Quem foi adolescente/jovem nas décadas de 70 e 80, assim como eu, decerto irá se lembrar de um quarteto vocal masculino que fez muito sucesso: Boca Livre.
Numa época em que a música americana das discotecas predominava, o Boca Livre caiu no gosto do público jovem, que cantarolava suas letras românticas, melódicas e refinadas. Creio que quem foi moço ou moça àquela época deve se lembrar de canções como “Toada” (“Vem, morena ouvir comigo essa cantiga...”), “Quem tem a Viola” (“Quem tem a viola pra se acompanhar...”), entre muitas outras. O sucesso foi tanto que o primeiro LP deles ultrapassou a marca de 100 mil cópias vendidas. Um feito então inédito para um disco lançado de forma independente.
O Boca ficou em atividade até 2020. Vários músicos fizeram parte da banda, inclusive. Mais creio que a formação mais duradoura e conhecida foi a que durou até o início desta década: Maurício Maestro, Lourenço Baeta, David Tygel e Zé Renato.
Aqui em Petrópolis (RJ), na badalada região de Itaipava, há um shopping muito estiloso chamado Vilarejo. Feito com toras de madeira maciça, abriga (ou melhor, abrigava) várias lojas charmosas: boutiques, lojas de CDs (Ô, saudade!), sorveterias, confeitarias, lojas de brinquedos etc. Do meio da década de 90 até meados da primei década deste século, o Vilarejo era moda. Vivia cheio, principalmente também devido ao espaço a céu aberto no qual, volta e meia, ocorriam shows de gente graúda como Marcos Valle e Danilo Caymmi. E de graça, diga-se de passagem! Resultado: o lugar lotava com o povo descolado da região e também turistas. Tempo muito bom!
Certa feita, foi anunciado que o Boca Livre se apresentaria no Vilarejo num sábado à noite. E gratuitamente, como de praxe. O auge da redundância e da boca livre: assistir ao Boca Livre sem pagar!
Eu e mais alguns amigos afeitos ao som dos quatro rapazes cariocas rumamos para Itaipava. Chegando lá, o espaço, como já esperávamos, estava repleto da turma da nossa faixa etária. A mesma rapaziada que, assim como eu, curtiu o Boca Livre no final dos anos 70 e anos 80 afora. Todos em pé, ansiando pelo início do espetáculo naquela noite amena de céu estrelado.
Faltavam uns cinco minutos para o início do show quando me deu vontade de fazer um pipi básico. Avisei aos quatro amigos que estavam comigo, subi para o segundo andar e me dirigi ao banheiro. Assim que entrei, tomei um susto. O espaço era composto por três mictórios: no da esquerda, estava Maurício Maestro; no da direita, Zé Renato. Dois integrantes do Boca Livre fazendo xixi diante de mim! Surpreso, segurei o riso, ocupei o mictório do meio e fiz o que tinha de fazer. Como eles já estavam no local quando entrei, terminaram antes e foram lavar as mãos. Quando chegou a minha vez de me dirigir ao lavatório, ambos já estavam de saída. Não me contive e disse: “Bom show! Foi um prazer dividir o banheiro com vocês!” Eles acharam graça e saíram.
Logo após, saía eu do banheiro. E rindo muito devido ao privilégio inusitado. Tão logo voltei para o espaço do show, deparei com José Luís, amigo de longa data que me deu aula de natação por muitos anos. Assim como eu, ele estava com amigos. Ele perguntou por que eu estava rindo. Quando contei, ele e os demais também começaram a rir. Daí, eu disse, em tom de galhofa: ”Vocês vieram assistir ao show do Boca Livre, mas eu fiz mais! Eu fiz xixi com o Boca Livre!” Rimos novamente, voltei para o grupo de amigos que me esperava, contei o acontecido, repeti a piada e todos riram também. Em seguida, começou o show, que foi excelente! Depois, terminamos a noite numa pizzaria ótima que há no local.
Até hoje, quando me recordo do ocorrido, acho graça e me encho de orgulho devido à honraria inesperada que o destino me reservou. Todos haviam assistido ao show, mas eu fiz mais! Eu tive um bônus extra! Eu fiz xixi com o Boca Livre!
Marcelo Teixeira
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