Implanon no SUS: um passo histórico e importante na saúde das brasileiras
- Manu Cárvalho
- há 5 dias
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Por Manu Cárvalho

O acesso à contracepção segura e eficaz ainda é um desafio para milhões de brasileiras, especialmente aquelas que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Mas um novo capítulo nessa história acaba de ser escrito: o Ministério da Saúde anunciou que o implante contraceptivo Implanon será incorporado à rede pública de saúde. A previsão é de que a distribuição gratuita comece já no segundo semestre de 2025.
A medida é considerada um avanço importante para a saúde pública, principalmente por democratizar o acesso a um método de alta eficácia e longa duração, antes disponível apenas na rede privada, com valores que chegavam a até R$ 4 mil.
O que é o Implanon e como ele funciona
O Implanon é uma pequena haste flexível, com cerca de 3 cm, que é implantada sob a pele do braço da mulher. Essa haste libera, de forma contínua, o hormônio etonogestrel, responsável por impedir a ovulação. O método oferece proteção contra a gravidez por até três anos, sem necessidade de manutenção ou troca nesse período.
Com índice de falha de apenas 0,05%, o Implanon é mais eficaz do que outros métodos tradicionais como a vasectomia (1 a 1,5 falhas a cada mil) e o DIU hormonal (2 falhas por mil). E mais: a fertilidade costuma retornar em poucos dias após a retirada do implante, tornando-o também uma opção reversível para quem planeja uma gestação no futuro.
Impacto direto na vida das mulheres
A expectativa é que até 500 mil mulheres sejam atendidas nesta primeira fase da distribuição gratuita. Segundo o Ministério da Saúde, o foco será atender mulheres entre 18 e 49 anos, especialmente em situação de vulnerabilidade social, que muitas vezes enfrentam obstáculos para manter o uso contínuo de anticoncepcionais diários ou injetáveis.
O governo prevê a entrega de 1,8 milhão de unidades do Implanon até 2026, com um investimento de R$ 245 milhões. Um valor significativo, mas considerado estratégico para o controle da natalidade não planejada e, consequentemente, para a redução da mortalidade materna e infantil.
Etapas e preparo para a implementação
Com a publicação da portaria que oficializa a incorporação do Implanon ao SUS, o Ministério da Saúde terá 180 dias para estruturar toda a logística de oferta. Isso inclui:
Aquisição dos implantes;
Treinamento de profissionais de saúde para inserção e remoção do dispositivo;
Produção de materiais informativos para usuárias;
Distribuição gradual para os estados e municípios, por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS).
A capacitação dos profissionais é uma etapa essencial para garantir a qualidade do atendimento e segurança do procedimento, que deve ser feito com anestesia local e em ambiente ambulatorial.
Vozes que defendem a medida
Organizações de defesa dos direitos reprodutivos, médicas, enfermeiras e ativistas da saúde da mulher celebraram a decisão. Para elas, oferecer o Implanon na rede pública é mais do que uma política de saúde — é uma ação de justiça social, que garante autonomia sobre o próprio corpo, especialmente para aquelas que historicamente foram privadas desse direito.
Além disso, especialistas reforçam que o Implanon é uma escolha bem-vinda por diminuir a necessidade de ações constantes por parte da usuária. Sem a exigência de lembrar pílulas diárias ou renovar injeções mensais, a eficácia do método se mantém estável, independentemente do estilo de vida da paciente.
Informação também é contraceptivo
Apesar do avanço, é essencial que a medida seja acompanhada de campanhas informativas acessíveis, com linguagem clara e acolhedora, para que todas as mulheres possam conhecer as vantagens e limitações do método. Afinal, o acesso a contraceptivos também passa pelo direito à informação e ao consentimento consciente.
Além disso, o Implanon não protege contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), o que reforça a importância do uso combinado com preservativos, que continuam disponíveis no SUS.
Mais saúde, mais escolhas
A chegada do Implanon ao SUS é um passo firme rumo à equidade na saúde reprodutiva. Em um país onde milhares de gestações ainda são indesejadas e onde o acesso à informação e aos serviços de saúde é desigual, garantir métodos como esse representa uma oportunidade real de escolha para as mulheres.
Mais do que uma ação técnica, é uma declaração de cuidado com o futuro das brasileiras — em especial, das que mais precisam.
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