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Histórias que me contam

  • Foto do escritor: Marcelo Teixeira
    Marcelo Teixeira
  • 3 de fev.
  • 3 min de leitura

Histórias no trânsito

Boas histórias são sempre bem-vindas. Certa vez, durante um seminário, ouvi, de Leonor Bassères, que era colaboradora do autor de novelas Gilberto Braga: “Onde houver uma boa história, sempre haverá um público disposto a ouvi-la ou acompanhá-la”.

 

Leonor tinha razão. Gostamos de boas histórias e paramos para ouvi-las, lê-las, acompanhá-las no cinema ou na TV... Se não fossem as boas histórias, dramaturgos como William Shakespeare e Nelson Rodrigues, autores de livros como Machado de Assis e José Saramago, só para citar alguns dentre milhares, não seriam lidos, encenados e comentados em todos os tempos para se tornarem atemporais.

 

Digo isso tudo porque adoro boas histórias. E talvez pelo fato de eu escrever e fazer palestras (sou expositor espírita), volta e meia alguém me conta uma história. Além disso, gosto de, por exemplo, puxar conversa com pessoas que estão me prestando serviço: pedreiros, taxistas, serralheiros... Por isso, resolvi contar duas histórias que nunca coloquei no papel e que me foram contadas por homens.

 

A primeira delas me foi contada após uma palestra que proferi acerca de harmonia familiar. Não vou dizer a cidade para resguardar ao máximo a identidade do então interlocutor.

 

Um rapaz na casa dos 20 anos me abordou para contar a própria história. Ele não fora criado pelos pais e não convivia com os dois irmãos. O motivo era pra lá de inusitado e, ao mesmo tempo, lamentável. A mãe nunca quis criar filhos homens. Por isso, quando o filho mais velho nasceu, foi entregue aos padrinhos. Quando o do meio (no caso, meu interlocutor) veio à luz, os avós paternos assumiram a guarda. Fico imaginando a cabeça desses dois meninos. Foram renegados pela mãe! E imagino também o que se passa na cabeça do pai para aceitar tamanho disparate. Vínculos entre pais e filhos e entre os irmãos não foram criados. Finalmente, quando nasceu a menina (a caçula), a genitora finalmente se dispôs a criá-la. A vida, então, seguiu. Quando esta menina estava quase completando 18 anos, engravidou de um namorado. E – adivinhem – deu à luz gêmeos! Dois meninos! E como voltou a estudar depois que as crianças nasceram, coube à mãe dela cuidar dos dois. Isso mesmo, a mulher que rejeitara os filhos homens por não querer criar meninos se viu obrigada a olhar pelos netos homens, gêmeos idênticos. A lei de causa e efeito prega umas peças memoráveis.

 

A segunda história me foi contada por um taxista, numa sexta-feira à noite, num já longínquo ano de 1990, quando peguei um táxi no bairro carioca de Copacabana em direção à Rodoviária Novo Rio. Conversa vai, conversa vem, ele, que deveria ter uns 40 anos, me disse que era divorciado e não tinha filhos. Depois de um tempo sozinho, envolveu-se com uma moça, de quem estava gostando. Ela, então, engravidou dele. Nosso personagem motorista ficou muito feliz, pois sempre quis ser pai. Passado um tempo, a moça viajou para outro Estado, onde residiam os familiares. Alegou que iria contar a novidade e ficar um pouco próxima a eles. Só que ela nunca mais voltou. Pior: abortou sem o conhecimento dele. Logo depois do acontecido, ele soube, por meio de uma amiga em comum, que ela estava grávida de gêmeos. Quando ele disse isso, uma lágrima escorreu de seu olho direito (eu estava no banco do carona). Ele, então, falou: “Por que ela fez isso comigo? Eu estava gostando dela e sempre quis ser pai. Por que ela não me consultou? Eu poderia muito bem criar as crianças!” Logo em seguida, chegamos ao meu destino. Consolei-o como pude, desejei boa sorte, paguei a corrida e desci.

 

E até hoje me pego pensando em como há histórias como essas perdidas por aí e esperando para ser contadas. Talvez estejam esperando por um bom ouvinte.

 

Marcelo Teixeira

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