[Entrevista] Luxemburgo aponta favoritismo do PSG e alfineta Real Madrid: “uma das piores atuações que já vi”
- Da redação

- 12 de jul.
- 6 min de leitura
Ex-treinador do Real Madrid comentou o desempenho dos clubes brasileiros, apontou favoritos e criticou a forma como o Brasil trata seus próprios profissionais
Por Elaine D’Ávila

Com passagens por gigantes como Flamengo, Palmeiras, Santos, Corinthians e o próprio Real Madrid, Vanderlei Luxemburgo tem propriedade para falar sobre futebol em alto nível — e não mediu palavras ao analisar o desempenho das equipes no Mundial de Clubes. Para ele, o Paris Saint-Germain “é hoje a equipe que melhor pratica o futebol no mundo” e entra como favorito na final contra o Chelsea. Já o Real Madrid, na opinião do treinador, protagonizou “uma das piores atuações que já vi” ao ser goleado por 4 a 0 na semifinal.
Luxemburgo elogiou o trabalho do técnico Luis Enrique à frente do PSG e destacou a superioridade tática e técnica do time francês, que não apenas venceu o clube espanhol, mas o dominou do início ao fim. “O PSG jogou de forma impecável. E quando você faz isso contra o maior clube do mundo, o peso da vitória é ainda maior”, afirmou.
O treinador também comentou a participação dos clubes brasileiros no torneio, com destaque para Fluminense e Botafogo, que chegaram mais longe do que o esperado. Na visão de Luxa, o Flamengo e o Palmeiras, que desembarcaram como favoritos, decepcionaram, enquanto Renato Gaúcho soube conduzir bem o Tricolor carioca, mesmo com erros na reta final. “O Brasil mostrou a cara. Chegamos perto. Foi uma participação excelente no geral”, avaliou.
Crítico da maneira como a imprensa e parte da torcida tratam os treinadores brasileiros, Luxemburgo fez questão de responder ao rótulo de que técnicos mais experientes estariam ultrapassados. “Só no futebol o mais velho é tratado como ultrapassado. Em qualquer outro lugar, experiência é qualidade. Aqui, virou defeito”, disparou.
Luxa ainda comentou as diferenças entre os clubes europeus e brasileiros — sobretudo no aspecto financeiro — e projetou o que esperar da grande final entre PSG e Chelsea. “O favoritismo é do PSG, mas final é final. No futebol, o melhor pode perder. E isso faz parte do jogo”, resumiu.
Confira, a seguir, a entrevista completa:
ENTREVISTA | VANDERLEI LUXEMBURGO
1. Luxa, o que achou do desempenho do PSG contra o Real Madrid? A vitória por 4 a 0 foi surpreendente para você?
Eu achei que o Real Madrid jogou muito mal — talvez tenha sido uma das performances mais negativas da história recente do clube em competições de alto nível. O time se mostrou desorganizado, errou demais tecnicamente, e o treinador também contribuiu com uma escalação equivocada. Faltou leitura do jogo, faltou reação. Por outro lado, o PSG atuou de maneira impecável, com superioridade em todos os aspectos: tático, técnico e emocional. Foi uma vitória construída com autoridade. E quando você domina dessa forma um adversário como o Real Madrid, que é o maior clube do mundo, isso ganha ainda mais relevância.
2. O que mais chamou sua atenção no PSG de Luis Enrique? Foi uma atuação que beirou a perfeição contra um adversário do tamanho do Real Madrid?
O Paris Saint-Germain, hoje, é a equipe que melhor pratica o futebol no mundo. É um time que reúne todos os fundamentos: marcação, velocidade, inteligência tática, movimentação e técnica. A vitória teve um peso ainda maior por ter sido contra o maior clube do mundo. Mas o PSG já vem há um tempo mostrando sua força. Essa atuação apenas confirmou o que eles vêm construindo sob o comando do Luis Enrique.
3. Agora o PSG encara o Chelsea na final. Qual time você vê como favorito para levar o título mundial?
Eu gostei muito do Chelsea. No jogo contra o Fluminense, eles deixaram o adversário sem reação, sem alternativas. O Fluminense não conseguiu impor seu jogo, não conseguiu construir jogadas, nem reagir emocionalmente. Em momento algum o Chelsea foi inferior dentro da partida. Foi uma atuação cirúrgica, que mostra que a equipe está muito bem preparada. O PSG chega com favoritismo por tudo que apresentou até aqui e pelo nível de jogo que vem praticando. Mas, como todo mundo sabe, final é final e tudo pode acontecer. Futebol tem esse componente imprevisível. O Chelsea está vivo, mostrou qualidade e também tem força para vencer.
4. Quatro clubes brasileiros participaram deste Mundial, e dois deles — Fluminense e Flamengo — foram comandados por técnicos brasileiros. Como você avalia o desempenho geral das equipes do Brasil na competição e, em especial, o trabalho desses treinadores que representaram a escola brasileira no torneio?
