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Greenwashing global: Governo brasileiro vende discurso sustentável e entrega devastação

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 26 de ago.
  • 4 min de leitura

COP30 é para o governo do Brasil mais um teatro global para enganar quem ainda acredita em promessas


Governo brasileiro vende discurso sustentável e entrega devastação
Créditos: Juliano Bueno

Na última sexta-feira, 22 de agosto de 2025, o Ministério de Minas e Energia assinou um pacto com o retrocesso. Em plena década que deveria marcar a transição energética global, Alexandre Silveira, ministro da pasta, lançou editais para o Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) 2026, abrindo as portas novamente para a contratação de usinas termelétricas movidas a gás natural, óleo diesel e carvão mineral — este último, o combustível fóssil mais sujo e mais letal em emissões.

Não se trata de um detalhe técnico da política energética. Trata-se de um golpe contra o clima, contra os compromissos assumidos pelo Brasil e, sobretudo, contra as comunidades que já hoje respiram a fumaça tóxica da expansão térmica no país.

O “Leilão das Emissões” que não para de crescer

O Instituto Internacional ARAYARA havia batizado o LRCAP 2025, cancelado em abril, de “Leilão das Emissões”. À época, o risco era de que a operação adicionasse até 1,11 gigatoneladas de CO₂ até 2050, um volume suficiente para arruinar qualquer meta climática brasileira. Mas o governo decidiu insistir — e agora vai além: inclui o carvão mineral e o óleo diesel na conta.

“Com o LRCAP 2026, o cenário se torna ainda mais preocupante. O edital inclui térmicas a carvão mineral e a óleo diesel, o que dificulta até mesmo estimar o volume total de emissões adicionais”, alertou John Wurdig, gerente de transição energética da entidade.

Enquanto isso, a UTE Candiota III, no Rio Grande do Sul, que acumula processos por crimes ambientais e até uma liminar de suspensão da sua Licença de Operação, aparece como a grande beneficiária da medida. Mais uma vez, interesses privados se sobrepõem ao bem público.

Pior: entre junho e julho de 2025, a Âmbar Energia — empresa do grupo J&F, controladora da JBS — recebeu mais de R$ 26 milhões em subsídios da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), dinheiro do bolso do consumidor, para manter de pé um modelo que deveria ter sido enterrado décadas atrás.

O teatro verde da COP30

A contradição ganha contornos ainda mais cruéis quando lembramos que, em poucos meses, o Brasil será palco da COP30, em Belém. O evento promete ser o grande fórum mundial sobre clima, mas a realidade mostra o abismo entre discurso e prática.

Dentro dos auditórios climatizados, líderes discursarão sobre “neutralidade de carbono” e “transição justa”. Do lado de fora, porém, o país continuará despejando recursos em carvão, óleo e gás, destruindo a Amazônia e exportando energia suja.

A COP, afinal, se transformou em um espetáculo midiático: um ritual de promessas que nunca se cumprem, onde governos e corporações disputam quem consegue parecer mais verde diante das câmeras. Como se uma foto ao lado de uma árvore pudesse apagar o cheiro da fumaça que cobre cidades inteiras.

O mapa da contradição brasileira

  • Energia suja financiada com dinheiro público: R$ 26 milhões repassados à Âmbar Energia em apenas dois meses.

  • Violação das metas climáticas: até 1,11 gigatoneladas de CO₂ podem ser lançadas na atmosfera com as novas térmicas.

  • Comunidades reféns: moradores do entorno de Candiota respiram o ar mais poluído do Brasil, segundo o próprio Ibama.

  • Internacionalização da farsa: o Brasil posa de anfitrião climático enquanto promove um dos modelos mais atrasados do planeta.

O que é o Greenwashing Global?

O termo greenwashing surgiu para definir quando empresas, governos ou instituições vendem uma imagem de preocupação ambiental que, na prática, não se sustenta. Ou seja, falam em “sustentabilidade”, “zero carbono”, “compensação de emissões” e “preservação da natureza”, mas continuam lucrando com práticas altamente poluidoras, exploratórias e destrutivas.

No greenwashing global, isso acontece em larga escala, com países e organismos internacionais criando campanhas, conferências e pactos ambientais que soam como soluções, mas que na realidade escondem interesses econômicos e políticos. A narrativa de salvar o planeta se mistura com a manutenção do modelo de exploração — em que a Amazônia, o Cerrado e outros biomas viram moeda de troca para barganhas financeiras.

É nesse cenário que entram encontros como a COP30, que prometem compromissos ambientais e metas de descarbonização, mas deixam de lado questões centrais: redução do consumo desenfreado, enfrentamento das corporações mais poluentes, combate às cadeias produtivas predatórias e às estruturas criminosas como garimpo ilegal e milícias ambientais.

Resumindo, o greenwashing global é uma maquiagem verde aplicada para acalmar a opinião pública, iludir a sociedade e manter os interesses de quem realmente lucra com a devastação ambiental.

Entre a fumaça e a esperança

É nesse choque entre promessa e prática que se desenha a cena do Brasil de 2025: de um lado, discursos internacionais embalados em palavras como “verde”, “transição” e “justiça climática”; de outro, o carvão mineral gaúcho comprado com dinheiro da conta de luz de milhões de brasileiros.

A pergunta que fica ecoando é simples e brutal: até quando aceitaremos ser plateia de um teatro climático, enquanto respiramos a fumaça real das decisões que matam o presente e hipotecam o futuro?

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