O Brasil está voltando das Olimpíadas de Paris com 20 medalhas na bagagem: três de ouro, sete de prata e 10 de bronze. Várias crianças e jovens negros, pobres e periféricos se viram representados ao assistirem Rebeca Andrade, Beatriz Santos e os demais atletas subirem ao pódio. Esse é o plano!
Caio Bonfim trouxe uma medalha de prata para uma modalidade que, até então, jamais havia subido ao pódio olímpico: a marcha atlética. Para quem não está familiarizado, a marcha atlética é aquela em que o atleta rebola quando marcha. Um passo que requer grande preparo físico e, em se tratando de um país machista como o nosso, altas doses de coragem, paciência e abnegação, já que muitos desocupados se comprazem em bombardear os marchadores com toda sorte de piadinhas. Caio calou a boca desse povo, projetou o esporte e decerto arregimentará outros tantos jovens para a prática e – tomara! – a conquista de medalhas em futuras competições. Esse é o plano!
Beatriz Santos já vinha com um histórico de campeã de judô na categoria pesos-pesados para mulheres. Se mulheres negras já são discriminadas por serem mulheres e serem negras, se estão acima dos padrões convencionais de beleza física, o preconceito aumenta. Com sua bela e combativa serenidade disciplinada, Beatriz foi comendo o mingau pelas beiradas, venceu as oponentes de mansinho e, na final – suprema hironia – derrotou uma israelense sionista. Mulheres que têm a mesma compleição física de Bia decerto se sentiram representadas. Muitas delas com certeza agora se sentem empoderadas. Outras tantas, principalmente as mais jovens, irão querer aprender judô, seja para seguirem os passos de Bia, seja para aprenderem a se defender e darem um susto nos boçais de plantão. Esse é o plano!
Rebeca Andrade é filha de mãe solo de sete filhos. Ia treinar a pé, em companhia do irmão, e gastava duas horas de caminhada por dia. A mãe, com muito custo, conseguiu comprar uma bicicleta para que os dois pudessem encurtar o deslocamento. Rebeca conquistou o ouro olímpico, tornou-se a atleta brasileira mais premiada das Olimpíadas e abriu caminho para muitas meninas como ela estarem nos pódios daqui a um tempo. Esse é o plano!
Vejo nas redes sociais imagens que viralizaram de crianças, em terrenos e em descampados de todo o Brasil, treinando salto com vara, corrida com obstáculos, arremesso de disco etc. E vejo também notícias de centros de treinamento que viram o número de interessados dobrar, triplicar e até quadruplicar. Daqui a pouco, se Deus quiser, haverá mais centros de treinamento e também mais escolas públicas com ensino de qualidade e com intenso incentivo à prática de diversas modalidades esportivas. Afinal, uma coisa puxa outra, e nosso sistema de ensino terá de fazer de tudo para reter talentos esportivos e transformá-los em talentos aptos para atuar em todas as áreas profissionais. Esse é o plano!
Os governantes e o empresariado, por sua vez, concluindo finalmente que os pobres e excluídos não são o problema do país, mas a solução, defenderão o bolsa-atleta com unhas e dentes e se empenharão em criar cada vez mais políticas de incentivo à formação de atletas, bem como condições para que eles possam treinar e também se capacitar profissionalmente. Esse é o plano!
Por fim, os reacionários e conservadores de sempre, ao verem o sucesso do sistema educacional e esportivo, se verão impelidos a mudar de opinião e a perceber que seus argumentos ultrapassados não mais se sustentam. E se porventura insistirem em trafegar na contramão do progresso da humanidade, seja por qual caminho ele vir, serão tragados pelas areias do tempo e varridos pelos ventos das mudanças. Esse é o plano!
Marcelo Teixeira
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