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Morre Jean-Claude Bernardet, pesquisador essencial do cinema brasileiro, aos 88 anos

  • Foto do escritor: Manú Cárvalho
    Manú Cárvalho
  • 12 de jul.
  • 3 min de leitura

Por Manu Cárvalho

Jean-Claude Bernardet
Cena do filme A Destruição de Bernardet – Foto: Divulgação

Crítico, teórico e cineasta, ele deixa legado profundo na construção do pensamento audiovisual no país. Amigo de Glauber Rocha e formador de gerações, Bernardet ajudou a escrever a própria história do cinema nacional.


Um nome que moldou o olhar sobre o Brasil

Faleceu neste sábado (12), aos 88 anos, Jean-Claude Bernardet, um dos mais influentes pensadores do cinema brasileiro. Natural da Bélgica e radicado no Brasil desde a juventude, Bernardet foi mais do que um crítico ou pesquisador: ele se tornou uma voz essencial na construção da identidade cinematográfica do país.


Sua morte representa o fim de uma era para quem estuda, faz ou simplesmente ama o cinema brasileiro. Com uma trajetória que atravessou movimentos estéticos, regimes políticos e revoluções tecnológicas, Bernardet era uma espécie de ponte viva entre o passado e o futuro do audiovisual nacional.


Da Bélgica para o Brasil: uma trajetória de amor ao país que escolheu

Jean-Claude Bernardet nasceu em Charleroi, na Bélgica, em 1936, e chegou ao Brasil ainda jovem, onde se naturalizou brasileiro. Foi na nova pátria que descobriu sua paixão pelas imagens e pela crítica — e onde fez do cinema uma lente para entender a cultura, a política e a sociedade.


Nos anos 1960, tornou-se um dos fundadores da Universidade de Brasília (UnB), onde formou gerações de cineastas e pesquisadores. Também foi um dos principais nomes ligados ao Cinema Novo, movimento que buscou romper com os padrões importados de Hollywood e criar uma estética própria, profundamente enraizada na realidade brasileira.

Ao lado de nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Paulo Emílio Salles Gomes, Bernardet ajudou a consolidar o pensamento crítico sobre o cinema feito no país — e, sobretudo, a tratá-lo como um objeto digno de estudo sério.


Mais do que um teórico: um provocador inquieto

Bernardet era conhecido por sua lucidez, mas também por sua inquietação constante. Seus livros, como "Brasil em Tempo de Cinema" e "Cineastas e Imagens do Povo", não apenas analisavam a produção nacional, mas desafiavam o leitor e os próprios cineastas a pensar sobre quem estava sendo representado nas telas — e por quê.


Ao longo de sua carreira, Bernardet passou também pela prática cinematográfica. Atuou como roteirista, diretor e até como ator, participando de filmes de Andrea Tonacci, Carlos Reichenbach e Rodrigo Siqueira, sempre com um olhar atento ao poder da imagem e à ética do retrato.


Para ele, o cinema era uma ferramenta de pensamento, mas também de ação política. Em entrevistas, dizia que o cinema não deveria confortar — mas incomodar, questionar, provocar.


Um mestre para além da sala de aula

Nos corredores da universidade e nos seminários de cinema pelo país, Bernardet era mais do que uma autoridade intelectual: era um mestre generoso. Conhecido por sua disposição em dialogar com novas gerações, apoiou jovens realizadores e pesquisadores mesmo em momentos de adversidade política ou financeira para o setor cultural.


Jean-Claude não era só um acadêmico — ele era parte viva do cinema brasileiro, sempre nos fazendo pensar, mesmo quando era incômodo ouvir”, declarou em nota a diretora e ex-aluna Anna Muylaert.


Repercussão e homenagens

A morte de Bernardet causou forte comoção entre críticos, cineastas, estudantes e amantes da cultura. Nas redes sociais, diversos nomes do audiovisual prestaram homenagens, destacando sua importância como formador de pensamento e guardião da memória do cinema brasileiro.


A Cinemateca Brasileira divulgou nota lamentando a perda e destacou que “sem Bernardet, o cinema brasileiro teria menos espelho e menos horizonte”. O Ministério da Cultura também prestou solidariedade, lembrando sua contribuição histórica para o ensino, a pesquisa e a prática cinematográfica.


Um legado que segue em cada filme pensado

Jean-Claude Bernardet nos deixa com uma obra vasta, viva e relevante. Seus livros seguem sendo referências obrigatórias para quem deseja entender o cinema brasileiro — e, por extensão, o próprio Brasil.


Sua ausência será sentida, mas sua presença continuará ressoando em salas de aula, cineclubes, mostras e festivais. Em cada debate sobre representação, em cada questionamento sobre as imagens que consumimos e produzimos, haverá um pouco do pensamento inquieto de Bernardet.


Ele partiu, mas o seu cinema — aquele que pensa, provoca e transforma — permanece.

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