Hoje, a floresta amanheceu em silêncio, como se até as árvores lamentassem a partida de uma de suas mais bravas defensoras. Nos despedimos de Tuíre Kayapó, uma mulher cuja força e determinação reverberaram além dos limites de seu povo, ecoando por todo o Brasil e pelo mundo. Mais do que uma ativista, Tuíre foi um símbolo vivo de resistência, uma guerreira incansável que lutou até o último fôlego por seus ideais, pelo meio ambiente, e pela sobrevivência de seu povo.
Nascida no coração da Amazônia, Tuíre Kayapó cresceu em meio às tradições e ao conhecimento ancestral de sua comunidade. Desde cedo, ela compreendeu a importância de sua terra, não apenas como um território, mas como a essência da vida de seu povo. Era uma criança quando começou a ouvir as histórias sobre os invasores que, com máquinas e motosserras, avançavam sobre a floresta, devastando tudo em seu caminho. E foi ainda jovem que decidiu que sua voz não se calaria diante das injustiças.
A imagem de Tuíre, com seu cocar imponente e o rosto pintado com as cores da resistência, se tornou um ícone de luta quando, em 1989, ela desafiou um dos mais poderosos homens de seu tempo. Em um ato de coragem que o mundo jamais esquecerá, Tuíre ergueu seu facão contra o então diretor da Eletronorte, durante uma reunião que discutia a construção da Usina Hidrelétrica de Kararaô (atual Belo Monte). O gesto foi mais do que um protesto – foi um grito de dor e de resistência, um aviso de que aquela terra não seria tomada sem luta.
A partir daquele momento, Tuíre se tornou uma das principais vozes na defesa dos direitos dos povos indígenas e do meio ambiente no Brasil. Suas batalhas não foram travadas apenas contra os grandes projetos que ameaçavam a Amazônia, mas também contra a invisibilidade e o descaso que o poder público reservava aos povos originários. Ela percorreu o Brasil e o mundo, levando a mensagem de que a luta pela preservação da floresta é, antes de tudo, uma luta pela vida.
Tuíre Kayapó era uma mulher de poucas palavras, mas de ações poderosas. Suas mãos, calejadas pelo trabalho na roça, carregavam a sabedoria de gerações. Seu olhar, firme e determinado, não conhecia o medo. E sua voz, mesmo que às vezes abafada pela força dos poderosos, nunca deixou de ecoar pelos cantos da floresta, inspirando outros a seguir seus passos.
Hoje, Tuíre não está mais entre nós, mas seu espírito permanece vivo em cada árvore que balança ao vento, em cada rio que corre livre pela floresta, em cada criança indígena que cresce com o sonho de proteger sua terra. Seu legado é profundo, enraizado no solo fértil da resistência. Fica para nós a responsabilidade de continuar essa luta, de honrar sua memória e de garantir que as futuras gerações conheçam e se inspirem na história de uma mulher que nunca desistiu.
Tuíre Kayapó, sua jornada foi de coragem e fé. Sua vida, um exemplo eterno de que a luta pelo que é justo nunca deve cessar. Hoje, as páginas da história se curvam diante de sua grandeza, e a Revista Pàhnorama te presta esta homenagem, com o coração cheio de gratidão e respeito. Que sua memória seja eterna, assim como a floresta pela qual você lutou.
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