Na última quinta-feira, 30 de janeiro, o estilista Kevin Germanier estreou a primeira coleção na Semana de Alta-Costura Verão 2025, em Paris. Em 2015, venceu o prêmio Ecochic Design Award, proporcionando-lhe um trabalho em Hong Kong. Depois, trabalhou na Louis Vuitton, aprimorando habilidades e aprofundando conhecimentos no mercado de luxo. A marca, homônima, foi fundada pelo estilista em 2018, estreando na Semana de Moda de Paris. E, mesmo com poucos anos de mercado, o reconhecimento é merecido. Kevin se destaca por trazer a sustentabilidade para o foco da alta moda, utilizando materiais descartados, reciclados e técnicas de upcycling, transformando resíduos em peças de luxo vibrantes e futuristas. No mínimo, um movimento muito corajoso e necessário trazer a sustentabilidade como princípio para as passarelas das maiores semanas de moda. Germanier reforça a ideia de urgência na reformulação de toda a cadeia produtiva têxtil da indústria da moda, provando que pode haver beleza luxuosa e design impecável no trabalho de upcycling e reaproveitamento de resíduos.
O estilista, entendendo o aspecto fundamental da moda - principalmente quando falamos de sustentabilidade, que é o trabalho coletivo -, busca a colaboração de outros artistas que têm esse princípio como base de seus trabalhos. Como é o caso do estilista brasileiro Gustavo Silvestre, fundador do projeto Ponto Firme, uma iniciativa voluntária para promover a transformação social através do crochê dentro do sistema prisional. Um projeto de extrema importância, que ainda não recebeu o devido reconhecimento nacional e internacional. O tipo de ideia revolucionária que prova alguns pontos indispensáveis quando pensamos nesta produção cultural que chamamos moda: a superficialidade com com que tratamos a moda é alienante e esconde questões complexas; sua capacidade de transformação social ainda inexplorada; não se trata, apenas, de roupas luxuosas e desfiles espetaculares; há outras formas de se pensar o trabalho em moda, ampliando seu campo de atuação, pensando a sociedade e os problemas contemporâneos; dentre outras questões que pretendo aprofundar em um outro texto, ampliando a discussão sobre esse projeto. Resumindo: um desfile na Semana de Alta Moda de Paris não é o bastante. Na verdade, é o mínimo. Mas fiquemos com esse acontecimento, por enquanto.
A coleção apresentada é o sexto trabalho colaborativo entre essas figuras importantes, evidenciando uma sinergia que combina sustentabilidade, artesanato e inovação. Silvestre desenvolveu sete looks exclusivos para o desfile, confeccionados em crochê com fita metalizada, trazendo um aspecto moderno e futurista à técnica tradicional. O maximalismo brasileiro, em seu trabalho manual e meticuloso, ponto a ponto, em cores e texturas, afirma que seu lugar é, sim, na passarela da alta costura. E que nossos ateliês, oficinas e casas, em suas técnicas centenárias e tradicionais, merecem o mesmo destaque que as maisons daquele distinto quarteirão em Paris.
Renata Freitas
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