Festival de Cinema de Gramado, o mais antigo festival do cinema brasileiro, acontece no próximo mês
- Renata Freitas

- 16 de jul.
- 7 min de leitura

No último dia 15, a Revista Páhnorama foi convidada à participar da abertura do Festival de Cinema de Gramado, no Rio de Janeiro, em uma coletiva de imprensa. Na cobertura de um hotel 4 estrelas, intimista e aconchegante, ao fundo se via o Cristo Redentor iluminado e a Baía da Guanabara a seus pés. Um ótimo espaço de encontro entre dois estados que se unem para celebrar o cinema nacional e seu sucesso internacional. O Festival cumpre importante papel para a visibilidade da Serra Gaúcha, firmando Gramado como um dos destinos turísticos mais procurados de todo o Brasil. Ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, segundo Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, produtora do evento, que confessou, ainda, seu desejo de morar em nossa Cidade Maravilhosa.
O mais antigo festival de cinema ininterrupto do Brasil, que faz parte do Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul, acontece entre os dias 13 e 23 de agosto. A programação terá início com a 1ª Mostra Nacional de Cinema Estudantil Educavídeo e a abertura oficial será no dia 15 de agosto, com a exibição hors concours do inédito “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro. Com lançamento nos cinemas brasileiros confirmado para 28 de agosto, o filme conquistou o Urso de Prata na 75ª edição do Festival de Berlim, em fevereiro deste ano. Pioneiro na realização de eventos do gênero, tornou-se referência para o cinema nacional, acompanhando todas as suas fases, ao longo de sua trajetória. Desde a primeira edição, com a consagração de “Toda Nudez Será Castigada”, de Arnaldo Jabor, em 1973, mais de mil Kikitos foram distribuídos entre profissionais do cinema, em diferentes categorias. Além da celebração da produção brasileira e gaúcha, o evento ainda inclui em sua programação uma mostra competitiva de filmes ibero-americanos desde 1992. Já os troféus Oscarito, Eduardo Abelin, Kikito de Cristal e Cidade de Gramado prestam homenagem a atores, cineastas e personalidades ligadas ao cinema.

Durante coletiva de imprensa realizada no dia 8 de julho, em Gramado, o 53º Festival de Cinema de Gramado divulgou os longas-metragens brasileiros de ficção que disputarão o Kikito em 2025. Apresentou, também, outros destaques da programação, como os curtas-metragens gaúchos selecionados para o Prêmio Assembleia Legislativa, os agraciados com o Troféu Leonardo Machado e os Prêmios IECINE, além de detalhes sobre o Conexões Gramado Film Market, segmento mercadológico do evento serrano. Foram escolhidos seis longas de ficção inéditos no Brasil, para a competição, que serão exibidos no Palácio dos Festivais.
A curadoria foi assinada pelo ator e diretor Caio Blat, pela atriz Camila Morgado e pelo jornalista, professor e crítico Marcos Santuario. Como bem enfatizado por Marcos, a seleção deste ano destaca a força da cidade como a primeira janela de exibição dos mais recentes títulos da cinematografia brasileira. Os 3 curadores enfatizaram, em suas falas de apresentação, a dificuldade que foi escolher os 6 longas dentre tantos de ótima qualidade, e pelo recorde de submissão de filmes para essa edição. Caio afirma, ainda, o crescimento da indústria cinematográfica brasileira pelo reconhecimento internacional de nossa produção audiovisual, entre Oscar, Globo de Ouro e tantas outras premiações recentes.
Os indicados para a mostra competitiva de longas-metragens brasileiros foram “A Natureza das Coisas Invisíveis” (DF), de Rafaela Camelo, “Cinco Tipos de Medo” (MT), de Bruno Bini, “Nó” (PR), de Laís Melo, “Papagaios” (RJ), de Douglas Soares,“Querido Mundo” (RJ), de Miguel Falabella, e “Sonhar com Leões” (SP), de Paolo Marinou-Blanco.
Coletiva de imprensa para a abertura do Festival de Cinema de Gramado Foto: arquivo pessoal
Na pluralidade de narrativas dos filmes indicados, é possível observar a diversidade cultural e artística de nosso país. O Rio de Janeiro figura como plano de fundo do longa “Papagaios”, de Douglas Soares, que esteve presente na coletiva falando sobre a honra de participar do Festival, e que, nas palavras do diretor, une tão bem o turismo ao cinema permeando todo o trabalho de forma sensível. O personagem central é Tunico, o “Papagaio Pirata” mais famoso do Rio, que está sempre seguindo repórteres para aparecer na TV. Após um grave acidente, ele conhece Beto, um jovem misterioso que se torna seu aprendiz, em um país com mais de 70 milhões de televisores ligados todos os dias.
Tradicional janela de exibição do cinema gaúcho, o Prêmio Assembleia Legislativa novamente celebra o melhor da mais recente safra do cinema em curta-metragem produzido no Rio Grande do Sul com trabalhos realizados na capital Porto Alegre e em outras dez cidades do Estado. São 18 títulos que formam um mosaico plural e descentralizado para uma mostra tradicionalmente reconhecida por revelar novos talentos da produção audiovisual local. O evento também apresenta em sua programação homenagens para prestar tributo a personalidades que se destacam na produção gaúcha. Em 2025, seis nomes terão sua trajetória celebrada pelo Troféu Sirmar Antunes, entregue pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul; pelo Prêmio Leonardo Machado, instituído pela Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, e pelos Prêmios Iecine nas categorias de Legado, Inovação e Destaque, uma realização do Instituto Estadual de Cinema (Iecine). Todas as honrarias serão entregues na cerimônia de premiação do Prêmio Assembleia-Legislativa – Mostra Gaúcha de Curtas.

