Branca de Neve: Como foram criados os cenários do filme live-action
- Isabella Wandermurem
- 20 de jun.
- 3 min de leitura

Quando a animação Branca de Neve e os Sete Anões chegou aos cinemas em 1937, o mundo viu nascer um dos universos mais icônicos da história do cinema. Hoje, quase nove décadas depois, esse mesmo mundo ganha novas camadas no live-action Branca de Neve, já disponível no Disney+. Mas como traduzir para a realidade um reino originalmente moldado pela fantasia animada? A resposta está em um trabalho minucioso de design de produção, tecnologia de ponta e, acima de tudo, respeito pela memória afetiva de gerações.
Um mergulho visual na memória coletiva
Para a designer de produção Kave Quinn, reviver os cenários clássicos não era suficiente, era preciso também transformá-los em algo palpável. A missão envolvia revisitar lugares que marcaram a infância de milhões: a sala do espelho mágico, a varanda da Rainha Má, o poço dos desejos. “Queríamos não apenas preservar, mas também elevar esses elementos”, explica Quinn ao Disney+.
Filmado no Pinewood Studios, em Londres, o live-action alia cenários construídos fisicamente a personagens fantásticos criados digitalmente. Essa fusão entre real e virtual permite que humanos e criaturas mágicas compartilhem o mesmo plano com naturalidade. “Hoje temos recursos para fazer isso de uma forma que seria impensável em 1937”, comenta o produtor Jared LeBoff.
Do gótico ao art déco: o novo velho mundo de Branca de Neve
Para criar um reino com profundidade histórica, Quinn bebeu de diferentes fontes estéticas. Se a animação original flertava com a arquitetura francesa, o live-action mergulha nas raízes germânicas do conto dos Irmãos Grimm. O resultado é um cenário que mistura elementos góticos, art déco e referências do cinema mudo.
O castelo, por exemplo, se inspira nos castelos Albrechtsburg (Alemanha) e Chillon (Suíça), trazendo ambientes como a escada em espiral, a sala de poções e a masmorra da Rainha Má. A vila que circunda o castelo foi criada com o mesmo cuidado, funcionando quase como um reflexo do próprio reino. “Enquanto o bem governa, os portões permanecem abertos. Quando a Rainha Má assume, eles se fecham, é simbólico”, explica Quinn.
A floresta que respira — literalmente
Outro ambiente-chave da narrativa, a floresta onde Branca de Neve encontra refúgio, também ganhou uma versão realista, mas não menos encantadora. As cenas foram gravadas em Burnham Beeches, uma floresta milenar na Inglaterra, com integração de elementos visuais criados digitalmente, como corujas, coelhos e até tartarugas. O objetivo? Fazer o público acreditar que aquele cenário é, de fato, habitado por criaturas mágicas.
Essa mesma atenção aos detalhes se reflete na cabana dos mineradores. Recriada com madeira esculpida à mão, a casa conta com vigas adornadas com figuras de corujas e pássaros, além de um lustre intricado que parece saído de um livro ilustrado. E como homenagem direta à animação de 1937, o piano da cabana foi moldado para lembrar o original, como se fosse tocado por mãos de madeira que ganham vida.
Fantasia com os pés no chão
O que torna esse novo Branca de Neve tão especial não é apenas o apelo visual. É o cuidado com cada referência, o esforço em respeitar o que veio antes enquanto se abraça o que é possível agora. Em tempos em que a nostalgia é frequentemente reciclada de forma superficial, o longa oferece um raro equilíbrio entre homenagem e reinvenção.
Assim, o live-action não apenas dá vida aos cenários que povoam nosso imaginário há quase cem anos, ele os expande, os reencanta e, de quebra, nos convida a olhar para eles com os mesmos olhos maravilhados de quando éramos crianças. Porque, afinal, certos reinos nunca saem de moda, só precisam de uma nova chance para brilhar.
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