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[CRÍTICA] The Alto Knights: Máfia e Poder — entre lendas, tiros e espelhos

  • Foto do escritor: Manu Cárvalho
    Manu Cárvalho
  • 21 de mar.
  • 5 min de leitura

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

Máfia, respeito, atuação e performance são as maiores qualidades de The Alto Knights
Máfia, respeito, atuação e performance são as maiores qualidades de The Alto Knights (Foto: Reprodução / Black Company)

Quando se pensa em máfia no cinema, o rosto de Robert De Niro vem quase automaticamente à mente. Desde os tempos de O Poderoso Chefão - Parte II e Os Bons Companheiros, o ator eternizou gêngsteres icônicos com camadas de violência, silências e olhares que diziam mais que palavras. Em The Alto Knights: Máfia e Poder, lançado em 20 de março de 2025, De Niro retorna ao seu universo mais emblemático — mas dessa vez, em dobro.


Dirigido por Barry Levinson, com roteiro de Nicholas Pileggi, o filme se debruça sobre a rivalidade histórica entre Vito Genovese e Frank Costello, dois titãs da máfia ítalo-americana dos anos 1950. A grande novidade? De Niro interpreta ambos, em um jogo de espelhos que promete ser o grande diferencial da produção. Mas até onde essa dualidade funciona?

E o quanto o filme consegue honrar o legado de seus personagens e do gênero que representa?


A sinopse: uma guerra fria nas vielas da Cosa Nostra

O roteiro de Pileggi não perde tempo com floreios. Em pleno pós-guerra, os Estados Unidos veem a máfia organizar-se como nunca, e dois nomes disputam a coroa invisível do submundo: Vito Genovese, frio, calculista, brutal; e Frank Costello, diplomata, elegante, mais afeito à política que à execução. Ambos foram aliados, mas o poder separa o que a lealdade um dia uniu. O ponto de ruptura chega quando Genovese ordena um atentado contra Costello. Este sobrevive, mas sua influência passa a ruir.


A trama segue paralelamente a ascensão de Vincent Gigante (Cosmo Jarvis), jovem mafioso que executa o plano de Genovese, e a presença das mulheres dos dois chefes: Anna Genovese (Kathrine Narducci), uma figura forte, mas aprisionada em sua condição, e Bobbie Costello (Debra Messing), que vive entre o luxo e o medo.


De Niro por dois: um duelo de introspecção e tênue diferença

A principal cartada de The Alto Knights é, sem dúvida, a interpretação dupla de De Niro. Com ajuda de caracterização, voz e postura, o ator se desdobra para diferenciar dois homens moldados pelo mesmo mundo, mas com visões opostas sobre como governá-lo.

Como Genovese, ele é ameaçador, contido, uma presença que pesa sem precisar gritar. Como Costello, carrega uma dignidade de último cavaleiro de uma era que se desfaz.


O desafio é enorme, mas De Niro, aos 81 anos, não foge. Ele entrega uma performance sutil, embora por vezes marcada por um ritmo mais lento, talvez pela dificuldade natural de imprimir dinamismo a dois papéis tão cerebrais. Ainda assim, sua presença basta para sustentar boa parte da tensão da narrativa.

Calma e estilo, fundamentam toda a ambientação do The Alto Knights
Calma e estilo, fundamentam toda a ambientação do The Alto Knights (Foto: Reprodução / Coletivo Nerd)

O tom da direção: entre o clássico e o burocrático

Barry Levinson sabe contar histórias. De Rain Man a Sleepers, sua carreira se baseou na força do roteiro e dos personagens. Aqui, no entanto, ele parece preso à responsabilidade de fazer "o grande filme da máfia" de novo. O resultado é um longa de ritmo irregular, com sequências impactantes (como a tentativa de assassinato de Costello) intercaladas por longos trechos de exposição e cenas de gabinete que lembram mais uma série de tribunal do que o órgão pulsante do crime.


A ambientação, por outro lado, é primorosa. Os figurinos, cenografia e fotografia mergulham o espectador em uma Nova York onde os ternos valem tanto quanto os silências, e cada sombra pode esconder uma traição. O cuidado estético é visível, mesmo quando o ritmo tropeça.


