Por Manu Cárvalho

Ele foi indicado duas vezes ao Oscar, mas ainda enfrenta desafios financeiros que revelam desigualdades enraizadas na indústria cinematográfica.
Djimon Hounsou, ator beninense reconhecido por atuações memoráveis em filmes como "Gladiador", "Diamante de Sangue" e "Amistad", recentemente abriu o coração sobre os desafios financeiros e o racismo sistêmico que enfrentou em mais de 20 anos de carreira em Hollywood. Apesar de seu talento e das indicações ao Oscar, ele revela que ainda “luta para sobreviver”.
“Estou no ramo de cinema há mais de duas décadas, com duas indicações ao Oscar e muitos filmes de sucesso. Ainda assim, estou lutando financeiramente para sobreviver. Definitivamente, sou mal pago”, afirmou Hounsou em entrevista recente à CNN. A declaração chocou muitos admiradores que, ao longo dos anos, o viram brilhar nas telas, mas também levantou questões sobre as profundas desigualdades salariais enfrentadas por atores negros na indústria.
Um sistema desigual e estereotipado
A experiência de Hounsou está longe de ser única. Como muitos atores negros em Hollywood, ele enfrentou papéis estereotipados e ofertas salariais desproporcionais. Durante sua participação em "Amistad" (1997), dirigido por Steven Spielberg, sua performance foi aclamada, mas não obteve reconhecimento suficiente da Academia, um sinal claro do preconceito estrutural.
“Mesmo tendo feito isso com sucesso, eles simplesmente não achavam que eu era um ator a quem deveriam prestar respeito”, revelou. Hounsou destacou que, mesmo após papéis de destaque, precisa batalhar por remunerações justas.
“Isso é um sinal de que o racismo sistêmico está profundamente inserido em tantas coisas que fazemos. Você não o supera. Apenas lida com ele da melhor forma possível”, desabafou.

Uma conexão com suas raízes
Hounsou também compartilhou a desconexão que sentiu ao chegar aos Estados Unidos, em 1990, vindo do Benim. Ele explicou que foi profundamente impactado pela falta de conhecimento sobre a história, cultura e ancestralidade africanas entre as comunidades afro-americanas. “Há um vazio tremendo pela falta de conhecimento de quem a gente é, do nosso passado, história e ancestrais”, disse.
Motivado por essa experiência, ele fundou, em 2019, a Djimon Hounsou Foundation, que tem como objetivo reconectar a diáspora africana às suas origens e combater a escravidão moderna. Sua fundação também busca conscientizar o mundo sobre as contribuições culturais e históricas da África, muitas vezes apagadas ou subestimadas.
O chamado por equidade em Hollywood
Hounsou não é o único a denunciar essas injustiças. Atrizes como Viola Davis também expuseram as disparidades salariais entre profissionais negros e brancos, mesmo quando possuem trajetórias e prêmios equivalentes. Para Davis, “a verdadeira inclusão vai além de papéis ou prêmios; é sobre valor”.
Enquanto Hollywood continua debatendo diversidade e inclusão, histórias como a de Djimon Hounsou mostram que ainda há muito a ser feito para combater o racismo estrutural e garantir oportunidades equitativas. Sua jornada não é apenas um relato de desafios, mas também um chamado à reflexão e à mudança em uma indústria que influencia o mundo inteiro.
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