Os quatro brasileiros entraram com objetivos distintos. Os que carregavam mais expectativa eram Flamengo e Palmeiras, que já chegaram com rótulo de favoritos. O Flamengo decepcionou — teve uma atuação muito fraca contra o Bayern, com muitos erros, não jogou como tinha que jogar. Lembrou muito o que o Real Madrid viveu contra o PSG. O Palmeiras também não teve grandes atuações. Não conseguiu impor seu jogo com consistência. Já o Botafogo e o Fluminense, que não eram apontados como favoritos, surpreenderam de maneiras diferentes.
O Botafogo, mesmo com limitações técnicas, conseguiu segurar o PSG por um tempo, principalmente por um bom comportamento defensivo — mas muito disso também passou por falhas do próprio PSG, que oscilou emocionalmente e fisicamente naquele momento. Já o Fluminense, teve um desempenho interessante, mostrou organização, leitura e competitividade. Claro, na semifinal contra o Chelsea, o Renato errou na escalação, nas substituições e na forma como a equipe se comportou em campo. Mas, mesmo com os tropeços, a campanha do Fluminense foi muito digna.
No geral, considero uma participação muito positiva para os clubes brasileiros. Mostramos competitividade, organização e coragem. O Brasil mostrou a cara. O Palmeiras poderia ter ido mais longe, o Flamengo ficou abaixo, mas o saldo geral é positivo.
5. A mídia frequentemente aponta que os técnicos brasileiros estariam ultrapassados. Mas neste Mundial, vimos estratégias sólidas, postura ofensiva e bons jogos por parte dos nossos representantes. Isso ajuda a desconstruir esse rótulo?
Isso é uma questão séria no Brasil. Existe um preconceito contra o profissional brasileiro, especialmente contra os mais experientes. Infelizmente, o brasileiro muitas vezes não valoriza o que é seu. No futebol, isso fica ainda mais claro. A pessoa mais experiente é vista como ultrapassada, quando, na verdade, ela tem muita vivência, conhecimento acumulado e uma visão ampla.
É só olhar para outras áreas: na medicina, o médico mais velho é valorizado porque tem muita experiência. Na advocacia, o advogado mais velho é respeitado. No futebol, não. Aqui, se o técnico é mais velho, automaticamente é considerado ultrapassado. Isso é um erro grave.
Hoje, parte da imprensa e muitos jovens que começaram a acompanhar futebol há 20 anos ignoram décadas de história, conhecimento e evolução tática. Parece que o futebol começou há 20 anos. Quem está fora disso é tratado como obsoleto. Isso é uma pena.
Temos muitos profissionais capacitados no Brasil. O Renato Gaúcho mostrou isso no Fluminense. O Abel Ferreira, mesmo sendo estrangeiro, entende bem o nosso futebol. O Felipe Luís também tem uma leitura tática muito boa. Já o técnico do Botafogo, por exemplo, teve uma postura covarde, não conseguiu fazer seu time competir e acabou saindo porque não entregou. No fim, o futebol exige conhecimento, entrega e personalidade — e isso não tem idade.
6. Você teve a experiência de comandar clubes no Brasil e também no exterior, inclusive o próprio Real Madrid. Na sua visão, a diferença entre os elencos ainda pesa mais, ou o conhecimento tático pode equilibrar forças em um torneio como o Mundial?
A diferença estrutural sempre existiu — e o fator financeiro é o principal ponto. Os clubes europeus têm muito mais poder de investimento. Eles montam elencos milionários, trazem os melhores jogadores do mundo. A folha de pagamento do Chelsea, por exemplo, é absurda. Eu trabalhei no Real Madrid e sei como funciona: eles vão atrás dos melhores e contratam. Simples assim. É difícil competir com isso.
Mas o que nos equilibra é a qualidade dos profissionais brasileiros. Somos muito bons no que fazemos. Temos domínio técnico, tático, conhecimento de preparação física, emocional, leitura de jogo. Lidamos com adversidades diariamente. A escassez de recursos, a pressão por resultados, a oscilação dos clubes — tudo isso nos obriga a sermos criativos, a desenvolver soluções. Isso nos fortalece. Então, tirando o aspecto econômico, acredito que estamos no mesmo nível, ou até superiores em algumas áreas. O brasileiro é muito preparado. E o Mundial, mesmo com todas as diferenças, permite esse choque.
7. Para encerrar: o que esperar dessa final entre PSG e Chelsea? O que pode fazer a diferença em um jogo com tanta qualidade técnica dos dois lados?
O PSG entra como favorito. Pelo elenco, pelo momento, pela forma como vem jogando. Mas é uma final — e em jogo único tudo pode acontecer. O futebol é o único esporte em que o melhor pode perder. Já vimos isso muitas vezes. O Internacional venceu o Barcelona, com aquele time incrível, e ganhou com gol do Gabiru. Eu mesmo já perdi jogo decisivo contra times que ninguém esperava. O Real Madrid já foi eliminado da Copa do Rei por clubes de divisões inferiores. Isso é o futebol.
O Chelsea é forte, competitivo, chegou à final com méritos, deixou gigantes pelo caminho. Vai ser um grande jogo, equilibrado, de detalhes. O PSG tem mais chances, mas o futebol é imprevisível — e é isso que torna o jogo tão fascinante. Eu, como todo mundo, estarei na expectativa.







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