A produção do Festival, atenta aos movimentos do mercado audiovisual mundial, também apresenta a nona edição do Conexões Gramado Film Market. Acontece entre os dias 16 e 22 de agosto, com a proposta de abordar a produção audiovisual de forma ampla e integrativa, pelas perspectivas de criação, economia, política e transformação social. Conta com rodadas de negócios, com os principais players do mercado audiovisual brasileiro, da VIII Mostra de Filmes Universitários e de novidades sobre a discussão do formato de teasers e trailers. Para esta edição, o foco está para ações voltadas à internacionalização, desde a capacitação de produtores gaúchos para inserção no mercado exterior à discussão de ações que viabilizem a circulação e negociação de produções brasileiras em outros países.
Antecipando a abertura oficial do festival, nos dias 13 e 14 de agosto, acontece o Educavídeo, programa que oferece capacitação em linguagem audiovisual para estudantes da rede pública de Gramado. Lançando, mais uma vez, os holofotes para a produção estudantil do município que, desde 2011, já recebeu mais de mil alunos e realizou mais de 110 produções, entre curtas-metragens, documentários, webséries e um média-metragem. As produções dos estudantes já participaram de diversos festivais de cinema estudantis e conquistaram mais de 40 prêmios.
Para a imprensa carioca, na noite de ontem, a produção revelou os tão aguardados nomes que serão homenageados em sua 53° edição. A atriz Marcélia Cartaxo, a produtora Mariza Leão e o ator Rodrigo Santoro receberão, respectivamente, os troféus Oscarito, Eduardo Abelin e Kikito de Cristal. O curador, Caio Blat, afirma que a indicação da produtora Mariza Leão para a homenagem partiu dele, como reconhecimento de seu trabalho como essencial para a indústria audiovisual brasileira. A produtora, também presente, se diz aficionada pelo festival. Formada em jornalismo, confessa que, apenas por influência de seu marido, Sérgio Rezende, é que foi para o cinema, aos 18 anos, e que criaram em 1975 sua produtora Morena Filmes.
Bruna Linzmeyer em coletiva de imprensa para Festival de Cinema de Gramado Foto: arquivo pessoal
Outra revelação de destaque foi a série brasileira que será lançada durante o evento: “Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente”, de Marcelo Gomes e Carol Minêm.
Terá seu primeiro episódio exibido no Palácio dos Festivais na noite de sábado, 16 de agosto. A série de cinco episódios retrata um período de tensão no Brasil, a epidemia da AIDS e do HIV durante a década de 1980. Baseada em fatos reais, a história acompanha um grupo de comissários de bordo que, ao ver amigos e colegas adoecerem sem acesso ao tratamento, inicia uma operação arriscada de trazer ilegalmente o medicamento AZT do exterior, mobilizando uma rede de solidariedade em meio à negligência do governo frente à crise. A atriz Bruna Linzmeyer, que têm se destacado pelo seu papel de ativista social pelos direitos da população LGBTQIAPN+, esteve presente como representante da série e que sua presença se mostra simbólica em espaços que perduram, ainda, os padrões cisheteronormativos institucionais.
A série teve estreia internacional no Festival de Berlim, em fevereiro deste ano, recebendo uma Menção Honrosa da Queer Media Society, e reforçando seu impacto e relevância na representação de narrativas LGBTQIAPN+. Também foi premiada no Festival Luna de Valência como Melhor Série de TV e como Melhor Série pelo júri jovem, além de ter recebido menções honrosas nas categorias de Melhor Roteiro e Melhor Som e Trilha Sonora Original. Thiago Pimentel, um dos produtores da série, diz da emoção de estrear no Brasil, através do Festival, e da importância da parceria com a produtora Morena Filmes.

O ator Edson Celulari, participando da coletiva, fala sobre sua estreia como diretor, "Área de risco", lançado em 2022, e estrelado também por ele, trata de um suspense psicológico que explora temas como manipulação, segredos e suas consequências, ambientado em um cenário que reflete a complexidade da natureza humana. Será apresentado, pela primeira vez, na mostra paralela da Festival. Lembra da única vez em que o filme foi exibido em rede nacional, na madrugada, recebendo ligações de amigos para parabenizá-lo. Conta que foi um produção despretensiosa e que sente muito orgulho do trabalho desempenhado, mas que não há pretensão de dirigir outros filmes.
Aos que não irão ao Festival mas desejam acompanhar a programação, será possível acompanhá-lo ao vivo. O Canal Brasil faz uma parceria de muitos anos com a cobertura oficial do evento. Além de concorrer aos Kikitos em 13 categorias, os realizadores dos curtas-metragens brasileiros concorrem ainda ao Prêmio Canal Brasil de Curtas.
Com o objetivo de estimular a nova geração de cineastas, um júri convidado pelo Canal Brasil e composto por jornalistas especializados em cinema, escolhe o melhor curta em competição, que recebe o troféu Canal Brasil, um prêmio no valor de R$ 15 mil e ainda a exibição do filme na programação do canal.














Comentários