
Em um evento na Carolina do Sul neste fim de semana, Donald Trump, presidente dos EUA, soltou mais uma de suas declarações polêmicas. Ao comentar sobre as relações internacionais, ele afirmou: “Eles precisam muito mais de nós do que precisamos deles. Na verdade, não precisamos deles, e o mundo todo precisa de nós”. A frase gerou repercussão, especialmente no Brasil. Mas será que ele está certo? Os Estados Unidos realmente não precisam do Brasil? Vamos aos fatos, com base em dados confiáveis.
1. Comércio: Brasil é peça importante no tabuleiro
De acordo com dados do Ministério da Economia e do U.S. Census Bureau, os Estados Unidos foram o segundo maior destino das exportações brasileiras em 2023, somando US$ 36,6 bilhões. Entre os principais produtos exportados estão petróleo bruto, ferro, celulose, café e aço, todos essenciais para a indústria e o mercado americano.
Além disso, o Brasil importa tecnologia, maquinário e outros bens dos EUA, fortalecendo a relação bilateral. Um rompimento nesse comércio afetaria não só o Brasil, mas também setores estratégicos dos EUA, como o automobilístico e o de construção civil, que dependem de materiais como aço e alumínio brasileiros.
2. Meio ambiente: olho na Amazônia
A Amazônia não é apenas um “problema brasileiro”. Estudos apontam que a floresta tropical desempenha um papel vital no equilíbrio climático global. Segundo a NASA e o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), a destruição da Amazônia aumenta as emissões de carbono e desestabiliza padrões climáticos que afetam até os Estados Unidos, incluindo fenômenos extremos como secas e furacões.
Se os EUA querem manter sua liderança em políticas climáticas globais, ignorar o papel do Brasil é, no mínimo, imprudente. Além disso, o aumento da pressão ambiental global sobre os EUA em fóruns internacionais pode estar diretamente ligado ao que acontece na Amazônia.
3. Recursos estratégicos: do nióbio ao etanol
O Brasil é responsável por mais de 90% da produção mundial de nióbio, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. Esse metal é crucial em tecnologias de ponta, como turbinas a jato, supercondutores e componentes de alta resistência. Embora os EUA possuam fontes alternativas, como no Canadá, a dependência da produção brasileira ainda é significativa.
Além disso, o Brasil é um dos maiores produtores globais de etanol. Os EUA também produzem o combustível, mas a cooperação bilateral em biocombustíveis fortalece ambos os mercados.
4. Base de Alcântara: o interesse espacial
A base de Alcântara, localizada no Maranhão, é de grande interesse estratégico para os EUA. Por estar próxima à linha do Equador, ela reduz os custos de lançamentos espaciais em até 30%. A assinatura do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) em 2019 reforçou a parceria entre Brasil e EUA no setor espacial. Embora não seja indispensável, o uso de Alcântara é um exemplo claro de como o Brasil pode ser um aliado estratégico para avanços tecnológicos americanos.
O que isso significa?
A declaração de Trump pode até ser vista como mais um comentário populista para agradar sua base eleitoral, mas os fatos mostram outra realidade. Apesar de os EUA serem uma potência autossuficiente em muitos aspectos, ignorar a importância do Brasil seria uma simplificação perigosa.
Do comércio global ao meio ambiente e recursos estratégicos, os dois países possuem uma relação interdependente que não pode ser desconsiderada. Afinal, o mundo – e as grandes potências – não funcionam isoladamente. Talvez Trump devesse considerar isso antes de sua próxima fala polêmica.
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