[CRÍTICA] OPERAÇÃO VINGANÇA (2025): Rami Malek busca justiça em um thriller que mistura dor e determinação
- Manu Cárvalho
- 10 de abr.
- 4 min de leitura
LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

Quando a perda é maior que qualquer dor e a justiça parece distante, nasce um novo tipo de herói: o civil que decide agir. Em Operação Vingança (The Amateur), Rami Malek encarna um homem devastado pela tragédia, decidido a desafiar o sistema em nome do amor que perdeu. Com direção de James Hawes (Slow Horses), o longa é um thriller de suspense que mistura espionagem, dor pessoal e a transformação de um analista em um improvável agente letal.
Estreando nos cinemas brasileiros em 10 de abril de 2025, o filme é inspirado no romance homônimo de Robert Littell, publicado originalmente em 1981. Em tempos de narrativas cada vez mais complexas sobre segurança nacional, o filme se posiciona como uma história íntima, ainda que ambientada em um universo de agentes secretos e conflitos geopolíticos.
Rami Malek: da fragilidade à ferocidade
Rami Malek, ganhador do Oscar por Bohemian Rhapsody, entrega uma atuação sensível e contida no papel de Charles Heller, um criptógrafo da CIA que perde a esposa em um atentado terrorista em Londres. Inicialmente apenas um homem comum, é sua dor que o transforma, impulsionando uma jornada de autodescoberta e determinação.
Ao ser informado que a agência não tomará providências imediatas contra os responsáveis, Heller decide agir por conta própria. E é justamente essa transição, de intelectual pacato a vingador silencioso, que Malek interpreta com destaque. Seu olhar vacilante, seus silências longos, seu corpo retraído aos poucos se tornam decididos, calculistas, frios.
Quando o sistema falha, nasce o agente improvável
A transformação de Heller é tanto física quanto emocional. Ele não é treinado como James Bond, nem tem o carisma de Jason Bourne. O que o torna perigoso é sua dor crua, sua ausência de medo, sua incapacidade de voltar à vida anterior. Para forçar a CIA a treiná-lo, ele recorre ao que tem: sua inteligência. Chantageia a agência, coloca sua própria vida em risco e consegue o que quer.
É aqui que entra o elemento mais provocativo do filme: e se a dor não for apenas gatilho, mas combustível? A pergunta guia a narrativa até os minutos finais. O espectador acompanha cada queda, cada erro, cada improviso de Heller como se fosse sua própria luta. E é a humanidade dele que nos mantém conectados.

Suspense com alma e ritmo contido
James Hawes dirige com segurança, sem apelar para explosões gratuitas ou perseguições espetaculares. O ritmo é mais cerebral, quase claustrofóbico. As cenas são construídas com tensão crescente, e cada revelação traz um novo nível de complexidade para a trama.
A fotografia é fria, cinza, com tons azulados que reforçam o clima de desconfiança e isolamento. As cidades onde a história passa — Londres, Paris, Istambul — são captadas com realismo, sem glamour. Os becos escuros e corredores de escritórios do governo se tornam campos de batalha silenciosos.
Coadjuvantes que elevam a narrativa
Laurence Fishburne interpreta um ex-agente da CIA que se torna mentor relutante de Heller. Sua presença impõe respeito. É ele quem diz a frase que talvez resuma o filme: "A vingança é um idioma que só quem já morreu entende." Ao seu lado, Rachel Brosnahan entrega uma atuação firme como uma analista que não sabe em quem confiar.
Já o elenco de apoio, incluindo Caitríona Balfe, Holt McCallany, Julianne Nicholson e Jon Bernthal, complementa o mundo onde alianças são voláteis e cada telefone pode ser uma armadilha.

Entre o código e a coragem
Heller não empunha armas com maestria. Ele tropeça, hesita, sangra. Sua arma mais letal é o conhecimento. Ao invadir sistemas, manipular informações e confundir os rastros digitais de seus inimigos, ele se transforma num oponente invisível. E é nesse campo que o filme brilha: o suspense tecnológico bem construído, que nunca se torna inverossímil.
O roteiro não ignora os limites do protagonista. Ao contrário, os explora. Isso traz uma autenticidade que falta em muitas produções do gênero. A vulnerabilidade é sua identidade.
Críticas divididas, emoção unânime
Apesar de uma recepção mista por parte da crítica — com muitos apontando a narrativa como previsível ou formulaica —, Operação Vingança toca em algo universal: o luto. Sua força está na emoção contida, no choro abafado, no vazio que se converte em propósito.
Com um orçamento de US$ 60 milhões e arrecadação atual de US$ 36,4 milhões, o filme talvez não se torne um blockbuster, mas tem tudo para se tornar cultuado. Especialmente por quem procura histórias que falem sobre pessoas comuns em situações extraordinárias.

Operação Vingança: A vingança como redenção
Operação Vingança é um filme que caminha entre o silencioso e o estrondoso. Que fala mais nos gestos do que nos tiros. Que mostra que, em um mundo onde a dor é moeda e a lealdade escassa, um homem quebrado pode ser mais perigoso que qualquer espião treinado.
James Hawes entrega uma obra tensa, sombria e profundamente humana. E Rami Malek, mais uma vez, nos lembra por que seu talento está entre os mais versáteis de sua geração.
Nota final: ⭐⭐⭐⭐ (4/5)
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