Por Cigana Carmem.
Comida cigana, ritual de cura e mistério afrodisíaco.
Minha cara amiga leitora. Eu, Cigana Carmem, essa entidade que vos escreve, venho hoje (quanta formalidade não é? ahahaha) dar continuidade no nosso bate-papo acerca da cultura do meu povo. E o assunto mais interessante, talvez, seja o de hoje. Por quê? Porque está ligado, ainda, ao corpo, físico, espiritual, emocional e psíquico.
Vamos falar da culinária cigana e de como ela é rica em especiarias. Além de ser uma culinária cujo preparo conta as fases da lua. Lindo, não é mesmo? Até me emociono. Lua remete a ciclos, ciclos nos lembram que nós, mulheres, somos cíclicas. Logo, podemos inferir que a culinária cigana é uma dádiva. Ademais, como falamos na semana passada, a importância de nutrir a si mesma de todas as formas é o que ancora a energia feminina. Dessa forma, exponho aqui, mais uma vez, orgulho pela minha natureza cigana, essa cultura tão rica e misteriosa. Quer mais nutrição que isso? Uma culinária que tem influência lunar? É muito afrodisíaco, não é mesmo? Sim, os ciganos acreditam que a comida encanta as pessoas, ainda mais porque cada preparo está imbuído de um desejo próprio, um objetivo.
As frutas também possuem um significado muito específico na culinária cigana. É um tesouro passado de mãe para filha. Cozinhar para os ciganos é um ritual indispensável para qualquer acontecimento ou comemoração. Esse conhecimento precisa ser dividido entre mães e filhas para que a energia possa fluir e haja a troca com o universo, porque nós acreditamos que ter alimento é um privilégio divino. Celebramos e honramos os alimentos, retribuindo, de alguma maneira, a Deus. E, no momento do preparo, há uma troca de energia entre o alimento e nós. É muito lindo, porque é o momento de comunicação com nosso eu superior. Há uma mensagem a ser transmitida através do alimento. Ademais, por meio dele, nutrimos a nós mesmas, tanto espiritual quanto fisicamente. E já que o corpo é morada da alma, a energia trocada no momento do preparo demanda pureza de sentimentos e muito amor. Para nós, o alimento é cura. Mas também é abundância, energia e nutrição, porque o corpo que se nutre, mas é a alma que se alimenta. Por isso, há uma série de cuidados ao preparar os alimentos, a fim de que essa energia não seja negativa. Isso é fundamental, pois energia negativa é veneno.
A influência oriental na cozinha cigana é marcante e, embora nossa característica nômade tenha nos proporcionado benesses como a incorporação de diversas culturas na culinária, nossa essência indiana permanece intacta. Por isso, as especiarias são os pontos fortes da cozinha cigana. Sabemos que cravo, canela, louro, manjericão e gengibre são alimentos considerados sagrados pelos indianos e, quando ingeridos, se configuram verdadeiros intermediários entre corpo e alma. Sem contar que, em torno dessas especiarias, estão contidos mistérios incorpóreos. Todos sabem, por exemplo, do ritual de soprar canela para atrair prosperidade, dos banhos de cravo para alinhar os chakras e tantos outros ensinamentos milenares dos orientais. Além disso, é primordial considerar o caráter afrodisíaco dessas especiarias. E, ainda, sua ligação com a abundância e a prosperidade. As frutas também assumem na cozinha cigana uma índole afrodisíaca. Frutas secas, cítricas, frutos-do-mar, mel e outras iguarias como o vinho compõem esse cenário deveras sedutor.
Como disse, as fases da lua são fundamentais para a cultura cigana, pois cada uma delas tem um domínio sobre nosso temperamento e, portanto, sobre nossa energia. Logo, se faz elementar uma conexão profunda com as emoções para saber qual interferência energética aquele alimento receberá. A lua nova, por exemplo, traz energia para finalizar projetos inacabados ou iniciar projetos para os quais desejamos resultados rápidos. Por isso, o ideal é uma comida que traga vigor, ânimo e empoderamento. Já na lua crescente, nós, ciganos, cozinhamos para o casamento, tanto para renovar votos de casais, quanto para jovens que estão iniciando a vida juntos ou até mesmo para unir casais. Então, as frutas, vinho e muitas dessas especiarias compõem o cardápio nessa fase. Acreditamos também que essa lua é propícia para se tomar conhecimento de projetos. Na lua cheia, nos reunimos e oferecemos um jantar para pessoas que amamos e esperamos os melhores elogios. Nessa fase lunar, também incentivamos o lançamento de produtos ou projetos que desejamos que se tornem públicos. A lua cheia é propícia para isso. Já na minguante, dedicamos toda nossa culinária para a cura. Fazemos os remédios caseiros utilizando ervas, raízes, sementes, flores e frutos. Além disso, cultivamos a horta e cuidamos das plantas, observando a época de plantio e colheita de cada uma, respeitando a natureza de cada planta e erva. Nessa lua também abastecemos nossas dispensas e reforçamos o aprendizado na medicina natural.
Enfim, a culinária cigana é deliciosamente feminina, sagrada, misteriosa e afrodisíaca. O alto nível de ancestralidade feminina que está por trás da culinária cigana é o que torna as mulheres desse povo artífices na arte de manter viva a força que até hoje mantém suas tradições vivas e toda a essência do legado cigano, resistindo aos mais variados infortúnios e preconceitos. Muito dessa força, se deve à culinária, verdadeira fortaleza espiritual do legado cigano no mundo. É uma comida bastante temperada e saborosa. Uma fortaleza tanto para o corpo, quanto para o espírito, para as emoções e para a mente.
Então, se você busca alimentar corpo e alma ao mesmo tempo, encontrará na culinária cigana a elevação do espírito por meio da nutrição do corpo, bem como cura, limpeza energética e conexão com Deus. Coisa mais linda não poderia existir no mundo!
Um afago.
Cigana Carmem.
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