O Conceito de democracia racial no Brasil e sua influência no racismo contemporâneo
- Ana Soáres
- 21 de fev. de 2024
- 2 min de leitura
Conceitos que muitas vezes obscurecem as disparidades e injustiças raciais ainda presentes na sociedade brasileira

A fim de desmistificar a democracia racial e expor a profundidade das políticas (públicas e privadas) de favorecimento branco, iniciamos hoje uma série de matérias voltadas para esse contexto.
Ao compararmos o Brasil com países europeus, como a Espanha, podemos ficar tentados a ver o nosso país como um lugar extraordinário, um exemplo de harmonia racial e uma democracia mestiça. No entanto, essa visão de uma convivência pacífica entre diferentes raças deve ser considerada um mito.
Durante o período em que o Brasil era uma colônia portuguesa, o país enfrentava pressões internacionais, especialmente da Inglaterra, para abolir a escravidão. Enquanto as discussões iniciais se concentravam no fim do tráfico de escravos, foi apenas a partir de 1850 que as pressões se voltaram para o fim da própria escravidão.
A Inglaterra, então a principal potência marítima do mundo após as guerras napoleônicas, tinha interesses econômicos significativos na questão. O comércio de escravos era lucrativo e sua proibição poderia beneficiar a economia britânica ao reduzir os custos de produção de países concorrentes e expandir os mercados consumidores de produtos britânicos.
Apesar da pressão internacional, a abolição da escravidão no Brasil não foi uma concessão graciosa da Princesa Isabel, como muitos acreditam. Historiadores e sociólogos, como Clóvis Moura, argumentam que a abolição foi resultado da resistência e luta dos próprios escravizados, especialmente mediante movimentos como o quilombismo e revoltas contra o sistema escravista.
Após a Abolição, a sociedade brasileira passou a promover uma política de branqueamento da população, que incluía o estupro de mulheres negras escravizadas e a imigração de europeus para "embranquecer" a população. A ideia de uma democracia racial passou a ser utilizada para silenciar os movimentos negros e manter as estruturas de poder intactas.
Mesmo com avanços conquistados pela população negra, como o reconhecimento da identidade negra e a luta contra o racismo estrutural, ainda há muito a ser feito. A desigualdade entre brancos e negros persiste de diversas formas: baixos salários, acesso a saneamento básico, violência policial, entre outros aspectos.
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O racismo no Brasil é parte integrante de sua estrutura política e econômica, e desafiar esses pilares é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A representatividade e ocupação de espaços são importantes. É preciso, contudo, ir além, questionar as bases que perpetuam a desvalorização das vidas negras.
Ana Soáres
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