A Magia da Mangueira: O Rio da Negritude em Uma Noite na Apoteose
- Ana Soáres
- 4 de mar.
- 3 min de leitura
O desfile que fechou a primeira noite do Carnaval 2025 trouxe emoção, talento e a alma do povo carioca, mas deixou a desejar na conexão com o público

O que é o Carnaval do Rio de Janeiro, senão um espetáculo de cores, ritmos e uma verdadeira celebração da cultura negra e popular? A noite que fechou com chave de ouro o primeiro dia de desfiles no Sambódromo não poderia ter sido mais emblemática: a Estação Primeira de Mangueira, a maior escola de samba do mundo, brilhou intensamente com um enredo que prometia emocionar e resgatar a essência do povo negro no Rio de Janeiro. Mas será que conseguiu?
Sidnei França: Uma Estreia de Contradições

Este foi o enredo de estreia de Sidnei França na Mangueira, e ele chegou com a ambição de marcar sua presença. O enredo "À Flor da Terra – No Rio da Negritude entre Dores e Paixões" veio carregado de referências históricas e críticas sociais, mas pecou ao não conseguir traduzir esse peso em um desfile que realmente envolvesse o público. Apesar da grandiosidade das alegorias e das fantasias imponentes, faltou aquele impacto emocional que faz um samba-enredo grudar na boca do povo.

As baianas, por exemplo, reclamaram das fantasias extremamente pesadas, dificultando a evolução da ala. A ideia era transmitir imponência, mas o resultado foi desconforto e desgaste físico para quem desfilava. Além disso, alguns setores da escola pareciam desconectados, sem uma narrativa clara que guiasse o espectador pela avenida.
O Samba-Enredo: Técnica sem Alma

Com assinatura de Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Júlio Alves, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim, o samba-enredo tinha tudo para ser um hino marcante, mas falhou em criar aquele momento de explosão na Sapucaí. O problema? Apesar da poesia e da relevância da temática, a melodia não cativou como esperado. O refrão não pegou, e o público, que normalmente canta com a Mangueira do início ao fim, se mostrou menos participativo.
Nos ensaios, já havia uma preocupação com a dificuldade do samba em empolgar os componentes, e essa impressão se confirmou na avenida. A execução foi correta, mas sem a vibração contagiante que a verde e rosa costuma levar à Sapucaí.
O Desfile: Visualmente Impactante, Mas Frio

Visualmente, a Mangueira fez um desfile tecnicamente impecável, com carros alegóricos grandiosos e alas bem coreografadas. No entanto, a frieza do samba acabou comprometendo a entrega emocional do conjunto. A sensação era de assistir a um espetáculo belo, mas distante, sem aquele arrepio característico que os grandes momentos do Carnaval proporcionam.
Mesmo com a bateria impecável e a dedicação dos componentes, ficou a sensação de que a escola não conseguiu fazer a Sapucaí vibrar como de costume. O enredo, que deveria emocionar e incendiar a avenida, acabou sendo mais contemplativo do que explosivo.
Mangueira em Uma Noite de Reflexões

A Mangueira, que tem um histórico de sambas inesquecíveis e momentos épicos na avenida, desta vez entregou um desfile que dividiu opiniões. Foi um espetáculo importante, com uma mensagem forte, mas que não encontrou o equilíbrio entre o impacto visual, a musicalidade e a emoção.
Resta agora saber como a escola será avaliada pelos jurados e se essa experiência servirá como aprendizado para os próximos carnavais. O que fica claro é que, no Carnaval do Rio, não basta ter um enredo relevante e uma estética bem executada – é preciso fazer o público cantar, vibrar e sentir. E, desta vez, a Mangueira ficou devendo esse arrebatamento.
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