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Flamenguista acidental

Marcelo Teixeira

O fato que narrarei a seguir ocorreu em 2008. Nesse ano, o Fluminense F. C. foi um dos finalistas da Taça Libertadores da América.

 

Nunca fui fã de futebol. Bem que tentei, na infância, torcer para esse o aquele time para acompanhar meu pai, meu irmão ou amigos. Mas não rolou. Nunca achei graça em ficar assistindo a partidas de futebol pela TV e se esgoelar para comemorar gols e vitórias que em nada mudariam a minha vida. E também nunca fui bom com uma bola nos pés. Sou mais da colaboração; competição não é comigo. Talvez por isso goste mais de vôlei. Nele, as equipes ficam cada uma de um lado da quadra, jogando em grupo para mandar a bola para o outro lado, sem necessidade de um corpo a corpo sem sentido para mim, embora seja uma competição.

 

Mas voltemos à primeira década deste século, época em que cursava meu segundo curso universitário – jornalismo – nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), onde também me graduei em publicidade, anos antes. A Facha ficava em Botafogo, bairro da Zona Sul carioca. Nesse período, eu trabalhava no Rio também.

 

Eu havia escolhido trajar calça de brim preta e camisa polo vermelha naquele dia, ou seja, as cores do Flamengo, time de futebol do Rio de Janeiro. Peguei essas duas peças por estarem limpas e prontas para serem usadas. Escolhi-as como teria escolhido uma camisa verde e uma calça cáqui, uma camisa listrada e uma calça cinza etc.

 

Desci a serra, resolvi as coisas do trabalho e rumei para a faculdade. Era um dia em que eu saía mais cedo da Facha. Pelo fato de ser minha segunda habilitação em comunicação social, havia dias em que eu não tinha muitas aulas.

 

Tão logo saí da instituição, rumei à estação de metrô do Flamengo. Meu objetivo era desembarcar na estação do Largo da Carioca e pegar o ônibus para Petrópolis no Terminal Meneses Côrtes. A estação Flamengo é bem tranquila, e pela hora – 20h – ficava mais tranquila ainda. Havia pouquíssimas pessoas na plataforma de embarque.

 

Quando o trem parou e uma das portas se abriu para eu entrar, tomei um susto. O vagão estava coalhado de torcedores do Fluminense; todos vestidos a caráter. Era a turma que ia assistir à partida entre o Tricolor das Laranjeiras e um time latino por mais uma rodada da Libertadores.

 

Todos os tricolores me olharam de cima a baixo e um silêncio ensurdecedor tomou o ambiente. Fiz cara de paisagem, entrei e tomei meu lugar em pé, já que não havia assentos disponíveis.   

 

Fiquei na minha e não dei a mínima confiança. Fiz que não era comigo. E não era mesmo, já que futebol não é minha praia. A viagem seguiu seu curso normalmente. Ninguém me incomodou. Desci na estação Carioca e tomei o ônibus para Petrópolis. Fiquei aliviado, confesso. 

 

No dia seguinte, na faculdade, comentei o acontecido com um colega flamenguista. Ele contemporizou: - Marcelo, a torcida do Fluminense é tranquila. Se fosse a do Vasco, aí sim você teria problema!

 

Usei esse episódio quando escrevi a peça teatral “A Musa de Todas as Torcidas”, em que homenageio as torcidas dos quatro grandes times cariocas: Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense. Creio que o fato de eu não ter time de futebol ajudou muito para que a história fluísse. Pude tirar sarros memoráveis dos quatro à vontade!

 

Termino essa crônica pedindo aos amigos rubro-negros, vascaínos, tricolores e botafoguenses que comentem a fala do meu amigo. Teria eu saído vivo do metrô se o vagão estivesse lotado de torcedores do Vasco da Gama? Os tricolores são o topo da civilização quando se fala em torcida? Fico no aguardo.


Marcelo Teixeira



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