A investigação em curso pela Polícia Federal sublinha a gravidade do problema, enquanto esforços contínuos visam proteger áreas sensíveis e minimizar danos futuros
Por Silver D'Madriaga Marraz
Os incêndios no Brasil atraíram maior atenção nas últimas semanas, especialmente porque aumentaram em algumas partes do país. Um incidente recente no Parque Nacional de Brasília causou espanto e gerou uma investigação sobre as possíveis origens do crime. O incêndio ocorrido no domingo (15) se espalhou rapidamente devido ao tempo seco e quente, e bombeiros e aeronaves foram mobilizados para extingui-lo. Os esforços de contenção continuam e as equipes trabalham intensamente para evitar que o fogo se espalhe para uma área maior.
Na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião com a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, e outros membros do núcleo do governo para discutir ações imediatas de combate aos incêndios e estratégias em relação à emergência climática. Durante uma visita geral à área afetada, o presidente esteve acompanhado pela primeira-dama, Janja, que demonstrou a preocupação do governo com a gravidade da situação.
Simultaneamente, uma coletiva de imprensa foi realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Corpo de Bombeiros do Distrito Militar Federal (CBMDF) e o Instituto Ambiental de Brasília (Ibram) para disseminar informações cruciais sobre o incêndio no Parque Nacional Brasileiro. Mauro Oliveira Pires, presidente do ICMBio, indicou que a origem do incêndio provavelmente era de natureza criminosa. Ele mencionou que o incêndio começou perto da Granja do Torto, uma área de sensibilidade ecológica, e se espalhou rapidamente devido às condições climáticas desfavoráveis, o que levantou preocupações sobre possível intenção maliciosa.
Além disso, a Polícia Federal declarou o início de uma investigação visando descobrir as origens criminosas do incêndio, destacando que mais de 50 inquéritos sobre delitos ambientais ligados ao incidente estão atualmente em andamento no Brasil. A Ministra Marina Silva reiterou que há evidências indicando que certos incêndios foram deliberadamente acesos, rotulando isso como “terrorismo ambiental”. Ela propôs o potencial de esforços organizados para minar a nação e criar crises ambientais.
A situação alarmante na região sul decorre de um aumento impressionante de 1.623 por cento nos incêndios em comparação ao ano anterior. Esse aumento significativo nas fatalidades ressalta a necessidade urgente de medidas rápidas e coordenadas para evitar uma escalada maior. Enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste estão mostrando melhora, a contagem de incêndios do Nordeste levou a apenas uma pequena redução, o que pode ser visto como um alívio temporário em circunstâncias críticas.
Os incêndios no Brasil
Os incêndios que ocorrem no Brasil em 2024 resultam de fatores naturais, embora as ações humanas tenham um papel relevante, especialmente no momento em que os fogos são iniciados. No bioma do Cerrado, por exemplo, o fogo tem ocorrido há mais de 30 mil anos e integra o ciclo natural do ecossistema. Todavia, atividades humanas, inclusive incêndios provocados intencionalmente e a falta de cuidado, contribuem para aumentar tanto a frequência como a severidade dos incêndios. Uma combinação de condições climáticas desfavoráveis, com temperaturas superiores a 30 graus, umidade abaixo de 30% e ventos intensos, favorece uma rápida propagação das chamas.
Estas circunstâncias alarmantes, designadas de "regra 30-30-30", tornam a gestão do fogo mais complicada. Se um relâmpago ou uma mera ponta de cigarro lançada de um veículo em movimento pode dar origem a um incêndio de grandes proporções, a tarefa de evitar tais incidentes torna-se significativamente mais difícil. Além dos elementos ambientais, existem também componentes humanos relacionados com a psicologia e o crime. Indivíduos com problemas mentais que se dedicam a incendiar precisam de tratamento, enquanto outros cometem delitos com o intuito de se auto-prejudicarem ou obter lucro.
Quando extensas áreas ficam sem serem queimadas durante longos períodos, a biomassa acumulada torna-se mais susceptível a incêndios florestais. Assim, os povos indígenas do Cerrado criaram técnicas de queimadas com o intuito de controlar a biodiversidade e evitar grandes catástrofes muito antes da chegada dos europeus. No entanto, hoje em dia, a ausência de um manejo adequado e o aumento das queimadas têm piorado a situação, especialmente em regiões como o Cerrado e a Caatinga, onde a biomassa é mais facilmente inflamada devido à grande quantidade de ervas secas.
Embora os incêndios sejam comuns em biomas como o Cerrado, onde o capim seco é usado como calor, os incêndios em flores podem ter consequências devastadoras se não forem controlados. Os incêndios florestais são raros em áreas com alta umidade, como a Amazônia e o Oceano Atlântico, mas podem ser devastadores quando ocorrem. Décadas de degradação e perda de biodiversidade são ainda piores. A combinação da foz do Cerrado com o Pantanal e que é frequentemente encontrada, também afetou as queimadas não só sobre plantas e animais, mas também sobre a população da região. Na melhor das hipóteses, essas áreas serão lentas e essas abas ficarão visíveis por anos.
A culpa da ação humana
As atividades humanas não só aumentam o risco de incêndios, mas também contribuem para a gravidade das alterações climáticas, aumentando assim os desastres naturais. O aumento das temperaturas globais e as mudanças nos padrões de precipitação criam condições favoráveis para a intensificação dos incêndios. No Cerrado, por exemplo, o aumento das temperaturas pode eliminar a “saturação”, característica que ajuda a umedecer o solo durante as primeiras horas da manhã e atua como uma barreira natural contra o fogo. Sem esta umidade, os incêndios se espalharão mais rapidamente e destruirão grandes áreas de vegetação.
Além disso, a poluição causada por incêndios pode agravar os problemas de saúde pública. As partículas libertadas no ar, especialmente as partículas mais pequenas, podem viajar longas distâncias e afetar a qualidade do ar em áreas distantes do incêndio. Em 2019, o fenômeno da “chuva negra” escureceu o céu de São Paulo e trouxe partículas de incêndios distantes para a cidade. A mesma situação também foi observada em 2024 em Porto Alegre e mostra a dimensão e a intensidade do problema ambiental no Brasil.
Os incêndios têm impacto direto na agricultura, que é uma parte importante da economia do Brasil. Os produtos químicos liberados pelo fogo prejudicam o crescimento das plantas e afetam a produção de culturas importantes, como soja, milho e açúcar. A poluição do ar causada pelo fogo reduz a luz solar, prejudica a fotossíntese e a produtividade agrícola. Os efeitos das mudanças climáticas e dos incêndios florestais na agricultura brasileira serão graves e continuarão nos próximos anos.
O grande desafio
No contexto das mudanças climáticas, o Brasil enfrenta o desafio de gerir eficazmente os incêndios e, ao mesmo tempo, tentar reduzir os impactos econômicos e sociais desses desastres. No entanto, o governo tem sido criticado pela sua resposta lenta e fraca aos problemas ambientais. Apesar de muitos alertas e da situação estar piorando, muitas ações governamentais não são suficientes para lidar com a magnitude do problema.
Os incêndios de 2024 refletem um problema ambiental maior que é uma combinação de fatores naturais e humanos. As alterações climáticas, juntamente com a atividade criminosa e a governação inadequada, estão a criar uma “tempestade perfeita” para a propagação de grandes incêndios. Se medidas eficazes não forem tomadas, o Brasil enfrentará uma crise ambiental e econômica e todos sairemos perdendo, porque as catástrofes serão irreversíveis.
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