Elon Musk cria o “America Party” e rompe com Trump: uma reviravolta política nos EUA
- Manu Cárvalho
- há 4 dias
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Por Manu Cárvalho

No mesmo dia em que os Estados Unidos celebravam o 4 de Julho — feriado de Independência —, Elon Musk, bilionário e CEO de empresas como Tesla, SpaceX e X (ex-Twitter), surpreendeu o país ao anunciar a criação de um novo partido político, o “America Party”. A decisão veio após semanas de desentendimentos públicos com o atual presidente Donald Trump, com quem Musk mantinha uma aliança política até recentemente.
O anúncio foi feito nas redes sociais de Musk, acompanhado dos resultados de uma enquete que ele mesmo havia publicado na plataforma X. A maioria dos votantes — mais de 65% de um total de 1,2 milhão de participantes — respondeu ser favorável à criação de um novo partido político. “Vocês querem um novo partido político numa proporção de 2 para 1, e vocês o terão”, escreveu Musk.
Da aliança ao confronto direto com Trump
O rompimento com Trump é mais do que simbólico — é estratégico. Musk vinha sendo um dos principais apoiadores do governo Trump nos bastidores e chegou a integrar, informalmente, iniciativas do alto escalão voltadas à “eficiência governamental”. O apoio, no entanto, começou a ruir após a aprovação do polêmico “One Big Beautiful Bill”, um pacote de gastos públicos no valor de US$ 3,3 trilhões, considerado por Musk como “insustentável” e um “suicídio político”.
O bilionário criticou publicamente o projeto e, em resposta, Trump insinuou retaliações, incluindo possíveis cortes de contratos federais com empresas ligadas a Musk. O clima azedou de vez quando o presidente declarou que “os bilionários que não sabem onde está sua lealdade vão aprender do jeito mais difícil”.
O que é o America Party?
Segundo Musk, o America Party nasce com a missão de romper o que ele chama de “unipartidarismo disfarçado” nos EUA, referindo-se à forma como democratas e republicanos têm, segundo ele, negligenciado a população em nome de interesses financeiros e partidários.
O objetivo inicial é conquistar um pequeno, mas decisivo, número de cadeiras no Congresso: de 2 a 3 no Senado e entre 8 e 10 na Câmara dos Deputados. Com isso, o novo partido pretende ser um “fator de equilíbrio” em votações importantes. "Se formos decisivos em votações-chave, seremos relevantes desde o primeiro dia", disse Musk em vídeo divulgado logo após o anúncio.
Quem pode se alinhar a Musk?
Embora o partido seja novo, a movimentação já atrai o olhar de figuras políticas independentes, libertários e até alguns republicanos moderados descontentes com os rumos atuais da legenda. Entre os possíveis nomes sondados para integrar o America Party estão ex-governadores, CEOs e influenciadores digitais com discursos voltados à inovação, tecnologia e liberdade econômica.
A proposta também é popular entre o público jovem e urbano, especialmente usuários da plataforma X, onde Musk tem grande influência. Internamente, o partido deverá se organizar nas próximas semanas para registro oficial, captação de recursos e formação de diretórios estaduais.
Desafios pela frente
Apesar da força midiática de Elon Musk, o caminho para consolidar um terceiro partido político nos EUA é historicamente difícil. O sistema bipartidário é profundamente enraizado e criar uma legenda nacional exige não só capital financeiro, mas articulação, base eleitoral, tempo de exposição e uma pauta clara.
Especialistas em política norte-americana alertam para a possibilidade de o America Party atuar mais como um “partido spoiler”, que divide votos da direita e, involuntariamente, favorece os democratas em disputas eleitorais apertadas — como já aconteceu em outras eleições com partidos como o Verde (Green Party) ou o Libertário.
Como isso impacta o cenário político?
A entrada do America Party muda o tabuleiro. Com Trump tentando a reeleição e os democratas buscando manter a base de Joe Biden, a divisão no campo conservador pode gerar um efeito dominó em estados-chave, onde a diferença entre candidatos é de poucos pontos percentuais. Além disso, o discurso antipolítica tradicional de Musk pode atrair um público descrente, mas ativo.
A médio prazo, se o partido conseguir realmente eleger representantes, poderá se tornar um fiel da balança em votações importantes, com poder de barganha sobre pautas como orçamento, defesa cibernética, regulação de inteligência artificial e política industrial.
Mais do que um partido, um novo capítulo?
Elon Musk é, inegavelmente, um dos personagens mais imprevisíveis e influentes do século XXI. Seu mergulho no mundo da política institucional marca uma nova fase em sua jornada pública — e, possivelmente, um novo capítulo na própria história política dos Estados Unidos.
Ainda é cedo para saber se o America Party será apenas mais uma sigla simbólica ou se se tornará uma força política real, capaz de desequilibrar o jogo em Washington. O certo é que, com Musk à frente, o partido já nasce cercado de atenção, expectativa — e controvérsia.
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