Personagens femininas: coadjuvantes com voz própria

Debra Messing surpreende como Bobbie, a esposa de Costello. Longe de ser apenas a "mulher do mafioso", ela é mostrada como uma figura influente e complexa. Sua relação com Frank é de cumplicidade e estranhamento, um jogo de aparências e frustrações.

Kathrine Narducci também brilha como Anna Genovese, retratando o desgaste de viver à sombra de um homem como Vito, mas sem nunca perder a dignidade.


Essas mulheres não são apenas ornamento. Elas traduzem, em cenas pontuais mas marcantes, as feridas invisíveis que o poder deixa em quem não o deseja, mas não consegue escapar de sua órbita.


O texto de Pileggi: afiado, mas sem a urgência de outros tempos

Nicholas Pileggi conhece a máfia como poucos roteiristas. Autor de Wiseguy, base para Os Bons Companheiros, ele escreve com propriedade e realismo. Aqui, seu texto é consistente, mas falta-lhe a eletricidade de outrora. Os diálogos são inteligentes, mas raramente memoráveis. Há peso histórico, mas pouco impacto emocional.


O que se vê é um filme que, apesar de contar uma história repleta de possibilidades, parece mais preocupado em ser correto do que em ser inesquecível. Há algo de reverente demais em The Alto Knights, como se temesse ousar.

Como sempre, De Niro dá aulas de atuação e assertividade!
Como sempre, De Niro dá aulas de atuação e assertividade! (Foto: Reprodução / Nexo Jornal)

Comparativos inevitáveis: com quem o filme dialoga?

Não há como assistir a The Alto Knights sem lembrar de O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros, Cassino e até mesmo O Irlandês. O próprio De Niro é um elo direto com esse legado. Mas talvez esse seja também o maior obstáculo do filme: ele dialoga com gigantes e, inevitavelmente, parece menor.


A falta de um personagem como Henry Hill ou Tommy DeVito, figuras com carisma explosivo e imprevisível, faz falta. Genovese e Costello são mafiosos intelectuais, o que é interessante do ponto de vista histórico, mas pouco vibrante na tela.


Recepção da crítica: divisão de opiniões

A recepção da crítica internacional foi morna. No Rotten Tomatoes, o filme acumula 37% de aprovação com base em 92 críticas. No Metacritic, a nota é 46/100. As principais críticas elogiam De Niro, mas criticam o ritmo lento e a ausência de algo realmente novo.


O The Guardian destacou que "a tentativa de dupla atuação é mais um truque do que um recurso narrativo eficaz". Já a Variety foi mais positiva, dizendo que "De Niro prova que ainda domina esse reino como poucos".

Um filme de máfia que entrega exatamente o que propõe
Um filme de máfia que entrega exatamente o que propõe (Foto: Reprodução / TavernaGM)

Bilheteria: quando o peso histórico não paga a conta

Com um orçamento estimado entre 45 e 50 milhões de dólares, o filme arrecadou menos de 10 milhões em escala global até o momento. Um resultado que deve pesar nas contas da Warner Bros., especialmente considerando a esperança de que fosse um dos grandes dramas adultos do ano.


A baixa bilheteria acende um alerta sobre o futuro de filmes desse gênero. Está o público cansado da máfia? Ou o problema está na forma como ela está sendo contada?


The Alto Knights: uma aula de interpretação presa em uma narrativa sem pulsação

The Alto Knights: Máfia e Poder é um filme elegante, bem produzido, com atuações competentes e intenções nobres. Mas também é um filme que parece andar em ponto morto. Não falta competência. Falta risco. Falta sangue nas veias.


Ainda assim, para os fãs de cinema de máfia, é uma experiência que vale pela presença de

De Niro, pelas camadas históricas e pelo prazer de ver um gênro clássico sendo tratado com respeito. Para quem busca uma experiência cinematográfica visceral, talvez não seja aqui. Mas para quem entende que, muitas vezes, os grandes confrontos são internos, silenciosos e sem testemunhas, The Alto Knights tem muito a oferecer.


Nota final: ⭐⭐⭐½ (3,5/5)

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