O empreendedorismo feminino tem desempenhado um papel cada vez mais significativo na economia global e nacional. Mulheres empreendedoras estão quebrando barreiras, gerando impacto econômico e social. No entanto, o caminho para o sucesso ainda é pavimentado com desafios únicos que precisam ser enfrentados. Nesta matéria, exploraremos o aumento do empreendedorismo feminino, as dificuldades em mantê-lo e os obstáculos que as empreendedoras enfrentam no cenário atual.
A Ascensão do Empreendedorismo Feminino: Dados Estatísticos:
De acordo com dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), a taxa de empreendedorismo feminino tem aumentado significativamente nos últimos anos. No Brasil, as mulheres representam cerca de 50,4% dos empreendedores iniciais, indicando uma mudança notável no cenário de negócios. A média global também mostra um aumento constante, com mulheres representando 40% da força de trabalho empreendedora.
Dificuldades em Manter Empreendimentos:
Apesar do crescimento, manter um empreendimento continua sendo um desafio para muitas empreendedoras. Dados do Sebrae apontam que, embora 51% dos novos negócios sejam iniciados por mulheres, a taxa de sobrevivência desses empreendimentos é inferior à dos negócios liderados por homens. A necessidade de suporte contínuo para enfrentar as complexidades do mercado é evidente.
Obstáculos para Empreendedoras:
Acesso a Financiamento: Muitas empreendedoras ainda enfrentam dificuldades para obter financiamento. Dados do Banco Mundial revelam que mulheres recebem apenas 1% de todo o capital de investimento global.
Equilíbrio entre Trabalho e Vida Pessoal: O equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é um desafio constante para empreendedoras. A responsabilidade dupla de liderar um negócio e atender às demandas familiares pode impactar a saúde mental e a produtividade.
Estereótipos de Gênero: Estereótipos de gênero persistem no mundo dos negócios, prejudicando o reconhecimento e a credibilidade das empreendedoras.
Networking e Mentoria: A falta de redes de apoio e mentoria é uma barreira significativa. O acesso a redes de contatos influentes e mentores pode impulsionar o crescimento dos negócios.
Fatores que Contribuem para o Sucesso ou Fracasso:
Educação Empreendedora: Mulheres com educação empreendedora têm uma taxa de sucesso mais alta. Investir em programas educacionais específicos pode fortalecer as habilidades necessárias para enfrentar os desafios.
Acesso a Redes de Apoio: Empreendedoras que fazem parte de redes de apoio têm mais probabilidade de superar obstáculos. Iniciativas que promovem a conectividade e o compartilhamento de experiências são cruciais.
Políticas de Igualdade de Gênero: Países e empresas que implementam políticas de igualdade de gênero têm impacto positivo no empreendedorismo feminino.
O empreendedorismo feminino está em ascensão, mas as dificuldades persistem. É fundamental reconhecer os desafios específicos que as empreendedoras enfrentam e implementar medidas eficazes para promover um ambiente de negócios mais inclusivo e equitativo. Convidamos o economista e diretor da RG5, Ricardo Guntovitch para uma entrevista onde esclarece sobre iniciativas de apoio, acesso a financiamento e quebra de estereótipos para as mulheres continuarem a desempenhar um papel vital no cenário empreendedor.
Entrevista exclusiva com Ricardo Guntovitch – economista e diretor da RG5
Pàhnorama:
Por que, mesmo com o aumento do empreendedorismo feminino, muitos negócios liderados por mulheres enfrentam dificuldades que os levam à falência após cinco anos de atividades?
Ricardo Guntovitch:
Temos dois problemas clássicos que atingem as empreendedoras: um deles é no início, propriamente dito, quando continua na fase de startup e, a empresa, nem formada está. Ou seja, ela sequer tem um Plano de Negócios, por exemplo. E pode acreditar aqui eu não falo de nada muito complexo, não. Saber exatamente o quanto você venderá, quantos produtos você imagina vender, quanto cada produto te deixa de margem, qual é o custo desses produtos, quanto isso pode variar, saber o limite, seriam as primeiras informações importantes. Com esses dados você poderá avaliar que estrutura você precisará inicialmente para emitir nota fiscal, receber estoques, montar um escritório e, com base nessa estrutura, qual é o mínimo de vendas que você precisa alcançar para sustentar essa estrutura. Então, resumindo:
Etapa Inicial: Ter um Plano de Negócios que você tenha como guia (isso é possível) – consigo vender 10 desses produtos no mês. Já atendi um cliente que chegou na nossa empresa com a ideia de que precisava vender mais do que era o consumo da região dele de um produto “x”. Ou seja, jamais ele conseguiria lucrar e não adiantava nem fazer promessa.
