrega no olhar o peso de saber demais e fazer de menos. Apesar de sua entrega honesta, o personagem carece de um arco real de crescimento, sendo usado mais como âncora moral do filme do que como uma presença viva. Seu relacionamento conturbado com Zora se insinua como romance, mas nunca se concretiza com convicção. Do outro lado da balança, Mahershala Ali, sempre competente, surge como Duncan Kincaid, um ex-militar recluso e agora conselheiro de segurança da missão. Ali é magnético mesmo em silêncio, e tenta conferir profundidade a um personagem funcional — uma voz da razão em meio à insanidade genética —, mas sua construção narrativa é rasa demais para que ele brilhe.
Há ainda coadjuvantes como Amira Patel (interpretada por Indira Varma), uma executiva de laboratório disfarçada de cientista rebelde, cujo papel como voz crítica contra a exploração farmacêutica é enfraquecido pela superficialidade do roteiro. Já o núcleo da família inserida na trama como “alívio emocional” — um casal de adolescentes, um pai e uma criança (Luna Blaise/Teresa Delgado, David Iacono/ Xavier Dobbs, Manuel Garcia-Rulfo/ Reuben Delgado e Audrina Miranda/Isabelle Delgado) que cruzam o caminho dos protagonistas por acaso — soa completamente deslocado. Nenhum dos quatro é desenvolvido a ponto de justificar sua presença, tornando-se meros catalisadores de ação e alívio cômico.

Não podemos esquecer da tripulação e do executivo, que infelizmente tem tempo de tela muito curto e pouco explorado, a atriz Phillipine Velga (Nina) que tem uma das mortes mais bem elaboradas do filme (infelizmente). Belchir Sylvain (Leclerc) que poderia ter durado até o final e sim, "desvivendo", porém foi antes. Ed Skrein (Atwater) que morreu mais rápido do que imaginei, ele seria um otimo aliado do vilão se ficasse no desenrolar da trama. E o nosso "vilão" Rupert Friend (Martin Krebs) que mostrou como é rodar uma ilha inteira, em carro tocando alarme, sem bater em NADA, sem atropelar um dino que surge do nada e parece conhecer TODO o caminho até lá no escuro, e por sorte não atrai NENHUM dino e quando chega no objetivo, morre por um ser que nem sei nomear.
Por fim, a verdadeira estrela do elenco não humano é Dolores, a dinossauro híbrida criada com DNA de espécies herbívoras extintas e modificações adaptativas. Ao lado de Isabella, ela protagoniza as cenas mais comoventes e humanizadas da obra. O olhar de Dolores, captado em CGI com precisão quase expressiva, diz mais sobre lealdade, medo e conexão do que qualquer diálogo do filme. Nesse sentido, a interação entre a menina e a criatura funciona como o coração pulsante da narrativa — um lembrete de que, mesmo em um blockbuster barulhento, a emoção silenciosa pode ser a mais poderosa.

Um dilema genético e um argumento moral subexplorado
O cerne narrativo de Recomeço está numa questão ética contemporânea: a manipulação genética a serviço do capital. A empresa fictícia Xenodyne não quer apenas prolongar a vida humana — quer controlá-la. O DNA dos dinossauros é usado como base para um "soro da longevidade", um conceito fascinante que poderia render críticas contundentes ao modelo de saúde privatizado e à ganância corporativa. Contudo, o filme apenas tangencia esses debates, preferindo a simplicidade das perseguições e explosões.
David Koepp, roteirista do original de 1993 e coautor do novo roteiro, parece hesitar entre a fábula moral e o entretenimento industrial. Como resultado, temos um híbrido com boas intenções, mas sem coragem de levar suas ideias até as últimas consequências. Mesmo os personagens secundários — como uma família com um pai, uma criança, a irmã e um namorado totalmente fora dos padrões, aparentemente colocada para humanizar o dilema — soam artificiais e mal integrados à trama.

Nostalgia reciclada e personagens descartáveis
O maior problema de Recomeço talvez esteja na maneira como ele tenta equilibrar o novo com o velho. A nostalgia é um elemento inevitável — e, até certo ponto, bem-vindo — em franquias longas. Mas quando a nostalgia se torna substituta da criatividade, o resultado é uma sucessão de acenos ao passado que não geram impacto. Há referências explícitas à cena do copo d’água tremendo, à cerca elétrica do primeiro parque, ao grito do T-Rex na neblina... e nenhuma delas oferece algo além do pastiche.
Os personagens, com exceção dos protagonistas, são descartáveis e esquecíveis. Técnicos, soldados, cientistas, ativistas — todos aparecem para cumprir funções narrativas óbvias e desaparecem com a mesma rapidez. Nem mesmo o antagonista principal — um executivo frio e obcecado por controle — escapa do clichê.

