Por Silver D'Madriaga Marraz
O filme americano “Meninos não choram” conta a história de Brandon Teena, uma mulher que escolhe se passar por homem. Ela inicia um caso de amor com uma mãe solteira da zona rural de Nebraska e sofre um estupro feito por garotos como resultado da descoberta de sua transexualidade. Esta ficção é um retrato muito comum na sociedade brasileira, na qual mulheres e transexuais convivem diariamente.
A cultura do estupro calcada em valores patriarcais machistas e ignorância social marca negativamente a humanidade e conduz o ser-vítima ao sofrimento e marcas indeléveis de dor, frustração e abalo psicológico. Um contexto macabro que leva mulheres, transsexuais e muitas crianças a serem oprimidas por uma violência brutal cometida por homens – homens? – que acreditam na doentia ideia de que o outro é sua propriedade, principalmente, o corpo de mulheres e crianças, as quais são mais vulneráveis. As trans entram na estatística desumana do preconceito, da intolerância e da discriminação.
Em decorrência disso, vão tentando, ou melhor, foram e ainda continuam tornando comum e natural, a escravização, a opressão e a objetificação de tudo aquilo que faz parte do universo não-machista, não-patriarcal. Fato este que vai de encontro à Constituição Federal Brasileira que reza pela igualdade de direitos e segurança a todos sem discriminação de cor, raça, sexo e classe social.
O maior problema está no silêncio das vítimas, nas ameaças, nas denúncias também não ouvidas pelas autoridades competentes – competentes? – que tornam os casos não tão graves como de fato o são. Além disso, a negligência da população quanto à falta de empatia e respeito ao outro contribuem para a manutenção da ordem despótica deste poder bestial. Assim, o corpo – PROPRIEDADE PRIVADA – não configura nenhuma lei que permita toque sem consentimento, apesar na falsa ideia de homens e muitas mulheres que culpabilizam a própria classe pela ação “vitupéria” dos ditos “homens machos”. Fato este que reforça a ideia da naturalidade irracional e a fala de que a vítima é o opressor.
A cultura do estupro é um problema grave que não pode jamais ser negligenciado doa em quem doer – seja o governo, a igreja ou população. Se não se pode mudar o passado de maus tratos milenares a estes grupos, neste século XXI, qualquer pensamento ou ação que fira o direito e o respeito ao outro deve ser crime inafiançável. Não se pode permitir que a empatia, a segurança, a moral, a ética e a honra sejam substituídas pelo silêncio imposto pelos opressores semelhantes aos da ficção. “Meninos” são crianças, mulheres e transexuais que são estuprados física e psicologicamente nas esquinas da vida e nestas esquinas “meninos” choram, sim.
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