Etapa de Crescimento: Seguindo o Plano de Negócios é possível alcançar sucesso. Quando o negócio decola e você tem três, quatro ou cinco lojas, várias unidades ou produtos, aí será fundamental implementar um sistema de gestão profissionalizada, saber quanto cada um está performando ou deixando de atingir as metas. É a gestão que fará a diferença. Você já está rodando a empresa e precisa acompanhar mês a mês o que está saindo do eixo, prejudicando ou não aquele resultado total da empresa.
Pàhnorama:
Quais são os principais obstáculos que as empreendedoras enfrentam no cenário atual, e como esses desafios podem ser superados para garantira sustentabilidade dos negócios a longo prazo?
Ricardo Guntovitch:
Os principais obstáculos que vejo é separar um pouco o que é paixão do que é negócio. Claro que o negócio precisa começar com algum talento e, esse talento, obviamente, vem da paixão. Por exemplo, um setor que as mulheres atuam é fortemente o de moda. Pode acontecer o seguinte cenário, essa mulher é uma pessoa que se vestia bem, gostava de desenhar, dar palpites em roupa e aí começa a fazer as próprias roupas e a vender para as amigas. Começa a dar certo (porque não tem custo, certo?) faz uma e vende uma. Vende de casa e daí tem aquela ideia: acho que abrirei uma loja, meu sonho é ter uma loja. E aí vira um negócio mesmo ao invés de um projeto autônomo. Nesse sentido, falta um pouco separar o que é paixão do que é negócio. Assim precisa pensar nesse momento: tem público para comprar esse vestido, essa lingerie nesse preço que você está vendendo? Esse negócio tem apelo comercial? Ou é um produto de nicho? Onde encontrar seu público para o sucesso do seu negócio? Aí você abre uma loja no “Iguatemi” e não vai vender nada e acha que o problema é “azar”. Mas não é. Precisa separar o que é paixão e fazer isso virar um negócio próspero, é o que acho, um dos principais problemas.
Pàhnorama:
Existem diferenças significativas nos fatores que contribuem para o sucesso ou fracasso de empreendimentos liderados por mulheres em comparação com os liderados por homens? Como essas diferenças impactam a taxa de falência após cinco anos? O que pode ser feito para evitar/impedir que haja falência?
Ricardo Guntovitch:
A principal diferença que vejo entre os clientes homens e mulheres, que não dá para generalizar, mas é uma coisa que ficou latente, é que o homem, quando vem pedir ajuda, ele já está com um problema grande. Ou seja, ele aparenta ser mais autossuficiente. Ele chega falando – será que eu mesmo que fiz tudo isso? Aí é o consultor que não sabe nada. A mulher costuma ser mais consciente e até humilde em relação ao que é a expertise dela e aberta a ajuda para superar as deficiências na gestão dos negócios. Então, é muito comum nas reuniões com as mulheres elas falarem: sou uma negação em finanças, eu não sei nada de finanças, eu só sei do meu negócio, do meu produto, do tipo de cliente. Enquanto o homem jamais assume que é “uma negação em finanças”, é como assumir que ele dirige mal, sabe? Inclusive, a mulher reconhece mais cedo que precisa de ajuda e isso é uma qualidade fundamental para a empreendedora de sucesso.
Pàhnorama:
Quais medidas práticas e estratégicas podem ser implementadas para fortalecer e apoiar os negócios conduzidos por mulheres, criando um ambiente propício para o seu crescimento contínuo e evitando a falência precoce?
Ricardo Guntovitch:
Na prática, seria, a cada investimento - desde a ideia, a concepção da ideia, de um novo produto dentro da mesma empresa é você fazer conta. Nem que seja uma “conta de padaria”, como a gente fala. Nessa conta tem que incluir, por exemplo, quanto imagino vender e... quanto isso vai me custar. Sim, apenas isso, já evitaria muito morrer na praia. O que é você morrer na praia? Contarei um caso real de um restaurante de uma mulher que conheci.