Entretenimento eficiente, mas sem alma
O ritmo do filme é, sem dúvida, eficiente. Do ponto de vista do entretenimento, Recomeço entrega o que promete: dinossauros, correria, gritos, destruição e um clímax explosivo. Para quem busca apenas uma tarde no cinema com pipoca e adrenalina, é uma escolha segura. Mas para o espectador que espera algo a mais — reflexão, emoção, ousadia — o filme falha em oferecer profundidade.
Essa superficialidade também aparece nas relações humanas. A química entre Johansson e Bailey, por exemplo, é nula. As tentativas de inserir tensão romântica entre Zora e Loomis são frias e desconexas, atrapalhadas por diálogos que oscilam entre o expositivo e o constrangedor. Até mesmo Mahershala Ali, um ator de reconhecida intensidade, parece deslocado em seu papel funcional.

Marketing, lucros e a diluição da alma
Outro fator que pesa negativamente em Recomeço é sua natureza como “produto de estúdio”. Em vez de ser uma obra com personalidade própria, o longa parece moldado por comitês de executivos. A presença de marcas é ostensiva, com inserções de gadgets e patrocinadores que saltam aos olhos. Em vários momentos, parece mais uma vitrine de marketing do que uma experiência cinematográfica.
Essa diluição é perceptível também no roteiro, que evita qualquer subversão do status quo. A estrutura narrativa segue todos os manuais: primeiro ato com exposição, segundo ato com conflito e traição, terceiro ato com redenção e sacrifício. A previsibilidade domina o filme de tal forma que, mesmo os momentos que deveriam ser impactantes, chegam com menos força do que poderiam.

O retorno dos dinossauros é o verdadeiro protagonista
Curiosamente, são os dinossauros que salvam o filme do completo vazio. As criaturas são filmadas com respeito e senso de maravilha. Quando o foco está nelas — e não nos humanos — Recomeço encontra sua voz. Um momento particularmente belo mostra um Brachiosaurus cruzando um campo ao entardecer, sem música, apenas com o som do vento e dos passos. Ali, por breves segundos, o cinema respira.
A variedade de espécies também agrada aos fãs. Além dos clássicos T-Rex, Raptors e Pteranodontes, temos novidades como o Therizinosaurus e o Dreadnoughtus, apresentados com precisão visual e respeito científico. A animação por CGI, embora abundante, raramente escorrega no exagero.

Recepção morna, bilheteria estável
A crítica especializada recebeu o filme com reservas. No Rotten Tomatoes, a aprovação ficou na casa dos 54%, um reflexo claro da divisão entre técnica impecável e conteúdo superficial. Muitos elogiam o visual, mas criticam a falta de alma. Entre os fãs, a recepção também é dividida: alguns comemoram a volta dos dinossauros, outros lamentam o esvaziamento temático.
Conclusão: Jurassic World: Recomeço é, como o próprio título sugere, uma tentativa de reiniciar uma franquia que já deu o que tinha que dar — ao menos neste formato. Com um visual arrebatador, mas alma genérica, o filme acerta na superfície e falha no coração. É entretenimento puro, mas sem legado. A era jurássica merece mais. Nota final: ⭐⭐⭐✨ (3.5 de 5 estrelas) NOTA DE RODAPÉ: Para mim a melhor parte é quando a Dolores, uma dinossauro pequetuxa, está em cena. Aplausos para os óculos do doutor Henry, que NUNCA caiem, não arranham ou se quer sujam. E a saudade que eu fiquei durante todo o filme de ter DETALHES, a gravação deste filme em plano aberto e meio plano me deixou meio no modo "paisagem" (hahaha piadocas!). Ainda tentando entender o ato final do "fiz o helicóptero de coxinha, deixei capitão vivo e eu deveria ter mais tempo de tela, mas não tive." Lembre-se, se for fazer necessidades fiquem perto das pessoas, um duelo pode acontecer pelas suas costas. E por fim, ficaremos sem saber como um T-Rex levanta! E isso é tudo pessoal XD >> ASSISTA E DEPOIS DEIXE SEU COMENTÁRIO SOBRE O QUE ACHOU DO FILME, ATÉ A PRÓXIMA!
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