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"Vozes da Liberdade": exposição cultural afro-brasileira no dia da Abolição da Escravatura

  • Foto do escritor: Renata Freitas
    Renata Freitas
  • 15 de mai.
  • 3 min de leitura
O salvador branco não veio, foi muita luta mesmo!

evento vozes da liberdade comemorando o dia da abolição da escravatura
Evento Vozes da Liberdade comemorando o dia da abolição da escravatura (reprodução/instagram @quitanda.23)

Na última terça-feira, 13 de maio, data em que se recorda a assinatura da Lei Áurea (1888), que oficializou o fim da escravidão no Brasil, o Rio de Janeiro recebeu uma homenagem potente, cultural e política: o evento Vozes da Liberdade, realizado no espaço cultural Quitanda 23, no centro da cidade. A programação integrou o movimento Reviver Cultural, que reúne iniciativas voltadas à revitalização da região central da capital fluminense por meio da arte, da história e da valorização da memória coletiva.

O evento ocorreu em uma data que convida à reflexão crítica sobre o processo de abolição. Embora a assinatura da Lei Áurea seja tradicionalmente atribuída à Princesa Isabel como um ato heroico, especialistas e ativistas alertam para a necessidade de compreender o contexto histórico e social mais amplo. A abolição foi fruto de anos de luta de lideranças negras, movimentos abolicionistas, quilombos, terreiros e pressões internacionais — e não apenas de um gesto pontual da monarquia.

Como destaca o fundador do evento, “é preciso superar a ideia do salvador branco e reconhecer a resistência organizada do povo negro que, por séculos, construiu sua liberdade com o próprio sangue e cultura”.


Evento Vozes da Liberdade comemorando o dia da abolição da escravatura (arquivo pessoal)


Programação que honra a ancestralidade

A programação foi extensa e diversa, ocupando o espaço público com expressões culturais e intelectuais de raízes afro-brasileiras. Um dos destaques foi a palestra do pesquisador Dr. João Carlos Nara, que compartilhou dados inéditos de seu livro em pré-lançamento, fruto de anos de estudo sobre o tráfico de escravizados no Cais do Valongo. Sua fala reforçou a importância de reconstruir a dignidade dos Pretos Novos, recontando suas histórias apagadas por séculos de negligência.

A música também teve papel central na experiência, com apresentação do Babalawo Ifasola, que trouxe ao palco uma poderosa performance afro centrada em tambores, danças e canto ancestral. O público foi naturalmente envolvido pela vibração da apresentação, que transbordou emoção e reverência à espiritualidade negra.

Arte urbana, juventude e periferia no centro do debate

A cultura periférica também marcou presença com a roda cultural do Méier, protagonizada pelo artista Faro, que organizou uma batalha de rima com jovens MCs. O nível das rimas surpreendeu pela complexidade poética e pela crítica social embutida nas palavras. Uma das frases mais marcantes da noite veio do MC vencedor, ao lembrar que, anos atrás, poderia ser preso por “vadiagem”, mas hoje ocupa o palco com arte e voz: “O que vocês querem ver?”, perguntava ele. E o público respondia: “Mais cultura e menos sangue.”

A juventude também foi celebrada na roda de capoeira Geração Nagô e na apresentação do Coral dos Jovens da Rocinha, com crianças e adolescentes trazendo ao centro do Rio a força viva das favelas, das tradições e do futuro.

Evento Vozes da Liberdade comemorando o dia da abolição da escravatura (arquivo pessoal)


Arte, gastronomia e memória

A programação incluiu ainda a exposição da fotógrafa Katarina Lima Flor, com retratos do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, exaltando o cotidiano, a força e a arte de mulheres artesãs. Havia ainda estandes com produtos em crochê, tricô e acessórios produzidos por mulheres negras e periféricas, além de uma feijoada acompanhada por pratos típicos da culinária africana.


Evento Vozes da Liberdade comemorando o dia da abolição da escravatura (arquivo pessoal)


Muito além de um evento — uma convocação

"Vozes da Liberdade" não foi apenas uma comemoração simbólica do 13 de Maio, mas um chamado coletivo à ação e à valorização da cultura negra como ferramenta de transformação social. Em tempos de debates sobre equidade, memória histórica e justiça social, eventos como esse cumprem papel fundamental: devolvem o centro da cidade — e da narrativa — a quem tem história para contar e futuro para criar.

A próxima edição já tem data marcada: sexta-feira, 16 de maio, no mesmo espaço, com programação ampliada. Pela potência da iniciativa e seu valor simbólico, o público presente expressou o desejo de que se torne semanal — ocupando permanentemente o espaço público com liberdade, arte e ancestralidade.


Evento Vozes da Liberdade comemorando o dia da abolição da escravatura (arquivo pessoal)


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