Keanu Reeves e China Miéville: Uma parceria improvável que virou literatura
- Manu Cárvalho
- há 4 horas
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Por Manu Cárvalho
“The Book of Elsewhere” é mais do que um romance de ação: é o retrato da conexão criativa entre um astro de Hollywood e um dos escritores mais inventivos da ficção especulativa.
Quando dois mundos se encontram
Poucas colaborações criativas poderiam parecer tão inusitadas quanto a de Keanu Reeves — o icônico ator por trás de Neo e John Wick — e China Miéville — autor britânico de ficção científica e fantasia conhecido por obras como Perdido Street Station e A Cidade & A Cidade. E, no entanto, foi exatamente esse encontro de universos que deu origem a The Book of Elsewhere, lançado em julho de 2024.
A semente do livro foi plantada quando Reeves, já mergulhado no universo de seu quadrinho ultraviolento BRZRKR, quis explorar seu personagem imortal por meio de um novo formato. Foi então que decidiu procurar Miéville, que recebeu o convite com surpresa e curiosidade. O autor contou que, num primeiro momento, achou que era trote — até confirmar que o astro queria mesmo trabalhar com ele.
O nascimento de uma narrativa filosófica
The Book of Elsewhere não é apenas uma expansão de BRZRKR, mas uma releitura profunda e melancólica. O protagonista B (ou Unute) continua sendo o guerreiro imortal à beira do colapso emocional — mas aqui, sua luta principal é interna. O romance mergulha em reflexões sobre a eternidade, o trauma, a violência, a memória e o desejo humano pela finitude.
“A colaboração foi extremamente generosa”, disse Miéville em entrevistas. Segundo ele, Keanu o encorajou a desconstruir, reinventar e até contradizer elementos do universo original, criando uma nova camada de complexidade à história.
A escolha por esse tom mais contemplativo reflete algo íntimo: Reeves revelou que lidava com questões sobre morte e perda no momento da criação. Ele queria um livro que falasse sobre amor, dor e o que nos torna humanos — por mais super-humanos que pareçamos ser por fora.
Processo criativo e respeito mútuo
A escrita foi feita com muita troca e respeito. Reeves admite que não dominava o processo literário e contou com a orientação e experiência de Miéville. Já o autor britânico, conhecido por seu domínio da linguagem e imaginação exuberante, precisou equilibrar sua voz autoral com a estética direta e visual do ator-roteirista.
“Foi como brincar com os brinquedos de outra pessoa, mas com liberdade para criar novos mundos a partir deles”, descreveu Miéville.
Eles trabalharam em silêncio durante meses antes de anunciar o projeto. O sigilo foi proposital: ambos queriam ter certeza de que estavam criando algo significativo — e não apenas um produto com o nome de uma celebridade.
Além do hype: uma obra que surpreende
Lançado pela editora Del Rey, o livro foi recebido com surpresa e elogios. Críticos destacaram a fusão inusitada entre ação visceral e prosa poética. A obra não é um blockbuster literário tradicional, nem uma ficção especulativa hermética: é algo híbrido, com alma, com angústia, com humanidade.
Para os fãs de BRZRKR, o romance oferece novas camadas de compreensão sobre B. Para quem nunca ouviu falar do personagem, o livro funciona como um mergulho completo — e acessível — em dilemas existenciais embalados por cenas épicas e intensas.
E o futuro dessa parceria?
Ainda não há confirmação sobre uma continuação. Ambos os autores parecem abertos à ideia, mas deixaram claro que o livro é uma obra fechada. O que The Book of Elsewhere deixa para os leitores, porém, é a lembrança de que grandes criações podem surgir de conexões inesperadas — e que, às vezes, a colaboração verdadeira se revela não na soma das partes, mas na transformação mútua durante o processo.
Em um mundo marcado pela velocidade e superficialidade, a parceria entre Keanu Reeves e China Miéville nos lembra que contar histórias ainda pode ser um ato de entrega profunda e sincera.
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