Todos sabemos que as fake News assumiram um poder inacabável na sociedade do século XXI, a grande questão é por que elas ainda conseguem enganar multidões.
Por Silver D'Madriaga Marraz
Num mundo cada vez mais conectado digitalmente, a disseminação de informações tornou-se uma faca de dois gumes. A ascensão das Fake News, ou notícias falsas, representa um desafio significativo para a sociedade contemporânea. Essas informações fabricadas, muitas vezes com o intuito de manipular opiniões, distorcer fatos ou criar desordem, têm causado impactos profundos em várias esferas da vida, afetando desde a política até a saúde pública.
O caso da estudante Jéssica Canedo (22) vítima de uma fofoca sobre um falso relacionamento com o artista Whindersson Nunes repercutiu após publicação do Choquei, perfil dedicado a celebridades e a notícias em geral. A falta de responsabilidade do perfil levou a estudante à morte. Após a propagação da falsa notícia, Jéssica publicou no Instagram uma longa mensagem informando o conteúdo falso e pedindo a retirada dos prints, mas no espaço dos comentários, um dos responsáveis pelo Choquei escreveu: "Avisa para ela que a redação do ENEM já passou. Pelo amor de Deus!"
Casos como o de Jéssica passaram a ser naturalmente comuns nas redes sociais, apesar de existir um projeto de Lei n° 2630, de 2020 que estabelece normas relativas à transparência de redes sociais e de serviços de mensagens privadas, sobretudo no tocante à responsabilidade dos provedores pelo combate à desinformação e pelo aumento da transparência na internet, à transparência em relação a conteúdos patrocinados e à atuação do poder público, bem como estabelece sanções para o descumprimento da lei. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli defende que “É necessário primar pela verdade e pela produção, disseminação e compartilhamento de informações fidedignas. E a principal ferramenta de enfrentamento das notícias falsas é a educação da sociedade para o uso consciente e positivo das tecnologias de informação.”
Pelo visto, esta educação está longe de se acontecer, pois a proliferação das Fake News tem cada vez mais seduzido milhares de pessoas através das redes sociais. As plataformas digitais fornecem um terreno fértil para a propagação de notícias falsas devido à velocidade com que as informações circulam e à falta de verificação de fontes. Uma informação duvidosa pode se tornar viral em questão de horas, alcançando milhões de pessoas antes mesmo de ser verificada.
Os impactos nefastos das Fake News se manifestam de diversas formas. Na esfera política, notícias falsas têm sido utilizadas para influenciar eleições, distorcer a percepção pública sobre candidatos e até mesmo minar a confiança nas instituições democráticas. A disseminação de informações fabricadas pode comprometer a integridade do processo eleitoral, abalando a confiança dos cidadãos nas estruturas políticas.
Outro campo afetado de maneira significativa é a saúde pública. Durante crises sanitárias, como a pandemia de COVID-19, desinformações sobre tratamentos, vacinas e medidas de prevenção se espalharam rapidamente, gerando confusão e pondo em risco a saúde e a vida de muitas pessoas. A propagação de informações falsas sobre a eficácia de determinados tratamentos ou a negação da gravidade de certas condições de saúde pode ter consequências devastadoras.
Além disso, as Fake News têm o potencial de polarizar a sociedade. A disseminação deliberada de informações falsas cria divisões profundas, alimenta o ódio e gera conflitos desnecessários. A confiança nas fontes tradicionais de informação é erodida, tornando mais desafiador distinguir entre o que é verdadeiro e o que é falso. Isso resulta em uma sociedade mais fragmentada, onde as pessoas se agrupam em bolhas de informações que confirmam suas próprias crenças, em vez de se basearem em fatos verificáveis. Em entrevista dada pelo psicólogo Akim Neto à Câmara Municipal de Curitiba, ele afirma que a pessoa que divulga a fake news está em algum lugar dentro de um certo 'espectro': de um lado ela acredita na fake news, pois ela vai ao encontro ao seu discurso explicativo do mundo; de outro, ela tem consciência da mentira ou desinformação e a usa como uma arma”. Por esta razão, é muito difícil que alguém que adota este tipo de comportamento, ainda que sabendo da gravidade que possa gerar, arrependa-se da prática de espalhar notícias falsas.
Enfrentar o problema das Fake News é uma tarefa complexa e multifacetada. As empresas de tecnologia desempenham um papel fundamental na mitigação desse fenômeno. Plataformas de mídia social têm implementado políticas para verificar fatos e limitar a disseminação de informações não verificadas. No entanto, a eficácia dessas medidas ainda é objeto de debate, e muitas Fake News continuam a circular livremente.
Além das plataformas digitais, a responsabilidade também recai sobre os indivíduos. Promover a educação midiática e o pensamento crítico desde cedo pode ajudar as pessoas a discernir entre informações verdadeiras e falsas. Ensinar as habilidades necessárias para verificar fontes e avaliar a credibilidade das informações é essencial para fortalecer a resiliência da sociedade contra a desinformação.
Legislações mais rigorosas também são necessárias para responsabilizar aqueles que deliberadamente propagam informações falsas com o intuito de causar danos. No entanto, encontrar um equilíbrio entre restringir a desinformação e preservar a liberdade de expressão é um desafio complexo que requer consideração cuidadosa.
Numa era em que a informação é uma das principais moedas de poder, o combate às Fake News exige esforços coletivos e coordenados. Governos, empresas de tecnologia, educadores e cidadãos têm um papel a desempenhar na luta contra a desinformação. Somente através de abordagens abrangentes e estratégicas podemos conter o impacto prejudicial das Fake News e preservar a integridade de nossa sociedade.
Em última análise, o poder das Fake News é uma ameaça que requer atenção imediata e contínua. O futuro da sociedade depende da capacidade de discernir a verdade da falsidade, e somente através de um esforço conjunto podemos minimizar as graves consequências que a disseminação de informações falsas traz para o tecido social e a vida cotidiana.
Excelente materia. Parabéns à Revusta Pàhnorama