Nos últimos anos, vivemos uma explosão de tendências “core” nas redes sociais e, em especial, com a crescente do Tik Tok. Desde o cottagecore, que celebra a vida campestre e a simplicidade, até o Barbiecore que potencializa o fascínio pelo universo rosa e glamourizado da boneca mais famosa do mundo.
Em contrapartida, a conteúdos de consultoras de imagem e estilo e alguns entusiastas de moda que prezam pelo "elegante" ou"tenha cara de rica", surge a tendência fubangacore. Uma proposta estética singular que resgata elementos da cultura de moda popular, incorporando referências do cotidiano periférico e suburbano, trazendo novas referencias de vestimenta e comportamento para o cenário digital.
É claro que nem todo mundo do subúrbio se veste como o"fubangacore". Os que muitos chamam de "fubanga" (o tal brega e cafona) que é comumente atrelado a roupas comuns das classes baixas, vira tendência quando é aclamado no palco de influenciadores.
E por isso, sempre faço questão de lembrar que a moda trabalha também a partir de tensões de classes, especialmente quando se trata da forma como esses espaços e suas estéticas são retratados. Parece que por aqui só há camisa de time, short jeans e combinações de estampas.
Em contrapartida, quem ascende socialmente e se desloca desses bairros, quer se diferenciar a partir de símbolos de status completamente identificáveis em espaços sociais, como as marcas. Vou te dar um exemplo que vai deixar isso mais fácil!
Em 2012, com certeza você parou para assistir Avenida Brasil e Cheias de Charme. E o que essas novelas tinham em comum?

O exagero nos símbolos de status e pertencimento dos personagens de classes mais baixas, especialmente quando alcançam a ascensão social. As icônicas personagens de Carminha e Chayene personificavam essa luxuaria emergente, onde o uso de peças marcantes, brilhantes e carregadas de referências do consumo popular passa a comunicar poder e pertencimento. Para comunicar sobre roupas usuais do suburbio, temos a personagem de Suelen que exibe croppeds, calça de cintura baixas, acessórios brilhantes e unhas alongadas.

O subúrbio, em ambos os casos, aparece como um espaço de inovação estética, ainda que sempre à sombra de uma hierarquia social que o deslegitima. XX
Agora, observando o "fubangacore" ganhando corações, vejo uma estética que carrega uma crítica cômica às noções de elegância e status. Então questiono o seguinte:
Até quando essas estéticas só serão validadas quando chamadas por termos pejorativos e exibidas em corpos que não representam a realidade daqui?
E então, deixo essa reflexão: por que essas estéticas continuam a ser vistas como
"exóticas", mesmo sendo, sim, repleta de estilo e identidade?
Comments