Fala considerada racista causa expulsão de escritora do Flipoços e acende alerta sobre preconceito no meio literário
- Manu Cárvalho
- 4 de mai.
- 2 min de leitura
Por Manu Cárvalho

O Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), conhecido por reunir grandes nomes da literatura nacional e promover debates relevantes, acabou sendo marcado por um episódio polêmico e doloroso. Durante uma palestra no evento, a escritora Camila Panizzi Luz fez uma declaração que foi interpretada como racista e ofensiva, interrompendo o clima de entusiasmo que tomava conta do público.
Enquanto dialogava com o escritor Wesley Barbosa, conhecido por sua produção dentro da chamada literatura marginal, Camila interrompeu sua fala para fazer um comentário que soou como deboche: “Como que faz para ser neomarginal?”, disse, em tom leve. E continuou: “Eu quero ser uma neomarginal, gente, olha que tudo. Camila Luz, neomarginal, nunca fui presa.”
Repercussão imediata e reações do público
A fala gerou desconforto imediato entre os presentes. Wesley Barbosa, visivelmente constrangido, relatou depois que se sentiu atacado e humilhado. Para ele, o comentário banalizou a trajetória de escritores periféricos e reduziu a literatura marginal a uma caricatura associada à criminalidade.
Nas redes sociais, o público não perdoou. Rapidamente, vídeos da fala de Camila se espalharam, acompanhados de críticas sobre a forma como o racismo estrutural ainda se manifesta — inclusive em espaços que deveriam ser de acolhimento, como os festivais literários.
VÍDEO:
Posicionamento firme da organização do evento
Diante da repercussão negativa, a organização do Flipoços se pronunciou no dia seguinte. Em nota oficial, classificou o comportamento da autora como “inaceitável” e anunciou o rompimento dos vínculos com Camila.
A medida incluiu a retirada imediata de seus livros do evento, além do cancelamento de todas as suas participações futuras na programação. A coordenação reforçou o compromisso do festival com a promoção da diversidade e o combate a qualquer forma de preconceito.
Não foi um caso isolado: novo episódio com livreiro agrava a situação
O episódio com Wesley Barbosa não foi o único envolvendo Camila Panizzi Luz. De acordo com relatos, a autora também teria feito comentários gordofóbicos ao discutir com um livreiro, reforçando estereótipos e preconceitos que vão na contramão da luta por inclusão.
A sucessão de episódios levou outros autores e coletivos a se manifestarem, exigindo mais responsabilidade dos convidados e curadores de eventos culturais.
Camila pede desculpas, mas impacto permanece
Em meio à crise, Camila Panizzi Luz divulgou uma nota de desculpas. Disse que não teve a intenção de ofender e que ainda está em processo de aprendizado. No entanto, para muitos, a reação foi tardia e insuficiente.
O episódio evidenciou o quanto ainda é necessário discutir racismo estrutural e privilégio em espaços de fala, especialmente no campo da arte e da cultura, onde a escuta e o respeito à vivência do outro deveriam ser prioridade.
Apoio a Wesley Barbosa e reflexões necessárias
Wesley Barbosa, por sua vez, recebeu apoio de diversos colegas escritores, do público e até de vereadores de Poços de Caldas, que emitiram moções de solidariedade. Em entrevistas, o autor destacou a importância da literatura na construção de sua autoestima e pediu que o caso sirva de aprendizado coletivo.
O incidente levanta um ponto fundamental: mais do que abrir espaços, é preciso que esses espaços sejam respeitosos, diversos de fato e atentos às estruturas que silenciam vozes historicamente marginalizadas.
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