Eles tinham R$ 2 milhões de reais para fazer um novo negócio. Montaram um Restaurante na Oscar Freire. O lugar era super legal, comida boa, decoração linda, bacana mesmo. A dona era apaixonada pelo negócio. Tinha tudo para dar certo. Mas, quando acabou a obra, não tinha mais dinheiro nenhum no caixa. E aí? Como compra matéria-prima? Pegaram empréstimo, pois o restaurante já estava pronto para abrir! Então, vejam, calcularam um investimento que foi todo consumido na obra. Daí para frente começou um rombo de ter que pedir um empréstimo no banco.
Solução:
Fazer um orçamento antes e perceber que seriam necessários pelo menos mais 500 mil, por exemplo. E aquela conta da padaria mesmo. Para vender isso, quanto vai me custar? Fazendo com calma, é possível conseguir esse valor com uma dívida melhor, ou com um investidor. Descobrir que não tem dinheiro para a matéria-prima no mês que vai abrir, faz o dono do negócio, por desespero, pegar dinheiro a qualquer custo e virar uma dívida pesada. Pensar antes, planejar, são os fatores que podem inibir bastante a falência no primeiro ano, ou nos primeiros dois anos de empresa. Por acaso, esse restaurante, da Oscar Freire, infelizmente faliu, quebrou.
Pàhnorama:
Além das barreiras tradicionais, como questões de financiamento e acesso às redes profissionais, que outros fatores específicos podem estar contribuindo para a vulnerabilidade dos empreendimentos femininos e o que pode ser feito para mitigar esses riscos?
Ricardo Guntovitch:
O que vejo, que falei como uma qualidade na questão cinco, às vezes pode ser uma barreira para as mulheres também. Explicarei. Apesar de ser muito positivo o fato delas admitirem antes o erro e buscarem ajuda, normalmente se arriscam menos do que os homens. Dos vários atendimentos que fizemos nesses 10 anos, com mais de 200 empresas, posso te garantir que o homem, com certeza, vai mais na loucura. Isso, por um lado, você pode imaginar todo aquele planejamento certo? Mas, em algum momento, após planejar tudo, após ver tudo e tal, você tem que fazer uma decisão - você vai ter que pular de Paraquedas. Você já viu o paraquedas, você já viu se o avião tá decolando bonitinho, você já viu se o clima tá bom e aí você decide pular. Então, eu vejo que a mulher é assim, menos ousada e pensa muito antes de pular. O homem nem vê o paraquedas, nem vê o avião, nem vê nada e já pula. A mulher ela vê tudo e às vezes não pula, então acho que essa seria uma barreira característica das empreendedoras que eu enxergo.
Pàhnorama:
Diante das complexidades enfrentadas por empreendedoras, em sua opinião, qual é o papel das grandes empresas, governos e da sociedade em geral para criar um ambiente mais propício e igualitário para o empreendedorismo feminino?
Ricardo Guntovitch:
Seguindo um raciocínio um pouco mais da linha liberal na economia, acho que o papel do governo é não atrapalhar e, da sociedade em geral, é estimular seus núcleos; filha, sobrinha, amigas, alunas etc. Tenho um universo de 220 empresas atendidas e, pelo menos nesse universo, não percebi uma segregação de gênero e espero que continue assim. Mas, especificamente para o empreendedorismo feminino, recomendaria estimular as meninas e terão mulheres empreendedoras. O presente para a menina não precisa ser uma boneca, pode ser o Banco Imobiliário, como é para um menino. Dê confiança e autoestima para nossas meninas e elas realizarão seus sonhos, com sucesso e perenidade.
Quem é Ricardo Guntovitch?
Economista e diretor da RG5. Graduado em Economia pela FAAP e Pós-graduado em finanças (CFM) pelo Insper é analista certificado pela APIMEC e fez curso de especialização em Turnaround de empresas (Insper). Com experiência de 11 anos no mercado financeiro, em análise de empresas e projetos. Passagens pelos bancos JP Morgan, Santander e Itaú BBA.
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