Brasil, um país sobretudo fundado a partir da colonização portuguesa, da resistência de seus nativos indígenas e da grotesca vinda dos povos africanos para essa terra. No entanto, não se excluem outros povos que compõem essa nação, como holandeses, italianos e japoneses. Em outros termos, o Brasil é mistura, é pluralidade e tem faces culturais diversas, sendo assim, a religiosidade do país não poderia deixar de ser reflexo da sua história e da grande combinação étnico-cultural presente entre os brasileiros.
A Religiosidade Brasileira
O Brasil, mesmo com toda variedade de crenças, ainda é um país majoritariamente cristão. O censo de 2010 do IBGE mostra que até então 64,6% da população brasileira é católica, seguida de 22,2% de evangélicos, 8% de pessoas que não professam nenhuma fé, 2% são espíritas e 0,3% são de umbanda ou candomblé. Além dessas religiões majoritárias, também existem professantes do judaísmo, hinduísmo, budismo e islamismo, que juntos representam 2,7% da população brasileira. Infelizmente ainda não existem dados atualizados sobre o assunto no censo de 2022.
Apesar disso, a majoritariedade da fé cristã no país não impede que se conheça um pouco mais sobre as crenças que colaboram na composição e moldagem da cultura e dos costumes brasileiros.
O Catolicismo Apostólico Romano
Jesus, conhecido por seus discípulos e seguidores como “Cristo”, é o salvador da humanidade, conforme o cristianismo. Essa crença, em uma de suas vertentes, deu origem ao catolicismo, que se caracteriza como uma religião monoteísta baseada na Bíblia como livro sagrado e nas tradições orais da Igreja, além de reverenciar seus santos e crer na Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
No Brasil, a crença católica é fruto da colonização portuguesa e exerce forte influência na nossa sociedade. Enquanto instituição, a Igreja Católica foi responsável por catequizar os nativos do novo mundo no período colonial e exerceu forte influência na política e nos costumes brasileiros. Mesmo desvinculada do Estado desde a Constituição de 1891, o cristianismo e a Igreja ainda ocupam espaços políticos no Brasil, de maneira contraposta ao caráter laico do Estado.
O Protestantismo: Evangelho Cristão
Análogo ao catolicismo, o protestantismo, como chamado em princípio, surge como uma nova ramificação do cristianismo com o propósito de reparar e contrapor os dogmas católicos. Devido ao seu caráter acessível, a adesão à crença evangélica é ascendente no Brasil até então, fato que gera contraste com o declínio de adeptos ao catolicismo.
O Evangelho Cristão tem origem nas 95 teses de Martinho Lutero no século XVI e, apesar de manter os pilares da religião, o documento provoca mudanças nos dogmas católicos, como a abolição do culto aos santos e a livre leitura e interpretação da bíblia.
Paralelo ao catolicismo, o evangelho também exerce grande influência nos costumes morais e na política do país, o principal fato que exemplifica essa intervenção religiosa no Estado Brasileiro é a existência de uma Bancada Evangélica no Congresso Nacional.
O Espiritismo: Kardecismo
Inspirado por Allan Kardec, o espiritismo para além de uma crença, se configura como uma doutrina de caráter científico-filosófico que busca a evolução espiritual por meio da caridade, do diálogo, da razão e pela busca do conhecimento. Nesse sentido, a literatura espírita, que se inicia com “O Livro dos Espíritos” de Kardec, é bastante vasta e importante para a aplicação e vivência da doutrina.
Contraposta às religiões dominantes, o espiritismo ascende a passos lentos no país e possui pouca influência na composição da sociedade brasileira.
A Umbanda e o Candomblé
Ambas, enquanto crenças crescentes, são fruto da chegada dos povos africanos no período colonial, e atualmente, integram a cultura negra do país. Ao passo que se configuram como religiões de matriz africana, estas foram fortemente suprimidas pelo cristianismo ao longo da formação do Brasil e são marginalizadas até os dias de hoje.
A Umbanda como crença afro-brasileira, no contexto colonial do país, ganha forma a partir de elementos do cristianismo, espiritismo e principalmente das religiões de matriz africana. Sua composição é fruto de um cenário de opressão à cultura e espiritualidade dos povos africanos. Nesse sentido, a religião é exercida pelo culto aos orixás, na crença em um deus único e em entidades espirituais. Além disso, valores como caridade, fraternidade e a não-discriminação são indispensáveis nas casas de culto, os terreiros, e para os praticantes.
Em contrapartida, o Candomblé, que também é uma religião de matriz africana popular no Brasil, encontra aqui a maior quantidade de praticantes do mundo. Suas crenças são corporizadas por meio do culto aos orixás, que representam as forças da natureza. Apesar do culto aos orixás, assim como na umbanda, essa religião é monoteísta.
As religiões afro-brasileiras, ainda que muito oprimidas ao longo da história do país, atualmente estão em ascensão e, aos poucos, sua ancestralidade tem alcançado espaços e debates importantes para a desestigmatização das práticas no Brasil.
As Religiosidades Plurais do Brasil
No decorrer das últimas décadas é possível notar mudanças significativas na sociedade brasileira quando o assunto é religião. Temas como o respeito e a liberdade religiosa são colocados mais frequentemente em pauta em diversos espaços, seja nas redes sociais, nas mídias tradicionais ou no meio acadêmico. No entanto, a intolerância religiosa ainda é presente no país, e uma das formas de combatê-la é através da informação. Sendo assim, conhecer e evidenciar a pluralidade de crenças presentes em um país tão grande e diverso como o Brasil é fundamental para que possamos avançar enquanto sociedade.
Por Eduarda Rocha
Escrito em 28/02/2024
Publicação em 01/03/2024
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