Quando se muda de status social, quando se ganha a sandália da alforria, não importa ser de direita ou de esquerda. Se não tiver conhecimento histórico-social, aceita-se que eles NATURALMENTE apaguem tudo aquilo que você é enquanto ser humano.
Por Silver D'Madriaga Marraz
Não se trata de o negro ter que ser de esquerda. Na minha opinião, ele não precisa ser de esquerda; simplesmente não deveria ser de DIREITA, pois a direita deste país não os defende, não tem políticas para negros, LGBTQIA+, mulheres, crianças, educação, diminuição da pobreza, acesso aos bens constitucionais. Não é possível apoiar e levantar as bandeiras daqueles que marginalizam todos os grupos vulneráveis e marginalizados do nosso país, seja de direita, esquerda, centro-direita, etc. Cabe a mim, no entanto, RESPEITAR. A violência simbólica, como afirmou o sociólogo francês Pierre Bourdieu, continua a violentar "aceitavelmente" a mente de muitas pessoas.
O passado se manifesta ainda hoje. Quando os negros recebiam a carta de alforria, continuavam servindo seus antigos senhores, pois não conseguiam compreender o verdadeiro ideal de liberdade. Ter dinheiro, ser rico? Apenas isso não é suficiente. O dinheiro não compra filosofia, sociologia, cicatrizes, dor, história, CONHECIMENTO.
Mas, vamos entender uma coisa: as discussões sobre a orientação política das pessoas negras no Brasil geralmente resultam em debates intensos e polarizados. Tradicionalmente, a esquerda tem sido associada à luta pela igualdade racial e justiça social, enquanto a direita é vista como defendendo o status quo e as desigualdades estruturais. No entanto, essas simplificações são desafiadas pela complexidade da experiência negra no Brasil. Isso requer uma revisão mais profunda sobre o que significa ser negro de direita ou esquerda neste contexto.
Uma narrativa ou etiqueta não pode definir a posição política de uma pessoa negra. A complexidade da identidade negra no Brasil é composta por várias camadas e envolve problemas sociais, econômicos e históricos. Mas alguns negros estão mais inclinados a se posicionar à direita, muitas vezes em desacordo com os métodos convencionais de combate à desigualdade racial, de acordo com o cenário político atual.
É importante entender que as preferências ideológicas de uma pessoa não são o único fator que molda sua orientação política; experiências pessoais e contextos particulares frequentemente influenciam sua orientação política. Para alguns negros, a direita pode parecer uma escolha que oferece oportunidades e crescimento financeiro por meio de políticas de mercado mais liberais. Aqueles que se consideram empreendedores ou que acreditam na ascensão pessoal como meio de superar barreiras sociais podem encontrar essa perspectiva atraente.
No entanto, é fundamental considerar como essa decisão política pode impactar a luta pela igualdade racial. Em relação às políticas afirmativas e às reparações históricas para a população negra, a direita geralmente é mais conservadora. Essa perspectiva pode ser vista como uma tentativa de manter as coisas como estão ou até mesmo de diminuir o foco nas políticas que tentam corrigir desigualdades estruturais. Portanto, para um negro de direita, existe um delicado equilíbrio entre apoiar políticas que promovem o crescimento individual e lidar com a falta de ações que abordam diretamente as desigualdades raciais.
Por outro lado, a esquerda historicamente tem sido uma fortaleza para a promoção dos direitos civis e a luta contra injustiças sociais, como a desigualdade racial. Muitos negros veem a esquerda como um aliado na luta contra o racismo e na promoção de políticas que visam a inclusão e a reparação. A orientação política da esquerda é frequentemente associada à defesa de políticas afirmativas, programas de ação afirmativa e outras iniciativas destinadas a diminuir as disparidades raciais.
É importante lembrar que a esquerda pode não ser a solução para todos os problemas que os negros enfrentam. Existem críticos que sugerem que a esquerda pode agir de forma paternalista ou não estar suficientemente atenta às diferentes necessidades da comunidade negra. Existem situações em que a retórica progressista pode não resultar em ações concretas ou pode não conseguir abordar questões concretas que afetam a vida cotidiana dos negros de forma eficaz.
Portanto, a questão não é apenas escolher a direita ou a esquerda; é compreender as consequências e os conflitos associados a cada opção. A gama de perspectivas que existe entre os negros brasileiros reflete a complexidade das experiências pessoais e coletivas. É mais eficaz buscar uma resposta definitiva sobre qual orientação política é "certa" para os negros do que tentar encontrar uma resposta definitiva. Em vez disso, é mais eficaz adotar uma abordagem que reconheça e respeite a pluralidade das perspectivas.
É imperativo que as discussões sobre a política e a identidade negra no Brasil sejam conduzidas com cuidado e com abertura para o diálogo. A diversidade de opiniões deve ser vista como uma oportunidade para enriquecer a discussão sobre os meios pelos quais a justiça racial e social pode ser alcançada no país. O objetivo comum, independentemente de sua posição política, deve ser a criação de uma sociedade mais justa e equitativa para todos, onde todas as vozes e experiências possam contribuir para um futuro melhor.
Portanto, ser preto no Brasil, seja de direita ou de esquerda, é uma experiência com profundidade e complexidade que vão além das classificações políticas convencionais. É fundamental abordar essa questão de forma crítica e inclusiva, reconhecendo a diversidade de opiniões e experiências dentro da comunidade negra. Esse tipo de reconhecimento pode ajudar a promover uma conversa mais positiva e produtiva sobre a busca por igualdade e justiça, porque quando se tem dinheiro, quando se muda de status social, quando se ganha a sandália da alforria, não importa ser de direita ou de esquerda. Se não tiver conhecimento histórico-social, aceita-se que eles NATURALMENTE apaguem tudo aquilo que você é enquanto ser humano.
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