Cora Coralina, vizinhança e tempo: um legado vivo que atravessa gerações
- Da redação

- 19 de ago.
- 3 min de leitura
"Talvez esse seja o resultado de um mundo no qual as conexões virtuais passaram a fazer parte do dia a dia, deixando de lado o contato humano. Na contramão desse resultado, nós vizinhas, do bairro da Água Branca, em São Paulo, entre um café e um bolo, criamos um grupo de fortalecimento das conexões femininas. E assim nasceu As Coras – Conexões Femininas.” — Gisela Salles

Na próxima quarta-feira, 20 de agosto, quando o relógio marcar 9h da manhã, vozes de mulheres de diferentes idades, lugares e histórias se encontrarão em um espaço virtual carregado de poesia e memória. Não será apenas um evento online: será um rito de celebração da vida, do afeto e da coragem de recomeçar.
O grupo “As Coras – Conexões Femininas”, fundado pela advogada e empresária Gisela Salles, bisneta de Cora Coralina, promoverá o encontro “Cora Conecta: Sobre os Vizinhos e o Tempo” — uma homenagem ao aniversário de 136 anos de nascimento da poetisa goiana que soube transformar simplicidade em eternidade.
Mais do que celebrar uma data, o evento ecoará duas marcas profundas deixadas por Cora: a valorização dos vizinhos como uma rede de apoio afetiva e a coragem de desafiar o etarismo, mostrando que nunca é tarde para florescer.
O vizinho como família escolhida
Pouca gente sabe, mas Cora Coralina criou o “Dia do Vizinho”, data que se mistura ao seu legado como escritora. Para ela, o vizinho não era apenas alguém ao lado da porta, mas uma extensão da família, uma companhia no cotidiano, um apoio em tempos de dor e também de festa.
Essa percepção ganha ainda mais relevância em tempos atuais. Segundo relatório recente da Comissão de Conexão Social da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 20% da população global se considera solitária. É um dado alarmante — e que denuncia uma epidemia silenciosa da modernidade: a substituição dos encontros de quintal por telas, a perda do “bom dia” na janela para o scroll infinito das redes sociais.
Em contraponto, Gisela e suas vizinhas criaram o grupo As Coras no bairro da Água Branca, em São Paulo. Entre cafés compartilhados e conversas de calçada, nasceu um projeto sociocultural que rapidamente cresceu e passou a ser espaço de escuta, de acolhimento e de difusão da poesia feminina.
Recomeçar nunca é tarde
Cora Coralina só foi reconhecida nacionalmente aos 73 anos, quando publicou seu primeiro livro. Seu exemplo é um grito contra o preconceito etário, contra a ideia de que passado determinado ponto da vida não há mais espaço para sonhos ou estreias.
O evento trará esse debate ao centro: o etarismo e as barreiras invisíveis impostas pela idade. Quantos talentos não se perdem pelo caminho por acreditarem que “já passou da hora”? Cora nos ensina o oposto: enquanto houver vida, haverá tempo para criar, reinventar, amar.
A poesia que vira movimento, Cora Coralina
O grupo “As Coras – Conexões Femininas” já se desdobrou em várias iniciativas:
Cora Conecta – encontros virtuais quinzenais para diálogo e troca;
Cora em Verso – clube do livro de poesia;
Trilha de Cora – jornada de autoconhecimento inspirada em seus escritos;
Roda de Cora – encontros presenciais, fortalecendo laços de comunidade.
“Hoje, o grupo As Coras é a prova viva de que a semente de Cora Coralina continua a florescer em corações de mulheres que, unidas, constroem e fortalecem umas às outras. A poesia de Cora, com sua mensagem de resiliência e recomeço, se torna a base de uma rede de apoio que honra o legado de uma das maiores vozes femininas do Brasil”, ressalta Gisela.
Serviço
Evento gratuito e on-line: “Cora Conecta: Sobre os Vizinhos e o Tempo”
Data e hora: 20 de agosto, às 9h







Comentários