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[CRÍTICA] O Contador 2: a ação e o drama que definem a continuação de uma história complexa e profunda

  • Foto do escritor: Manu Cárvalho
    Manu Cárvalho
  • 24 de abr.
  • 5 min de leitura

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho


O Contador 2
Foto: Divulgação/ Warne Bros.

O mundo dos filmes de ação e suspense tem sido, ao longo dos anos, marcado por uma fórmula repetitiva, onde heróis de ação são moldados por um enredo previsível e um antagonista claro. No entanto, a franquia O Contador, especialmente com o lançamento da sua sequência O Contador 2 em 24 de abril de 2025, vem quebrando essas barreiras e oferecendo aos espectadores uma narrativa mais intrincada, que vai muito além do simples enredo de ação. Este segundo capítulo, sob a direção de Gavin O’Connor, se aprofunda nas camadas emocionais de seus personagens, especialmente de Christian Wolff, interpretado brilhantemente por Ben Affleck. O filme mistura a intensidade do suspense com um drama denso, abordando temas como família, lealdade e identidade de uma maneira inovadora para um filme de ação.


O que diferencia O Contador 2 de outros filmes do gênero não é apenas a habilidade de Wolff com números e matemática, mas a sua complexa luta interna. Wolff, um contador brilhante e ao mesmo tempo um exímio executor de missões secretas, é um homem cujas emoções e pensamentos são frequentemente inatingíveis para a maioria das pessoas. Seu autismo de alto funcionamento, que já era uma das características centrais do personagem no primeiro filme, é tratado com sensibilidade e profundidade, e não como um simples ponto de interesse ou uma característica exótica. O roteiro, assinado por Bill Dubuque, faz questão de mostrar que, por trás da frieza de Wolff, existe um homem cheio de angústias, inseguranças e dilemas pessoais. Sua capacidade de fazer cálculos quase sobre-humanos é apenas a fachada para uma vida de solidão e busca por pertencimento.


O Contador 2
Foto: Divulgação/ Warne Bros.

A história começa com uma morte que mexe com os alicerces da trama: Raymond King, interpretado por J.K. Simmons, é assassinado, deixando para trás uma mensagem crucial. Isso acende o fio condutor da narrativa, que coloca Wolff, mais uma vez, em uma busca perigosa, onde ele é convocado para resolver uma conspiração complexa e desvendar os mistérios por trás da morte de seu ex-supervisor. O fato de Wolff ser tão meticuloso, mas ao mesmo tempo emocionalmente distante, cria uma tensão constante, tornando o público, muitas vezes, tão hesitante quanto o próprio protagonista em se aprofundar nas suas próprias emoções.


A interação de Wolff com o mundo ao seu redor é marcada pela diferença: a sociedade não sabe como lidar com sua mente afiada e suas reações muitas vezes incompreensíveis. Ele se vê constantemente tentando entender as regras de um jogo no qual não foi convidado.


Neste filme, a relação entre Wolff e seu irmão Braxton, vivido por Jon Bernthal, ganha um peso considerável. A química entre os dois atores é palpável, com Bernthal trazendo a dureza e a vulnerabilidade de seu personagem de maneira impecável. O relacionamento entre os irmãos é um dos maiores destaques do filme. Braxton, que tem um passado militar e uma série de demônios próprios, se vê, em muitos aspectos, como o reflexo das falhas e das dores de Wolff. Ambos são produtos de um ambiente de violência e traição, mas enquanto Braxton tenta construir uma vida com as escolhas que fez, Wolff parece ser o único que ainda busca alguma forma de redenção, algo que se arrasta ao longo do filme.


O Contador 2
Foto: Divulgação/ Warne Bros.

Mas O Contador 2 não se limita a simplesmente desenvolver as dinâmicas familiares. O filme também apresenta uma abordagem mais complexa das questões de lealdade e confiança. Enquanto Wolff tenta resolver os enigmas que se apresentam a ele, as perguntas sobre quem pode ser confiável em um mundo tão sombrio e corrompido começam a surgir.


