Marcelo Teixeira
Dentre as várias polêmicas que nos aturdem todos os dias, eis que surge (ou ressurge) mais uma; desta vez, na área cultural. O Grupo Sílvio Santos, que há anos trava uma batalha judicial pelo terreno ao lado do lendário e icônico Teatro Oficina, localizado no bairro do Bixiga, em São Paulo (SP), emparedou os Arcos do Beco, que ficam no fundo da arena do teatro. Além disso, os funcionários do Homem do Baú retiraram uma escada que conectava o espaço cultural à área externa.
Técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vistoriaram o local. Convém lembrar que o Oficina, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, é tombado também em níveis estadual e municipal. No caso, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp). Isso quer dizer que o espaço não pode sofrer quaisquer alterações sem antes passar pela aprovação nas três instâncias. Não foi o que ocorreu, pelo visto. Tanto que integrantes destas instituições também participaram da inspeção e irão acompanhar a questão junto com a superintendência regional do Iphan.
Os advogados do Grupo Sílvio Santos alegam que há uma decisão judicial favorável a tais intervenções. Já os que respondem pelo Teatro Oficina argumentam que a retirada da escada e o erguimento da parede batem de frente com o tombamento do local, de suma importância cultural e histórica para o Brasil.
Entre idas e vindas judiciais, convém ressaltar que Sílvio Santos, notoriamente conhecido por apresentar programas domingueiros de auditório, nunca teve apreço pela cultura do país em que nasceu. Empenhado em fazer graças dominicais para vender carnês e lançar “artistas” pré-fabricados, Sílvio saber fazer dinheiro explorando a boa fé das classes C, D e E. Em contrapartida, deixa a desejar no tocante à programação de seu canal de TV – o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). E como ele fica mais nos Estados Unidos (onde tem casa) do que aqui, tem parco conhecimento sobre o que de fato gera cultura, conhecimento e mobilização social em terras brasileiras. Em suma: ele não obteve a concessão para ter um canal de TV para levar programação de qualidade à população, mas para ganhar dinheiro, algo que, diga-se de passagem, ele sabe fazer muito bem.
Quando esse imbróglio com o Teatro Oficina começou a vir a público, há alguns anos, o ator e diretor teatral José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), fundador da companhia teatral à frente do espaço, conversou com Sílvio Santos, que quer erguer um empreendimento comercial no local, acerca da importância de manter o espaço externo para a sociedade e deixá-lo como legado cultural. Quem sabe um parque com lonas culturais armadas de forma permanente? Em vão. Com ar de deboche e zombaria, Sílvio descartou a possibilidade, tamanha a falta de zelo que ele tem para com a cultura.
Toda essa questão me lembrou de uma declaração postada pela atriz e apresentadora Elke Maravilha quando do falecimento do comediante Pedro de Lara, em 2007. Ambos, na década de 70, foram jurados do Show de Calouros, do Programa Sílvio Santos.
Contou Elke que, certa vez, ela ficou muito triste por causa de uma bronca desproposital que tomou do Sílvio. Foi quando o Pedro sentou-se ao lado dela e disse, bem carinhoso: "Liga não. Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre, que só tem o dinheiro".
Ela ficou pouco tempo na atração; voltou para os braços do Chacrinha. Fez bem.
Desde que soube disso, passei a olhar com bons olhos Pedro de Lara, a quem considerava uma figura bizarra. E levo até hoje essa frase, que mostra sua força mais uma vez!
Sílvio é tão pobre, mas tão pobre, que só tem o dinheiro. Se a vida tirasse o dinheiro dele, o que sobraria? Um homem frágil, vazio, deselegante e constrangedor. Como ele, há muitos.
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