O que esperam da mulher negra empoderada
- Marcele Oliver
- 16 de set.
- 2 min de leitura
Entre o símbolo e o fardo

Hoje, como mulher negra e mãe de duas meninas pretas, levanto uma reflexão necessária sobre o chamado “empoderamento”. Não é novidade que mulheres negras viveram um processo de aceitação distinto de outras: cabelos, nariz, boca — todos os marcadores da negritude que, por muito tempo, foram lidos como defeito.
A revolução da geração Tombamento
Em meados de 2014, uma micro revolução feminina ganha força. A palavra “empoderada” se consolida como símbolo feminista, uma espécie de girl power para mulheres pretas. Cabelos coloridos, bocas pintadas, roupas ousadas e muita atitude. A geração do Tombamento, puxada por nomes como Karol Conká — careca e de cabelo rosa —, abre caminho para uma nova estética e um novo discurso de identidade.
O empoderamento como cobrança social para a mulher negra
Avançamos para 2025 e o termo, por vezes, se torna um fardo. O caso de Iza, que foi traída durante a gestação e exposta em redes sociais, escancarou a forma como a sociedade cobra coerência quase inumana de mulheres negras públicas. Comentários como “fala sobre empoderamento mas aceita traição” ou “canta uma coisa e faz outra em casa” revelam a crueldade desse pedestal. Até a apresentadora Cariúcha atacou a cantora, questionando a distância entre o discurso no palco e a vida pessoal.
Beyoncé também não escapa
O fenômeno se repete no exterior. Beyoncé, que também passou por uma traição, é acusada de “hipocrisia” por fãs e críticos. A cantora, que construiu hinos de autoestima e força feminina, vira alvo de julgamentos que desconsideram a complexidade da vida privada.

Mas quem decretou que uma mulher empoderada não pode ter fragilidades? Ser dona de si é, antes de tudo, exercer a liberdade de viver como quiser: seja no palco, seja em casa, cuidando da família, chorando ou se reconstruindo.
Não é de hoje. Tina Turner, Frida Kahlo, Nina Simone e Whitney Houston — todas revolucionárias, todas marcadas por relações tóxicas. Por trás das mulheres que inspiraram gerações, existiam lágrimas. E está tudo bem.
Empoderar o coletivo é mais fácil que se autoempoderar
Talvez por isso figuras públicas como Iza sejam tão cobradas. É mais fácil cobrar uma “referência” do que olhar para as próprias vulnerabilidades. Mas empoderar uma irmã é, muitas vezes, mais viável do que se autoempoderar.
O essencial é termos mulheres reais para nos inspirar. O empoderamento não transforma ninguém em super-heroína: ele floresce na mulher que decide ser quem é, sem medo.
E você: o seu empoderamento te humaniza, ou ainda te aprisiona em expectativas que não são suas?







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