[CRÍTICA] O Homem do Saco (2024): quando a lenda vira desperdício de potencial
- Manu Cárvalho
- 30 de jan.
- 4 min de leitura
LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

Nós crescemos com medo do Homem do Saco. A figura mítica, sussurrada em ameças de castigo quando não obedecíamos nossos pais, sempre povoou o imaginário popular. Era inevitável que, em algum momento, o cinema transformasse essa lenda em um longa de terror. E é justamente essa a proposta de O Homem do Saco, lançado em 2024 com direção de Colm McCarthy, conhecido por Peaky Blinders e Black Mirror. Mas, como toda boa lenda mal contada, o filme termina mais como um sussurro do que como um grito.
Sinopse: quando o passado volta para cobrar
Patrick McKee (Sam Claflin) vive assombrado por um encontro traumático com o Homem do Saco quando ainda era criança. Anos depois, ele retorna à cidade natal acompanhado de sua esposa Karina (Antonia Thomas) e de seu filho pequeno Jake (Caréll Vincent Rhoden). Mas o que era para ser um recomeço logo vira pesadelo quando ele percebe que a lenda não ficou no passado. Pior: está mais viva do que nunca.
A narrativa mistura suspense familiar, terrores psicológicos e um toque sobrenatural. Mas se você espera um novo clássico do gênero, melhor preparar o coração para uma história com intenções melhores do que resultados.
Sam Claflin: entrega sem recompensa
Sam Claflin é um ator versátil. Já o vimos em papéis dramáticos, românticos e históricos. Aqui, ele se entrega a um protagonista assombrado, tentando manter o equilíbrio entre ser um pai protetor e um homem traumatizado. O problema é que o roteiro não colabora.
Seu Patrick é um personagem interessante, mas raso. Faltam nuances, faltam momentos de vulnerabilidade que permitam ao público mergulhar na sua dor. Claflin faz o que pode com o material que tem, mas não consegue tirar o filme do marasmo.
Antonia Thomas, sua parceira em cena, também é desperdiçada. Sua Karina é uma mulher forte, mas sem aprofundamento. Ela passa o filme inteiro presa em situações clichê, e sua relação com Patrick não tem a empatia necessária para sustentar os momentos mais dramáticos.

O Homem do Saco: Uma lenda poderosa, uma execução esquecível
O grande problema de O Homem do Saco é desperdiçar seu material de origem. A lenda folclórica é rica em simbologia, medo e mitologia. A ideia de uma figura que representa o abandono, o castigo e a ausência de segurança na infância poderia render uma análise psicanalítica fascinante ou um terror emocional profundo. Mas não é o que acontece.
O filme flerta com várias possibilidades: trauma geracional, entidades sobrenaturais, pesadelos reprimidos. Mas, ao tentar abraçar tudo, não desenvolve nada por completo. Faltam ousadia e identidade.
Flashbacks e confusão narrativa
Outro ponto que pesa contra o longa é o uso excessivo e desnecessário de flashbacks. Em vez de esclarecer ou intensificar o suspense, eles fragmentam a narrativa, tornando-a confusa e morosa. Em vários momentos, a trama parece andar em círculos.
As revelações chegam tardiamente, e quando chegam, já perderam o impacto. A tensão não se sustenta. É como se o filme tivesse medo de assustar, e isso é fatal para um título do gênero.
Atmosfera sombria sem inspiração visual
A fotografia aposta em tons escuros e uma direção de arte que remete a cidades pequenas e silenciosas, onde coisas sombrias podem acontecer. É eficiente? Em parte. A falta de criatividade nos cenários e na construção visual do monstro torna tudo previsível.
Quando finalmente vemos o Homem do Saco, a decepção é inevitável. O design da criatura é genérico, com clichês do terror contemporâneo. Nada nele provoca medo ou inquietação real.

Efeitos visuais e sonoros: competentes, mas sem alma
Os efeitos visuais cumprem sua função, mas não surpreendem. Não há cenas memoráveis ou sequências impactantes. A trilha sonora também é genérica: funciona como pano de fundo, mas não cria atmosfera.
Em um gênero onde som e imagem precisam provocar respostas físicas, O Homem do Saco parece anestesiado.
Temas mal explorados e superficialidade dramática
O longa tenta, em alguns momentos, abordar temas mais profundos, como a forma como lidamos com nossos medos de infância, traumas que atravessam gerações e a culpa parental. Mas tudo fica na superfície.
Há uma tentativa de transformação do medo infantil em medo real e contemporâneo, mas que se perde por falta de um roteiro mais elaborado e de direção mais segura.
Recepção do público e da crítica
A recepção ao filme foi majoritariamente negativa. Plataformas como o AdoroCinema e Taverna Geek Movie reuniram avaliações de espectadores que classificaram o filme como "decepção monumental". A crítica especializada também não poupou opiniões: falta clima, falta susto, falta relevância.
O consenso é que o filme tem uma boa ideia, mas foi entregue com pouca inspiração e muita cautela.
Quando a lenda não assusta mais
O Homem do Saco tinha potencial para ser um dos grandes filmes de terror psicológico dos últimos anos. A lenda por si só carrega peso simbólico e emocional suficiente para sustentar um thriller assustador e memorável. Mas o que vemos na tela é uma história genérica, cheia de clichês, sem grandes sustos ou reflexões.
No fim, o que deveria provocar pesadelos, provoca apenas bocejos. Uma oportunidade perdida de transformar um medo infantil universal em uma obra cinematográfica inesquecível.
Nota Final: ⭐½ (1.5/5)
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