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Falta de estrutura é falta de amor

  • Foto do escritor: Marcelo Teixeira
    Marcelo Teixeira
  • 23 de jun.
  • 3 min de leitura
Falta de estrutura é falta de amor
Reprodução/Internet

Estudei em escola pública por toda a minha vida. A única exceção foi o pré-vestibular. E como cria da escola pública, do antigo jardim de infância ao segundo grau, presenciei alguns fatos relacionados à – vejam vocês – falta de amor. Sim, o amor passa também pelo cuidado com o que é público, a começar pelo ambiente escolar.

 

Vou começar narrando um episódio que aconteceu quando eu tinha 6 anos. Estudava no Colégio Estadual Pedro II, um prédio imenso e antigo, com muitas salas. As turmas do jardim de infância funcionavam num espaço bucólico, um cômodo grande e comprido, com várias portas de vidro, que foi dividido em salas graças a paredes de Eucatex. Um belo dia, uma dessas paredes caiu, e a sala onde eu estudava foi a escolhida para assistir a parede vindo ao chão.

 

Foi um estrondo só! As crianças de ambas as turmas se entreolharam, assustadas. As professoras acorreram, pressurosas e chateadas, pois o fato poderia ter machucado uma criança. Por sorte, nenhum de nós estava próximo á parede. Anos depois, já adulto, ao rememorar esse episódio, questionei e ainda questiono o porquê de não haver de um prédio tão grandioso ter de funcionar de forma tão improvisada para acomodar três ou quatro turmas do jardim de infância. Talvez o problema era justamente esse. Uma escola grande demais, com turmas e alunos demais.

 

Atestei isso quando passei para a primeira série do antigo ensino primário. Eu, com 7 anos, dividia a turma com colegas que já tinham 12 e até 13 anos. E turmas sempre cheias, com cerca de 40 alunos. Escola pública tem disso e rima com falta de amor, embora as Secretarias de Educação espalhadas por aí talvez nem se deem conta. Impossível atender a todas as crianças e jovens, de forma satisfatória, em turmas tão abarrotadas.

 

O que mais denotava (e até hoje denota) para mim, total falta de amor, é a precariedade dos banheiros. Resumindo: privadas sem tampa.

 

Eu era criança e os vasos sanitários não tinham tampa. Fiquei adolescente e a situação não mudou. Já adulto, participando de atividades profissionais em instituições educacionais da rede municipal ou estadual, ou trabalhando como voluntário em seções eleitorais instaladas em colégios públicos, sempre deparei com a mesma questão: privadas sem tampa.

 

Não sei se esse fato é inerente à minha cidade, ao meu estado ou ao país inteiro. Mas sou da opinião de que o amor pela educação e pelos estudantes deve ser expressado de todas as formas. Como crianças e adolescentes se sentirão acolhidos e estimulados a estudar se os vasos sanitários não têm assento? Vou mais longe na questão: carteiras rabiscadas, professores pouco estimulados e mal remunerados, falta de equipamento de ponta, merenda escolar precária, salas de aula pouco arejadas ou com o sol a pino batendo na cara dos estudantes... A falta de amor que acomete o Brasil e o mundo se reflete na escola pública também, inclusive no descaso dos alunos para com o local.

 

O filósofo e escritor francês Alain de Botton costuma dizer que a arquitetura não deve ser apenas erguer prédios. O prédio da escola, objeto deste artigo, deve dizer – em seu traçado, janelas, disposição das carteiras e equipamentos – que aprender é um barato. Uma arquitetura que traduza acolhimento, estímulo e amor, acima de tudo.


Quando esse tipo de preocupação tomar conta não só da educação, mas também da saúde, do mobiliário urbano, das ruas, praças, parques, teatros etc. duvido que haja pichações, vandalismo, depredações e afins. Mas isso é papo para quando entendermos o que de fato significa o amor e suas mais diversas expressões.

 

Marcelo Teixeira

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