Segundo o Lab Esgotadas, da ONG Think Olga, 45% das mulheres possuem diagnóstico de ansiedade, depressão ou outros transtornos que afetam a saúde mental.
No Brasil, 7 em cada 10 mulheres são mães, de acordo com uma pesquisa recente do Datafolha. Em todo o mundo, as mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado e pelas tarefas domésticas e familiares. Segundo a PNAD Contínua, do IBGE, elas dedicam mais do que o dobro do tempo que os homens aos cuidados da casa e das pessoas - cerca de 23,1 horas por semana, em comparação com 11,7 horas dos homens. Esse esforço para equilibrar o trabalho dentro e fora de casa, especialmente para as mães, resulta em uma sobrecarga de responsabilidades que está cada vez mais adoecendo as mulheres. O Lab Esgotadas, da ONG Think Olga, revelou que 86% das brasileiras consideram ter uma carga excessiva de responsabilidades, e 22% apontam o trabalho doméstico como uma das principais razões para o adoecimento e a insatisfação.
Nos últimos dez anos, o número de domicílios chefiados por mães solo cresceu 17,8%, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões, segundo a FGV com dados da PNAD Contínua. Geralmente associada ao trabalho fora de casa, a Síndrome de Burnout, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença ocupacional, agora ganha um novo termo: "Mommy Burnout". Este termo reflete o esgotamento físico e emocional que muitas mães enfrentam ao tentar equilibrar múltiplos papéis e responsabilidades, muitas vezes sem apoio adequado.
Nana Lima, Diretora da Think Olga, destaca que "o cuidado não é visto apenas como trabalho, mas sim como um exercício de manutenção da vida que faz a sociedade funcionar. Hoje, o burnout continua mais associado ao excesso de trabalho remunerado, e não à rotina exaustiva das mulheres na totalidade, e essa perspectiva precisa mudar. Trazer essa questão para dentro da conversa sobre parentalidade é crucial, pois precisamos encontrar soluções coletivas".
O impacto do burnout materno é abrangente, afetando todas as áreas da vida da mulher. Muitas vezes, as mães que também trabalham fora de casa precisam equilibrar carreira e maternidade, enfrentando uma falta de apoio estrutural que gera exaustão. "A falta de apoio na maternidade é o que gera a exaustão de muitas mulheres. Elas não associam o cuidado à exaustão, mas sim à falta de suporte para cuidar, que frequentemente é imposto como se fosse uma responsabilidade exclusivamente delas", afirma Nana.
A flexibilidade no trabalho é fundamental para apoiar mães que também têm empregos fora de casa. Rotinas de trabalho remoto ou híbrido ampliam oportunidades para as mulheres, as principais responsáveis pelas demandas da maternidade. Um modelo de trabalho flexível pode ser mais produtivo e motivador, desde que seja sustentável e não exija disponibilidade constante.
A Política Nacional de Cuidados, que está sendo articulada pelo Governo Federal em conjunto com a Bancada Feminina da Câmara dos Deputados, visa criar um marco legal que garanta suporte adequado às mães. A proposta de projeto de lei será enviada ao Congresso Nacional até o final de maio. Movimentos da sociedade civil exigem esse marco legal para superar desigualdades sociais e promover a equidade entre os gêneros.
"Para lidar com maternidades diversas, solitárias e vulneráveis, é preciso haver um elo entre políticas públicas e programas que deem apoio às mães com ações adaptadas para diferentes realidades", finaliza Nana.
A implementação dessa política é essencial para garantir que as mães tenham acesso a recursos adequados e uma rede de apoio que permita a redistribuição das responsabilidades, aliviando a sobrecarga e promovendo a saúde mental e o bem-estar das mulheres.
Todas as mães precisam ter essa conversa. Compartilhe suas experiências e reflexões sobre a maternidade e o burnout. Podemos construir juntos um caminho de apoio e compreensão.
Ana Soáres
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