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[CRÍTICA] Câncer com Ascendente em Virgem: uma jornada de autodescoberta e resiliência

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

É sobre acreditar e continuar a lutar! É sobre viver!
É sobre acreditar e continuar a lutar! É sobre viver! (Foto: Reprodução / G1)

Na vida real, raramente temos controle sobre o que acontece com o corpo, com o coração ou com os caminhos da alma. Mas ainda assim tentamos organizar o caos com listas, planilhas, dietas, mapas astrais e o horóscopo da semana. E quando o inesperado chega, o que nos resta? Câncer com Ascendente em Virgem, filme de Rosane Svartman com roteiro de Suzana Pires, parte dessa pergunta e entrega uma história que não só emociona, mas acolhe. É sobre viver com uma doença grave, sim. Mas é também sobre ser mulher, ser mãe, ser filha, ser forte e frágil ao mesmo tempo.


Estrelado por Suzana Pires, que também assina o roteiro ao lado de Martha Mendonça e Pedro Reinato, o longa estreia nos cinemas com uma narrativa inspirada na vida de Clélia Bessa, produtora que transformou sua experiência com o câncer de mama em blog, livro e, agora, cinema. Com humor inteligente e drama na medida, o filme nos convida a acompanhar a jornada de Clara, uma mulher metódica, prática e incrivelmente humana.


A trama: e se a vida decidir mudar todos os seus planos?

Clara (Suzana Pires) é professora de matemática e influenciadora digital. Seu canal de educação nas redes é bem-sucedido, ela tem uma filha adolescente criativa e desafiadora, Alice (Nathália Costa), e uma rotina regrada, organizada, previsível. Mas tudo muda quando, após um exame de rotina, recebe o diagnóstico de câncer de mama.


A partir desse ponto, Câncer com Ascendente em Virgem se torna um retrato sensível e autêntico sobre como a doença afeta não apenas o corpo, mas as relações, a autoestima, o senso de futuro. Clara não está sozinha. Ela precisa reaprender a conviver com a mãe, Leda (Marieta Severo), uma mulher espiritualista e leve, que acredita em energias, rituais e astrologia. E também estreitar os laços com a filha, com quem vive entre brigas e silências.


Entre consultas, perucas, exames e desabafos, ela também conta com o apoio das amigas Dircinha (Fabiana Karla) e Paula (Carla Cristina Cardoso), duas mulheres tão diferentes quanto complementares, que ajudam Clara a não se perder de si mesma.

Representatividade empática, humorada e com mensagens diretas
Representatividade empática, humorada e com mensagens diretas (Foto: Reprodução / Globo Filmes)

Suzana Pires: o corpo em cena, a alma em evidência

É impossível falar de Câncer com Ascendente em Virgem sem destacar a entrega de Suzana Pires. Sua Clara é uma mulher que tenta racionalizar o incontrolável. No início, organiza o tratamento como se fosse um cronograma de aula. Cria tabelas, planeja cada passo. Mas a vida, como sabemos, não cabe em planilhas.


Pires traduz com delicadeza o embate entre o desejo de manter o controle e a necessidade de se render à vulnerabilidade. Clara não é heroína nem vítima. Ela é gente. Sente medo, raiva, ciúmes, vergonha. Tem ataques de riso e de ansiedade. O texto e a interpretação oferecem uma humanidade rara em filmes que tratam de doenças graves.


Marieta Severo: a sabedoria do acolhimento

Marieta Severo vive Leda, a mãe que chegou para cuidar da filha doente, mas que também precisa resgatar os cacos de uma relação tensa. Leda não é perfeita: é invasiva, esotérica demais, fala de signos em momentos impróprios. Mas é também afetuosa, presente e, principalmente, disposta a aprender.


Severo transita entre o cômico e o comovente com a elegância que lhe é própria. Sua presença é sempre uma segurança em cena, e aqui não é diferente. A relação de Leda com Clara é o coração do filme. A maneira como essas duas mulheres atravessam o luto da autonomia, do tempo perdido e da necessidade de reconexão é de uma beleza silenciosa.


Adolescência, amizade e autoestima: o que mais o filme toca

A relação entre Clara e Alice (Nathália Costa) escapa do clichê mãe-e-filha. Alice é uma jovem inteligente, crítica, que se ressente do distanciamento da mãe e ao mesmo tempo não sabe como se aproximar. Com o diagnóstico, as duas são obrigadas a se ver com novos olhos. E o filme trata disso com um cuidado admirável.


Outro destaque estão nas amigas Dircinha e Paula, vividas por Fabiana Karla e Carla Cristina Cardoso. Elas são um contraponto fundamental ao drama: são cômicas, mas não estereotipadas. Têm histórias próprias, dores próprias. Dircinha, por exemplo, vive uma crise conjugal e fala de menopausa com naturalidade. Paula é espirituosa, sincera, daquelas amigas que dizem o que você precisa ouvir, não o que quer.

As inúmeras emoções que o filme traz, vai fazer você refletir!
As inúmeras emoções que o filme traz, vai fazer você refletir! (Foto: Reprodução / A Gazeta)

Direção e tom: um drama com alma de comédia leve

Rosane Svartman dirige com o mesmo olhar afetuoso que vimos em Minha Mãe é uma Peça 3 (onde foi corroteirista). Aqui, ela opta por uma linguagem acessível, colorida, que não esconde a dor, mas também não a fetichiza. O uso de elementos visuais como postagens de rede social, ilustrações e cenas internas no imaginário da protagonista dão leveza sem quebrar a empatia.


O tom é equilibrado. Há risadas espontâneas, choros sinceros, silências desconfortáveis. Não é uma montanha-russa emocional forçada, mas uma caminhada torta, como a vida costuma ser.


Representatividade e impacto: um filme que importa

Falar de câncer de mama ainda é um tabu, apesar de ser uma das doenças que mais afetam mulheres no mundo. Mostrar uma protagonista careca, com a autoestima abalada, que fala sobre os efeitos da quimioterapia, sobre sexualidade durante o tratamento, sobre médicos que não escutam, é um ato político.


Mais do que isso: é necessário. E quando essa representação vem envolta em empatia, bom humor e sororidade, o alcance é ainda maior. É um filme que vai tocar quem passou por isso, mas também quem acompanha, quem perdeu, quem tem medo. E, sobretudo, quem ama.


Recepção: emoção e conexão com o público

Desde sua exibição no Festival do Rio, o filme tem sido elogiado pela crítica e pelo público. Jornais como O Globo destacaram o carisma do elenco e a abordagem carinhosa do tema. Portais como CinePOP ressaltaram a coragem de transformar uma história de dor em algo leve, sem superficialidade.


Nas redes sociais, relatos de espectadores se multiplicam. Gente que se viu na tela. Gente que sentiu que, pela primeira vez, viu sua dor representada sem vitimismo. E, talvez o mais importante: gente que saiu do cinema com vontade de viver melhor.


Câncer com Ascendente em Virgem: viver, mesmo que fora do controle

É um filme sobre o inesperado. Sobre quando a vida tira de você o controle, a estética, os planos, e ainda assim você precisa continuar. Clara é cada mulher que já teve medo. Cada mulher que já precisou fingir força. Cada mulher que chorou escondido no banheiro.


É também um filme sobre o que nos salva: mães, filhas, amigas, risos, conversas, cafés quentes, abraços inesperados. Com roteiro afiado, atuações brilhantes e direção sensível, o longa se destaca como uma das obras mais importantes do cinema brasileiro recente.


Nota final: ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)

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