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Entre o Gado e o Futuro: Quando o Agronegócio Começa a Ouvir a Terra

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 17 de jul.
  • 3 min de leitura
"Sustentabilidade não é marketing. É sobrevivência."

Enquanto o Brasil segue dividido entre a idolatria ao boi e o desmatamento em ritmo de blitzkrieg, uma iniciativa no coração do cerrado brasileiro parece indicar que há luz — e não só incêndio — no fim da porteira.

Relatório de Sustentabilidade
Divulgação

A Bom Jesus Agropecuária, uma gigante do setor agrícola e pecuário, lançou recentemente seu segundo Relatório de Sustentabilidade. Mas não se engane: não estamos falando de mais um PDF bonito para cumprir protocolo. Pela primeira vez, a empresa se posiciona com ações concretas e verificáveis dentro da agenda ESG — sigla que, embora já gasta de tanto uso, ainda guarda potência revolucionária quando praticada com seriedade.

No documento, saltam aos olhos duas conquistas inéditas para a corporação: a criação do Comitê ESG, que une líderes de diferentes áreas da empresa, e o primeiro inventário de emissões de gases de efeito estufa, elaborado com base no rigoroso GHG Protocol, e validado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Mais do que medir, o inventário nos ajuda a planejar ações futuras para reduzir impactos e seguir avançando com responsabilidade”, afirma Bianca Cumpian, gerente de Sustentabilidade do Grupo Bom Jesus.

A fala de Bianca não é retórica vazia. O inventário detalha, com precisão cirúrgica, as emissões de CO₂, metano e óxidos nitrosos — gases que vêm sufocando não só o planeta, mas o próprio futuro da agropecuária brasileira. Porque, sejamos francos: não haverá lavoura sem chuva. E não haverá chuva sem floresta.

A revolução silenciosa da ILP

Outro ponto crucial do relatório é a expansão da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) — uma tecnologia sustentável que integra culturas agrícolas e pastagens em uma mesma área, promovendo equilíbrio ecológico, produtividade e regeneração do solo. Atualmente, o sistema ocupa 3.579 hectares, com previsão de expansão para os núcleos Nova Viena e Umbuzeiro em 2025.

Essa prática não apenas reduz a pressão por abertura de novas áreas, como recupera pastagens degradadas, aumenta a eficiência no uso da terra e colabora para a redução da emissão de GEE.

“Estamos estruturando um caminho mais sólido e estratégico, com o engajamento de toda a liderança. Estamos fazendo isso com seriedade, respeitando nossa cultura e sendo transparentes em cada etapa”, reforça Bianca.

Quando o agro desce do palanque e entra na história

Durante décadas, o agronegócio brasileiro foi visto como o vilão ambiental definitivo — e não sem razão. Em 2022, 78% do desmatamento da Amazônia foi causado por atividades ligadas ao setor agropecuário, segundo dados do MapBiomas. A má fama foi construída à força de tratores, grileiros e discursos de gabinete.

Mas há uma outra frente — silenciosa, mais técnica que política — que começa a germinar. E é exatamente aí que iniciativas como a da Bom Jesus Agropecuária ganham relevância. Não se trata de esquecer os danos causados. Muito menos de absolver crimes ambientais com relatórios vistosos. Mas é preciso reconhecer quando há uma tentativa real de correção de rota. Porque a transformação só acontece quando o discurso deixa o palanque e desce para a planilha — e, sobretudo, para o chão da terra.

Transparência, governança e rastreabilidade: a tríade do futuro

O Relatório de Sustentabilidade da Bom Jesus segue os padrões internacionais da Global Reporting Initiative (GRI) e do Sustainability Accounting Standards Board (SASB). Traduzindo: não é uma carta de intenções, mas um documento técnico, auditável, com metas, indicadores e resultados.

Com isso, a empresa se posiciona em um patamar que vai além do greenwashing: ela começa a se tornar rastreável, avaliável, comparável. E, acima de tudo, cobrável.

Refletindo... O Brasil que planta precisa aprender a colher

Ainda há muito a ser feito. O agronegócio que de fato salvará o Brasil — e não o que posa em outdoor patriótico — será aquele que investir em regeneração de solo, em bem-estar animal, em ciência climática, em segurança hídrica, em direitos dos povos da terra. Um agronegócio que respeite o tempo do milho e o tempo da memória. Que compreenda que produtividade e biodiversidade não são inimigas — são parceiras.

A Bom Jesus Agropecuária não é perfeita, e ela mesma admite isso. Mas ao dar esse passo rumo à rastreabilidade ambiental e à transparência de seus impactos, ela lança um convite para que outras gigantes do setor façam o mesmo. Porque a monocultura da ignorância ambiental já não cabe num mundo com 50°C à sombra.

Afinal, quem alimenta o planeta precisa começar por nutrir sua própria consciência.

Você já perguntou de onde vem o seu alimento — e o que ele está levando embora?

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