O roteiro explora o dilema moral de Wolff, que está, de certa forma, fora de seu próprio controle, preso entre a necessidade de fazer o que é certo e as forças maiores que manipulam o seu destino. Sua jornada, ao lado de uma agente da FinCEN, interpretada por Cynthia Addai-Robinson, abre portas para discussões mais amplas sobre ética e sobre as escolhas difíceis que todos somos forçados a fazer.


A ação, é claro, está presente, mas é apenas uma das camadas da narrativa. A filmografia de Gavin O'Connor é inteligente ao equilibrar momentos de grande tensão com cenas mais introspectivas, nas quais a mente de Wolff, e a do próprio público, deve processar as informações e lidar com os dilemas da história. Ao invés de um espetáculo de tiros e perseguições desenfreadas, temos uma história de ação mais cerebral, onde a resolução dos problemas depende de mais do que pura força física, mas de uma mente aguçada e das decisões complexas que se escondem por trás de cada ação.


A cinematografia do filme, de Seamus McGarvey, também merece destaque. A paleta de cores escuras, com tons de cinza e azul, reflete a natureza sombria de Wolff e sua luta interna, enquanto as cenas de ação são filmadas com um ritmo que não sacrifica a tensão em nome da ação pura. A direção de arte, ao criar ambientes que refletem a desconexão emocional de Wolff com o mundo, dá ao filme uma atmosfera única que mantém o público preso a cada cena, a cada movimento, como se estivessem observando a luta interna de um homem que, ao tentar resolver problemas externos, é forçado a encarar os mais profundos conflitos internos.


O Contador 2
Foto: Divulgação/ Warne Bros.

A trilha sonora, composta por Bryce Dessner, não apenas complementa o clima tenso do filme, mas também serve para intensificar as emoções nas cenas mais carregadas. A música não apenas funciona como um pano de fundo, mas como uma extensão das emoções dos personagens, especialmente de Wolff. Cada nota parece ecoar em sintonia com os pensamentos e sentimentos que ele não sabe como expressar. É um uso inteligente da música que eleva a experiência cinematográfica a um nível mais profundo.


Em termos de bilheteira, O Contador 2 teve um bom desempenho, com uma estreia que conquistou um público fiel, impressionado pela intensidade e pela complexidade do enredo. Embora o filme tenha sido um sucesso de público, as críticas também foram muito favoráveis, especialmente pela forma como o filme lida com temas tão profundos e pela excelente performance de Ben Affleck. A crítica foi unânime em apontar que Affleck conseguiu trazer uma nova camada à sua interpretação de Wolff, mostrando um personagem mais vulnerável e complexo, sem perder a frieza que o torna tão eficaz nas missões que executa.


O Contador 2
Foto: Divulgação/ Warne Bros.

À medida que o filme avança para um final tenso e cheio de reviravoltas, ele abre uma série de possibilidades para o futuro de Wolff e de sua jornada. A maneira como o filme termina deixa claro que ainda há muito a ser explorado na história de Christian Wolff, e embora o enredo pareça ter se fechado de maneira satisfatória, a possibilidade de uma continuação já está sendo discutida entre o público e os realizadores. As conversas sobre a direção de uma terceira parte já começaram, e muitos se perguntam o que o futuro reserva para um personagem tão complexo e fascinante como Wolff.


O que O Contador 2 nos entrega é mais do que uma sequência de ação. O filme nos leva por um caminho de autodescoberta e questionamento, enquanto o protagonista, que já é um mestre nos números, tenta decifrar os mistérios do próprio coração. Ao fazê-lo, o filme oferece uma reflexão poderosa sobre as escolhas que fazemos, as consequências que enfrentamos e as pessoas que amamos. Uma história de redenção, ação e drama psicológico, O Contador 2 é um filme que vai muito além das expectativas iniciais e se estabelece como uma obra cinematográfica única.


⭐ NOTA: 4,5 de 5 estrelas

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